|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vou receber aviões "de graça", ironiza Lula
Presidente brinca sobre confusão acerca da compra dos caças; Marco Aurélio diz que EUA já vetaram venda de aviões em 2006
Assessor do presidente diz que a promessa da França para transferir tecnologia ainda não foi detalhada, mas vê "compromisso firme"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou ontem a
confusão que ele próprio criou
sobre o processo de compra de
caças pelo Brasil: "Daqui a pouco eu vou receber de graça",
disse sobre a disputa entre empresas da França, dos EUA e da
Suécia, acirrada depois das idas
e vindas do governo brasileiro.
Como a principal alegação
brasileira a favor dos caças Rafale, da Dassault, é que a França
transfere tecnologia, a Embaixada dos EUA soltou nota reafirmando que o país aprovou "a
transferência de toda a tecnologia necessária", caso o Brasil
opte pelo F-18 da Boeing.
Horas depois da declaração
de Lula, seu assessor para assuntos internacionais, Marco
Aurélio Garcia, mostrou-se cético quanto à proposta americana: "Transferência de tecnologia é um termo genérico. Nós
queremos saber as garantias
efetivas da transferência de
tecnologia. Depois queremos
saber se não vamos sofrer nenhum tipo de restrição como
na venda dos Super Tucanos".
Ele se referia ao veto dos
EUA à venda de 24 aviões da
Embraer à Venezuela, em janeiro de 2006, sob a alegação
de que o avião brasileiro usa
tecnologia norte-americana:
"Este antecedente não é bom".
Ele reservou outro tratamento à França: "Temos boa
parceria com os franceses, que
se refletiu na questão dos submarinos e helicópteros. Aí está
assegurada efetiva transferência de tecnologia e reserva de
mercado de helicópteros para a
América Latina e África".
Mais cedo, porém, Marco Aurélio havia dito que a promessa
de transferência de tecnologia
por parte da França ainda não
foi detalhada: "O detalhamento
é uma coisa que faz parte da negociação. Mas há um compromisso firme, de uma transferência sem precedentes".
No domingo, o presidente
francês, Nicolas Sarkozy, entregou carta a Lula, na qual, segundo Marco Aurélio, ele "fixa
determinados compromissos
do governo francês", entre eles
a transferência de tecnologia.
Questionado sobre a diferença entre o que foi dito por Sarkozy e o que foi dito pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que também enviou carta ao país sobre transferência de tecnologia, Marco
Aurélio disse: "A diferença é
que pode haver e tem havido
frequentemente obstáculos à
plena utilização dos equipamentos por parte dos EUA".
Marco Aurélio negou que Lula tenha "passado por cima da
Aeronáutica" ao anunciar que o
Brasil decidira iniciar negociações com a França para a compra dos caças, dizendo que o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, participou da reunião de sábado à noite que selou a preferência pelo Rafale.
Nos bastidores, a Aeronáutica, que nem entregou ainda seu
relatório sobre os três concorrentes, reclamou do teor da nota divulgada no domingo. E Saito reuniu o Alto Comando da
Força para discutir a questão,
que levou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, na terça.
Por isso, e pelo fato de o
anúncio antecipado diminuir o
poder de barganha do Brasil
nas negociações com a França,
na noite do mesmo dia Jobim
divulgou nota dizendo que o
processo de seleção, "ainda não
encerrado, prosseguirá com
negociações junto aos três participantes". Ontem, Marco Aurélio disse que Jobim "simplesmente precisou uma impressão
que havia sido equivocadamente passada a alguns setores, de
que já havia sido fechado o
acordo": "O que se disse é que
não foi fechado o processo de
negociação com os demais".
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Saiba mais: Compra do caça exige conciliação de interesses Índice
|