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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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CRISE EM GESTAÇÃO

Depois de Lula ter anunciado fim do sacrifício, ministro diz que período de dificuldades ainda não terminou

Dirceu prevê "vacas magras" por mais 9 meses

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar o fim das "vacas magras", o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, adotou um discurso mais conservador e disse que as "dificuldades" por que o país passa vão durar, no mínimo, mais nove meses.
"Se queremos um desenvolvimento sustentado de 5%, 7%, durante 10, 15, 20 anos, vamos passar por essas dificuldades que estamos passando. Não são só nove meses, não. É no mínimo o dobro. Sempre falei de 6 a 18 meses. Tem que falar isso com franqueza para a sociedade", disse ele ontem, durante uma reunião com a bancada do Nordeste na Câmara.
O ministro se referia às limitações de gastos do Orçamento (contingenciamento), aos juros altos e ao superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros da dívida) de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
"Nós queríamos governar, estamos governando, temos que governar. Isso significa fazer contingenciamento de R$ 14 bilhões, elevar juros a 26,5%, ter superávit de 4,25% e vai para o ano que vem", afirmou o ministro da Casa Civil.
Enquanto os deputados pediam investimentos para a região Nordeste, Dirceu insistia na escassez de recursos do governo federal. "Emendas [liberação de recursos do Orçamento deste ano] e investimentos. A situação é muito difícil. Não vou pintar um cenário cor-de-rosa. Ainda estamos liberando emendas de 2002, e já estamos no dia 9 de outubro. Isso é fruto do contingenciamento e do superávit", afirmou o ministro.
Procurando passar também um pouco de otimismo, José Dirceu disse, ao final de seu discurso, "ter certeza" de que o próximo ano será "bom" e 2005, "melhor ainda".
Segundo ele, serão R$ 7 bilhões para investimentos no ano que vem. "Esse ano não sei se chega a R$ 3,5 bilhões, R$ 4 bilhões. Às vezes acho que é quase um milagre ter chegado até aqui." Apesar de reconhecer a necessidade de reduzir os juros para o país crescer, ele afirmou que só isso "não resolve o problema da economia brasileira, não vamos nos iludir".
Na semana passada, o presidente Lula, em entrevista a emissoras de rádio, disse que "acabou o tempo de vacas magras" e que "todo o sacrifício que tinha que ser feito já foi feito". A expectativa do governo é que a economia esteja crescendo no último trimestre deste ano a um ritmo de 3% do PIB, depois de um período de contração em boa parte do ano.

Chuva de mesas
O chefe da Casa Civil falou também da situação precária dos ministérios. Ministros como Cristovam Buarque (Educação) e Anderson Adauto (Transportes) estão entre os que mais reclamam da falta de verbas. Além dos ministérios, órgãos como a Polícia Federal e o Itamaraty também enfrentam falta de recursos.
"Além da Educação e da Saúde, que estão com liberação normal de emendas e investimentos, a situação dos outros ministérios é muito difícil. Para liberar R$ 20 milhões, R$ 30 milhões de um Orçamento de R$ 405 bilhões, é uma guerra civil, é foice para tudo quanto é lado, voa mesa e cadeira", afirmou Dirceu.
Apesar das alegações do ministro, os parlamentares insistiram na liberação de investimentos para o Nordeste. "Nossa região tem pressa", disse Roberto Pessoa (PFL-CE). Saindo um pouco do discurso de dificuldades financeiras e estruturais brasileiras, Dirceu disse que "não somos uma nação, um país, somos uma civilização nos trópicos". Apesar do contraponto otimista, reconheceu, na sequência, que "somos profundamente dependentes".
O ministro aproveitou o encontro com os deputados para pedir a aprovação da reforma tributária, que está em tramitação no Senado, mas voltará para a Câmara devido a alterações no texto. Também pediu apoio para a previdenciária, que tramita no Senado.
"Precisamos virar a página das reformas e partir para outra agenda. O Brasil precisa de emprego, investimento em saneamento e habitação, resolver o grave problema da reforma agrária, resolver o problema da segurança pública, que está relacionado a investimentos em educação", disse.


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