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"Venda de avião de combate é ato político", afirma presidente da Dassault
DO "MONDE"
Na manhã após a assinatura,
no dia 7, do compromisso assumido pelo Brasil de adquirir 36
caças Rafale, Charles Edelstenne, presidente da Dassault
Aviation, falou sobre as discussões que levaram a essa escolha, que proporcionou à empresa francesa de aviões sua primeira vitória em exportações.
Os aviões concorrentes, o F-18
Super Hornet, da Boeing, e o
Gripen, da empresa sueca Saab,
foram descartados. As negociações para concretizar o acordo
começam nesta semana.
PERGUNTA - O sr. acaba de receber
a promessa de compra de 36 aviões
de combate. Qual é sua reação?
CHARLES EDELSTENNE - Estou muito satisfeito, é claro. O que
aconteceu neste fim de semana
ilustra algo que venho dizendo
há anos: vendas de aviões de
combate são atos políticos. São
os políticos que vendem. O industrial produz um avião e tem
que aceitar a melhor oferta
possível. Mas foi Nicolas Sarkozy quem vendeu o Rafale,
não nós. O sucesso é dele, graças a decisões políticas que ele
tomou [parceria estratégica entre França e Brasil] e a relações
de proximidade e confiança
que soube criar com seu colega
brasileiro, o presidente Lula.
PERGUNTA - Seus fracassos anteriores podem, então, ser atribuídos
unicamente à ausência de engajamento do poder público francês?
EDELSTENNE - É preciso definir
nosso mercado para aviões de
combate: são países que não
querem ou não podem comprar
dos EUA ou que querem dispor
de uma dupla fonte de fornecimento. As três primeiras concorrências das quais participamos não se enquadravam nessa
categoria: na Holanda em 2001,
na Coreia do Sul em 2002 e em
Cingapura em 2005, fizemos a
aposta de Pascal ("se ganhar,
ganhará tudo; se perder, não
perderá nada"), tentando penetrar em mercados reservados
aos EUA. Não foi a qualidade de
nosso avião que foi questionada, foi a relação político-diplomática que teve precedência.
No Marrocos em 2007, foi a
equipe francesa que funcionou
mal, e os americanos se beneficiaram disso. Entretanto, os
marroquinos queriam comprar
o produto francês. As lições
desse incidente levaram à criação do "war room" no Eliseu
(uma célula encarregada de
coordenar e promover as vendas de armas ao exterior) e ao
engajamento do presidente.
PERGUNTA - Antes de ir a Brasília o
sr. não tinha a certeza de obter o
contrato. Quando isso foi decidido?
EDELSTENNE - O momento decisivo aconteceu na noite de domingo, 6, para a segunda, 7. Na
saída do jantar com Lula, Sarkozy nos disse: "Ainda há algumas questões a esclarecer; vocês têm até amanhã para resolver tudo". Com as equipes do
Eliseu e nossos parceiros brasileiros, passamos parte da noite
negociando para resolver tudo
o que precisava ser resolvido.
PERGUNTA - Quais são os pontos
principais do acordo? É verdade que
vocês vão ceder os planos do Rafale?
EDELSTENNE - O Brasil já tem
uma indústria aeronáutica. Os
brasileiros não precisam de
nossos planos para fabricar
aviões. Mas querem adquirir os
conhecimentos dos "sistemas"
(tudo o que diz respeito aos materiais eletrônicos no avião),
para dominar a evolução de seu
Rafale e fabricar seu próprio
avião de transporte militar.
Vamos lhes fornecer essas
tecnologias e acompanhá-los
nos desenvolvimentos futuros.
PERGUNTA - Vocês vão transferir a
produção para o Brasil?
EDELSTENNE - Não vamos criar
uma unidade de fabricação local. Os brasileiros pedem sobretudo transferência de tecnologia. Mesmo assim, é evidente que, no longo prazo,
aviões Rafale serão produzidos
em suas fábricas. Este acordo
tem um impacto positivo em
termos de empregos na França.
Para a indústria aeronáutica
francesa, representa mais ou
menos 6.000 empregos adicionais durante quatro anos, e depois, entre 1.500 e 2.000, durante 25 a 30 anos.
PERGUNTA - Vocês não correm o
risco de criar um concorrente?
EDELSTENNE - O tempo de vida
de um avião de combate é de
cerca de 40 anos. Os brasileiros
terão Rafales que poderão ser
entregues em três anos. Portanto, não terão necessidade de
criar um avião concorrente.
PERGUNTA - Americanos e suecos
foram brutalmente descartados da
concorrência, que deveria chegar ao
fim em 23 de outubro. O sr. não teme reações da parte deles?
EDELSTENNE - Essa escolha foi
feita pelas autoridades brasileiras. Fomos convocados nesta
semana para dar início às reuniões. O objetivo é concluí-las
em entre seis e nove meses.
Tradução de Clara Allain
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