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CHOQUE ENTRE PODERES
Para ele, presidente confunde lado pessoal com cargo
Corrêa vê "certa antipatia" de Lula
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Maurício Corrêa, disse que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva confunde
uma "certa antipatia" que possa
ter pelo magistrado com a "obrigação institucional" do cargo.
"O presidente da República levou a ferro e fogo uma idiossincrasia pessoal com relação ao presidente do STF, a ponto de não
comparecer em uma data da importância dos 175 anos de funcionamento de um dos Poderes da
República [do STF, no mês passado], de não me cumprimentar
quando eu cumpria meu dever cívico na parada de Sete de Setembro. Fatos dessa natureza mostram confusão entre uma certa
antipatia que se possa ter com
uma pessoa e sua obrigação institucional", disse.
Corrêa esteve em Porto Alegre
em um encontro de presidentes
dos Tribunais de Justiça para debater a reforma do Judiciário.
A respeito de declarações críticas ao Judiciário brasileiro feitas
anteontem pela relatora da ONU
para execuções sumárias, Asma
Jahangir, o presidente do STF aumentou o tom de sua resposta.
"É uma intromissão indébita,
inadequada e infeliz de uma pessoa que não conhece o funcionamento do Judiciário no Brasil."
Sobre esse mesmo tema e voltando a atacar o Executivo, Corrêa disse: "Isso [as críticas da
ONU] é grave, mas não é tão grave. Mais grave é o ministro da Justiça ter comentado o que ela falou
em frente ao presidente da República, o que supõe que o presidente está inteiramente a favor."
"A impunidade não pode ser
atribuída ao Judiciário. O Judiciário, sem dúvida, tem participação
nisso na medida em que sua estrutura é pequena para absorver o
volume exagerado de questões
que vêm ao seu conhecimento",
disse o presidente do STF.
Outro ministro do STF que reagiu à sugestão da relatora da ONU
foi Sepúlveda Pertence. Ele disse
que a impunidade no país é decorrente da ineficiência das polícias. "A impunidade começa nas
deficiências notórias dos organismos policiais."
A Polícia Federal é vinculada ao
Ministério da Justiça. As polícias
civil e militar são subordinadas
aos governos estaduais. A assessoria do ministro Márcio Thomaz
Bastos disse que o governo reconhece as deficiências da PF e que
tem procurado aperfeiçoá-la.
Pertence criticou a eventual interferência da ONU na Justiça
brasileira. "Inspeção é uma palavra infeliz. Já observações e subsídios serão muito bons."
Lula disse ontem, por meio do
porta-voz, André Singer, que "o
povo brasileiro já conhece bem as
virtudes e as deficiências do Judiciário" e que "não é nova a idéia
de que o Judiciário brasileiro precisa de uma reforma". Para Lula,
o fato de a relatora da ONU dizer
que gostaria de enviar alguém para conhecer melhor o Judiciário
brasileiro "deveria ser visto como
uma oportunidade de mostrar essas virtudes e deficiências".
A AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) divulgou nota
de repúdio ao que denominou
"ingerência" de organismos internacionais no Judiciário. A Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro também
divulgou nota em que afirma que
a relatora prestou "declarações
equivocadas" e que sua "crítica
infundada é destrutiva".
(LÉO GERCHMANN e SILVANA DE FREITAS)
Colaborou a Reportagem Local
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