São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Chuva muda eleição em cidade do semi-árido

Em Tauá (CE), campanhas de candidatos a prefeito têm nova abordagem e quase ignoram o tema da seca

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A TAUÁ (CE)

Quase sempre em situação de emergência por conta da seca, o município cearense de Tauá vive uma campanha eleitoral atípica. O motivo não está apenas na até então impensável coligação dos históricos e ferrenhos adversários locais, PMDB e PSDB, mas principalmente pelas chuvas que atingiram o município no início do ano e modificaram a abordagem entre eleitor e candidato.
"Quando a estiagem está complicada, a pidança [sic] é muito forte. O eleitor só pede comida, água, carro-pipa, cisterna, frente de trabalho. Com as chuvas deste ano, o eleitor ficou mais forte, mais independente, e pode cobrar coisas mais estruturantes, como créditos, tratores e açudes mais fortes", afirma Neuma de Souza, 29, diretora do sindicato dos trabalhadores rurais.
As chuvas deste ano, concentradas entre janeiro e maio, foram, em volume d'água, as maiores registradas no município desde 1989. No semi-árido, o período de chuvas é chamado de "inverno". Nos últimos três anos, Tauá foi o município do país que mais vezes teve a situação de emergência decretada por conta da seca. Foram nove decretos reconhecidos pelo governo federal no período.
"Mudou o perfil desse contato [entre eleitor e candidato]. [...] Com a chuva, [as famílias] têm o que comer. Isso não acaba, mas dificulta o aliciamento do eleitor", diz o candidato a prefeito Ronaldo César (PDT).
O outro candidato é o advogado Odilon Aguiar (PMDB), primo do presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Domingos Filho, este casado com a atual prefeita do município, Patrícia Aguiar. Odilon tem o apoio do PSDB e do PT, e usa as fotos do presidente Lula e do governador Cid Gomes (PSB) em sua campanha.
Nas rádios, as campanhas quase ignoram o tema da seca, enraizado no dia-a-dia dos moradores locais e amenizado com as chuvas deste ano.
Tauá é o segundo maior município em extensão territorial do Ceará, com 3.940 quilômetros quadrados, equivalente a pouco mais do que o dobro da área da capital paulista.
Os reservatórios locais estão cheios d'água e devem permanecer dois ou três anos nesse nível. Apesar disso, sobram problemas, como a falta de tubulação para distribuir essa água na zona rural e a alta demanda por cisternas.
O lavrador Osvaldo Freitas, 29, por exemplo, caminha 5 km, toda semana, para chegar ao açude mais próximo e pegar água para a família.


NA INTERNET
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br

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