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ELIO GASPARI
A pedra de Alckmin não fez onda, afundou
O único efeito produzido pela pedra de Alckmin no lago de Pindorama foi o afogamento da miragem do candidato
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OUTRO DIA LULA DISSE que a sociedade brasileira superou o "preconceito dos que moram no andar de baixo": "Não é mais a classe média que detém o voto da empregada doméstica e do porteiro". As últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope mostraram que o buraco pode estar muito
mais acima. Nosso Guia está embolado
com Alckmin no eleitorado com nível
superior de instrução (34% x 36% no
Datafolha e 34% x 28% no Ibope) e nas
famílias com renda acima de R$ 3.500
(39% x 33% e 36% x 31%).
A maldição elitista do tucanato, segundo a qual o companheiro seria reeleito pela "massa dos não-informados"
aliada aos "menos escolarizados" faz
água. O empate no andar de cima pode
resultar de uma correnteza, com o andar de baixo puxando o de cima, ou de
uma enchente, conseqüência do naufrágio da candidatura de Alckmin. Nos
dois casos, vai ao brejo a idéia da reeleição, pela vontade de pobres ignorantes,
de um presidente ruinoso que teve 40
malfeitores à sua volta. É bom que isso
aconteça, para que seus adversários entendam que ele botou o andar de baixo
na pauta da política nacional. Quem
quiser enfrentá-lo deverá se livrar de
seus próprios malfeitores e conversar
direito com "os não-informados" e
"menos escolarizados".
O "preconceito dos que moram no
andar de baixo" levou o abolicionista
Joaquim Nabuco ao desencanto ao ser
derrotado na eleição de 1886. Ele pedira o voto a um negro e ouvira que "prometi votar nos conservadores". Nabuco viu nessa conduta "um remanescente da alma escrava". A reeleição de Lula
parece assegurada pelo apoio maciço
que recebe no andar de baixo, livre das
almas penadas. Na faixa de renda familiar inferior a R$ 350, a pancadaria é de
56% a 21%. As pesquisas indicam que
não se está indo para um resultado que
desenhe um país dividido. Além disso, a
distância que separa Lula de Alckmin
não se repete nas disputas estaduais.
A transposição dos fenômenos físicos para a análise política é coisa perigosa. Se a água ferve a 100 graus, a choldra rebela-se quando a temperatura
política sobe acima de determinado
ponto. É? Como se explica que em junho de 1968 houve a passeata dos Cem
Mil e em dezembro ninguém saiu de
casa quando foi editado o AI-5? Noutra
construção, a opinião pública move-se
como a água de um lago plácido onde se
joga uma pedra, propagando as visões
do centro para a periferia. O único efeito físico produzido pela pedra de Alckmin no lago de Pindorama foi o afogamento da miragem do candidato. Para
o bem de todos, as ondas que vieram do
centro, saíram da periferia também. As
águas do lago são revoltas. Joaquim
Nabuco adoraria saber disso.
O Conselheiro vive e vota em Canudos
O historiador Marco Villa
tem uma velha dúvida a respeito da população de Canudos,
aquela fundada por Antônio
Conselheiro e destruída em
1897. Apesar do cânone segundo o qual haveria no arraial até
30 mil pessoas, Villa acha que
elas nunca passaram de 10 mil.
Agora, o professor está assombrado por uma nova surpresa
demográfica de Canudos.
Em 2001 município baiano
tinha 13.760 habitantes e em
2004 teve 10.516 eleitores. A
relação eleitor/habitante em
Canudos é de 76,4%, bem acima dos 67,3% da estatística
nacional.
É possível que Antônio
Conselheiro, João Abade e a
turma do arraial do século 19
esteja alistada no 21. A numerologia eleitoral de 2006 informa que a cidade tem 823
eleitores com idade entre 60 e
69 anos. No censo de 2000 o
município tinha apenas 623
habitantes nessa faixa etária.
Deu-se a profecia atribuída
ao Conselheiro: virá um dia
em que haverá "muitos chapéus e poucas cabeças".
A chapelaria divide-se entre
os caciques Zito (PSDB) e Vavá (PFL).
Fala, senador
Se o senador Ney Suassuna
contar o que sabe, as confissões
de Roberto Jefferson virarão
memórias de petequeiro. Suassuna conhece a bolsa da Viúva.
É político na Paraíba, empresário no Rio e foi ministro da Integração Nacional em Brasília.
Se isso fosse pouco, presidiu as
comissões de Assuntos Econômicos do Senado e do Orçamento do Congresso. Se explodir, a bomba Suassuna fará
mais estragos na trinca PMDB-PFL-PSDB do que no PT.
Harry Lembo
Para o registro da campanha
presidencial de 2002:
Cláudio Lembo é muito menos ingênuo do que se pensa. A
melhor explicação para o resguardo que assumiu na campanha de Geraldo Alckmin está na
distância que o doutor manteve
em relação a ele enquanto foi
governador de São Paulo.
A turma que tratava Lembo
como maçaneta pagou o preço
que o vice Harry Truman cobrou aos colaboradores de
Franklin Roosevelt que não o
viam quando passavam por ele.
Nosso rei
Lula e sua comitiva cultivam
uma estranha relação com o
IBGE. Festejam os bons números e, diante dos maus, duvidam da metodologia do instituto. Foi assim com a pesquisa da
obesidade, com o PIB e com o
último índice do desemprego.
O IBGE deveria imprimir
uns santinhos com o retrato do
rei Faiçal, da Arábia Saudita
(1903-1975), para distribuição
em Brasília. Em 1969 o grande
monarca patrocinou o primeiro censo demográfico de seu
deserto. Quando vieram os números, achou pouco e mandou
dobrá-los. Assim, a Arábia Saudita ficou com oito milhões de
habitantes.
O 11/9, num livraço
Saiu um livraço nos Estados Unidos. É "The Looming
Tower", do jornalista Lawrence Wright ("A torre luminosa - Al-Qaeda e o caminho para o 11 de Setembro",
US$ 16,77 na Amazon, fora o
frete).
Tem três qualidades. Conta a construção do pensamento radical islâmico desde
os anos 50, a vida de Osama
bin Laden (milionário coisa
nenhuma, em 1996 saiu do
Sudão sem um ceitil e passou
fome no Afeganistão) e mostra a incompetência corporativista dos serviços de inteligência americana. Os computadores dos agentes do
FBI eram sucata. Wright
conta o calvário do agente
John O'Neill, filho de motoristas de táxi , que caçou obsessivamente o terrorista e
no dia 11 de setembro saiu de
casa para ir trabalhar.
Com 380 páginas, o livro
começa a falar no atentado
de 11 de setembro nas últimas 80. Como se sabe, o
grampo global da National
Security Agency captou no
final de 1999 os preparativos
da reunião da Al-Qaeda que
concebeu o ataque. Em janeiro de 2000, a CIA recebeu
fotografias de um encontro
da quadrilha. Nenhuma dessas informações foi passada
adiante. Dois dos terroristas
que seqüestraram quatro
aviões no 11 de setembro tinham sido plotados pelo menos 24 vezes pelos serviços
de segurança. Um deles estava na foto guardada na CIA.
John O'Neill deixou o FBI
no dia 22 de agosto e assumiu
a chefia da segurança do
World Trade Center. Foi visto na rua depois dos choques
dos aviões. Seu corpo foi encontrado nos escombros.
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