|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmara "segura" há um ano emenda contra voto secreto
Aprovado em 1º turno em 2006, projeto espera 2ª votação para seguir ao Senado
Voto secreto é o principal trunfo de Renan, cuja cassação será votada por senadores nesta quarta em sessão e votação fechadas
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal trunfo que Renan
Calheiros (PMDB-AL) conta
para evitar a cassação na próxima quarta-feira, o voto secreto,
sobrevive até hoje no Congresso graças a uma "mão amiga" da
Câmara, que paralisou há um
ano a tramitação da emenda à
Constituição que torna abertas
todas as votações.
Na última quarta-feira foi
aniversário de um ano da aprovação (383 votos a zero) em primeiro turno, no plenário da Câmara, dessa emenda.
Na tarde em que transcorreu
a votação -5 de setembro de
2006, cerca de um mês antes
das eleições e pouco mais de
três meses depois de a Casa absolver o 11º acusado de integrar
o mensalão-, os microfones do
plenário registraram uma profusão de autocongratulações e
presságios como "este é potencialmente um dia histórico" e
"iniciamos o resgate do Congresso Nacional".
O problema é que passada a
euforia -e as eleições- pouca
gente se preocupou em articular de verdade a burocrática votação em segundo turno, medida necessária para que a emenda siga para votação no Senado.
É raríssimo um intervalo entre os dois turnos de votação de
emendas. Normalmente, o segundo turno é uma medida
protocolar, votada sem debates. As emendas votadas desde
2003 tiveram, em média, 27
dias de intervalo entre o primeiro e o segundo turnos.
"Apesar de ter sido colocada
por mim várias vezes na pauta
de votações, no colégio de líderes a emenda não obtém consenso. Coloquei várias vezes,
está na pauta hoje, e não tem
acordo entre os líderes", disse,
na quarta, Arlindo Chinaglia
(PT-SP), que listou a aprovação
da emenda como compromisso
em sua vitoriosa campanha à
presidência da Casa.
"Ela pode ser votada sem
problema, é só uma questão de
prioridades", se limitou a dizer
o líder do governo na Casa, José
Múcio Monteiro (PTB-PE).
"Toda reunião de líderes partidários eu levanto o tema. É o
meu mantra, a minha cantilena
enfadonha. Geralmente tenho
o apoio do PPS e, vez por outra,
para fazer média, de algum petista. E é só. (...) Essa legislatura
já começou com vários escândalos, aí botaram uma pedra
sobre esse assunto", diz Chico
Alencar (PSOL-RJ).
A "falta de consenso" de que
fala Chinaglia não deu o ar da
graça na sessão de setembro do
ano passado. Ao contrário.
"É importante vir à tribuna
hoje para registrar que este é
um dia potencialmente histórico, em que o Congresso brasileiro interrompe a sua marcha
para a autodestruição", registrou Fernando Gabeira (PV-RJ). Autor do projeto que iniciou a tramitação, o hoje ex-deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP) comemorava:
"Quando apresentamos a proposta, disseram-nos que aquilo
era um sonho, que jamais aconteceria. E hoje nós vemos que,
graças ao trabalho de vários
companheiros que aqui estão, o
povo clama nas ruas pelo voto
aberto. Começamos uma nova
era no Parlamento brasileiro".
O relator do projeto, José
Eduardo Cardozo (PT-SP),
afirmava que a emenda era
"uma das mais importantes decisões, se não a mais importante" daquela legislatura.
"Devemos comemorar o fim,
o enterro do voto secreto, que
propiciava o acordão, a pizza e a
absolvição de corruptos, indecentes e indecorosos, de falsos
parlamentares que se serviam
do mandato única e exclusivamente para fazer negócio.
Aplaudamos o fim do voto secreto", arrematou Raul Jungmann (PPS-PE).
Houve algumas intervenções
destoantes, como a de Eduardo
Valverde (PT-RO): "Será que os
discursos favoráveis ao voto
aberto são realmente favoráveis à total transparência da
Casa ou são somente para dar
satisfação à opinião pública, devido ao momento eleitoral?".
"Esta não é uma tarde de vitória. (...) Possivelmente não teremos todos os votos necessários
para sacramentar o voto aberto", disse a então deputada Maninha (PSOL-DF).
Apesar disso, o clima atingiu
o auge com os entusiasmados
aplausos ao anúncio -que não
dizia toda a verdade- do presidente da Câmara na época, Aldo Rebelo (PC do B-SP). "Por
383 votos favoráveis, nenhum
voto contrário e 4 abstenções,
está aprovado o voto aberto na
Câmara dos Deputados para todas as decisões da Casa."
A Folha apurou que vez ou
outra a lembrança de que falta
votar o segundo turno é ressaltada na reunião de líderes partidários, mas que rapidamente
se muda o assunto. Muitos deputados reclamam que poderiam ficar em uma situação
constrangedora caso votassem
pela cassação de um colega
que, no final, fosse absolvido.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Saiba mais: Cassação prevê voto secreto e sessão fechada Índice
|