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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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CAMPO MINADO

40 soldados ajudarão em vistoria de área em que dois trabalhadores rurais e um segurança foram assassinados

PM pede reforço para apurar mortes em RO

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BURITIS (RO)

Com medo de entrar na fazenda onde dois trabalhadores rurais e um segurança foram assassinados na segunda-feira, a Polícia Militar de Buritis (RO) recuou e não enviou ontem, como havia planejado, um grupo de PMs para vistoriar a área. A operação deve ocorrer hoje, com a chegada de mais 40 soldados do COE (Companhia de Operações Especiais).
Os crimes ocorreram na fazenda Schumann, na cidade vizinha de Nova Mamoré. O local fica a 85 km de Buritis, que está a cerca de 400 km da capital Porto Velho.
Desde 2000, a PM contabiliza na região 30 mortes por conflitos de terra. Dez neste ano. "Todo mês está morrendo gente nessa área, que está se transformando numa nova Colômbia. Tem gente nos acampamentos preparada com táticas de guerrilha", disse o tenente da PM Alexandre Gonzaga.
Segundo o delegado que preside as investigações, Eliseu Muller, em vez de a polícia entrar na fazenda, seguiu ontem pela manhã ao local uma equipe de quatro policiais civis e dois peritos do IML (Instituto Médico Legal). Eles foram checar a cena do crime e voltaram no final da tarde a Buritis.
Por orientação da PM, a Agência Folha não foi à fazenda sem a presença dos policiais militares.
"Os sem-terra estão armados e nós não vamos [à fazenda Schumann] para evitar um conflito. O retrato é: para entrar na área tem que "pedir" autorização [aos sem-terra]", disse o delegado.
O grupo de 40 soldados chegará de Porto Velho para desarmar acampamentos em Buritis, Nova Mamoré e Campo Novo de Rondônia. Lá acampam há mais de três anos 1.500 famílias do projeto Jacinópolis, que tenta a regularização de assentamentos pelo Incra. Cerca de 400 famílias são lideradas pela LCP (Liga dos Camponeses Pobres). A liga é uma dissidência da LOC (Liga Operária Camponesa), que tem origem no MCC (Movimento Camponês de Corumbiara), com ações em Minas Gerais e Rondônia.

Suspeito
Os trabalhadores rurais mortos, segundo a polícia, não eram ligados a nenhum dos grupos. A polícia acredita que as mortes foram uma intimidação para que os sem-terra não avancem os limites da fazenda Schumann.
Segundo o Incra, as terras do madeireiro não estão regularizadas e são da União. De acordo com o delegado Muller, há indícios de que os assassinos sejam seguranças contratados pelo madeireiro Carlos Schumann. Ele nega envolvimento nos crimes.
"Eu descarto confronto entre sem-terra. Para mim, foram os seguranças da fazenda Schumann. Vou convocar o madeireiro para depor", disse o delegado, que ontem abriu o inquérito policial com base no primeiro depoimento, o do coordenador do projeto Jacinópolis, Samuel Dias Santos, 32.
Ao depor, Santos, disse que achou os corpos dos trabalhadores Devair Cordeiro Verbano, 52, de seu filho Evaldo Hilton Margoto Verbano, 26, e do segurança Rodrigo Steffani Rahagnani, 26, na manhã de terça-feira na estrada da fazenda Schumann. Os corpos foram enterrados anteontem.
Por volta das 19h de segunda-feira, segundo Santos, sem-terra do projeto Jacinópolis ouviram tiros na fazenda. Santos afirmou à Agência Folha que havia marcas no chão de que os corpos foram arrastados na estrada.
Santos contou que viu marcas de requintes de crueldade nos corpos dos trabalhadores.


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