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CRISE EM GESTAÇÃO
Depois de Lula ter anunciado fim do sacrifício, ministro diz que período de dificuldades ainda não terminou
Dirceu prevê "vacas magras" por mais 9 meses
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva anunciar o fim das
"vacas magras", o ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu, adotou
um discurso mais conservador e
disse que as "dificuldades" por
que o país passa vão durar, no mínimo, mais nove meses.
"Se queremos um desenvolvimento sustentado de 5%, 7%, durante 10, 15, 20 anos, vamos passar
por essas dificuldades que estamos passando. Não são só nove
meses, não. É no mínimo o dobro.
Sempre falei de 6 a 18 meses. Tem
que falar isso com franqueza para
a sociedade", disse ele ontem, durante uma reunião com a bancada
do Nordeste na Câmara.
O ministro se referia às limitações de gastos do Orçamento
(contingenciamento), aos juros
altos e ao superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros da dívida) de 4,25% do
PIB (Produto Interno Bruto).
"Nós queríamos governar, estamos governando, temos que governar. Isso significa fazer contingenciamento de R$ 14 bilhões, elevar juros a 26,5%, ter superávit de
4,25% e vai para o ano que vem",
afirmou o ministro da Casa Civil.
Enquanto os deputados pediam
investimentos para a região Nordeste, Dirceu insistia na escassez
de recursos do governo federal.
"Emendas [liberação de recursos
do Orçamento deste ano] e investimentos. A situação é muito difícil. Não vou pintar um cenário
cor-de-rosa. Ainda estamos liberando emendas de 2002, e já estamos no dia 9 de outubro. Isso é
fruto do contingenciamento e do
superávit", afirmou o ministro.
Procurando passar também um
pouco de otimismo, José Dirceu
disse, ao final de seu discurso, "ter
certeza" de que o próximo ano será "bom" e 2005, "melhor ainda".
Segundo ele, serão R$ 7 bilhões
para investimentos no ano que
vem. "Esse ano não sei se chega a
R$ 3,5 bilhões, R$ 4 bilhões. Às vezes acho que é quase um milagre
ter chegado até aqui." Apesar de
reconhecer a necessidade de reduzir os juros para o país crescer,
ele afirmou que só isso "não resolve o problema da economia brasileira, não vamos nos iludir".
Na semana passada, o presidente Lula, em entrevista a emissoras
de rádio, disse que "acabou o
tempo de vacas magras" e que
"todo o sacrifício que tinha que
ser feito já foi feito". A expectativa
do governo é que a economia esteja crescendo no último trimestre deste ano a um ritmo de 3% do
PIB, depois de um período de
contração em boa parte do ano.
Chuva de mesas
O chefe da Casa Civil falou também da situação precária dos ministérios. Ministros como Cristovam Buarque (Educação) e Anderson Adauto (Transportes) estão entre os que mais reclamam
da falta de verbas. Além dos ministérios, órgãos como a Polícia
Federal e o Itamaraty também enfrentam falta de recursos.
"Além da Educação e da Saúde,
que estão com liberação normal
de emendas e investimentos, a situação dos outros ministérios é
muito difícil. Para liberar R$ 20
milhões, R$ 30 milhões de um Orçamento de R$ 405 bilhões, é uma
guerra civil, é foice para tudo
quanto é lado, voa mesa e cadeira", afirmou Dirceu.
Apesar das alegações do ministro, os parlamentares insistiram
na liberação de investimentos para o Nordeste. "Nossa região tem
pressa", disse Roberto Pessoa
(PFL-CE). Saindo um pouco do
discurso de dificuldades financeiras e estruturais brasileiras, Dirceu disse que "não somos uma
nação, um país, somos uma civilização nos trópicos". Apesar do
contraponto otimista, reconheceu, na sequência, que "somos
profundamente dependentes".
O ministro aproveitou o encontro com os deputados para pedir a
aprovação da reforma tributária,
que está em tramitação no Senado, mas voltará para a Câmara devido a alterações no texto. Também pediu apoio para a previdenciária, que tramita no Senado.
"Precisamos virar a página das
reformas e partir para outra agenda. O Brasil precisa de emprego,
investimento em saneamento e
habitação, resolver o grave problema da reforma agrária, resolver o problema da segurança pública, que está relacionado a investimentos em educação", disse.
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