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CAMPO MINADO
40 soldados ajudarão em vistoria de área em que dois trabalhadores rurais e um segurança foram assassinados
PM pede reforço para apurar mortes em RO
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BURITIS (RO)
Com medo de entrar na fazenda
onde dois trabalhadores rurais e
um segurança foram assassinados na segunda-feira, a Polícia
Militar de Buritis (RO) recuou e
não enviou ontem, como havia
planejado, um grupo de PMs para
vistoriar a área. A operação deve
ocorrer hoje, com a chegada de
mais 40 soldados do COE (Companhia de Operações Especiais).
Os crimes ocorreram na fazenda Schumann, na cidade vizinha
de Nova Mamoré. O local fica a 85
km de Buritis, que está a cerca de
400 km da capital Porto Velho.
Desde 2000, a PM contabiliza na
região 30 mortes por conflitos de
terra. Dez neste ano. "Todo mês
está morrendo gente nessa área,
que está se transformando numa
nova Colômbia. Tem gente nos
acampamentos preparada com
táticas de guerrilha", disse o tenente da PM Alexandre Gonzaga.
Segundo o delegado que preside
as investigações, Eliseu Muller,
em vez de a polícia entrar na fazenda, seguiu ontem pela manhã
ao local uma equipe de quatro policiais civis e dois peritos do IML
(Instituto Médico Legal). Eles foram checar a cena do crime e voltaram no final da tarde a Buritis.
Por orientação da PM, a Agência Folha não foi à fazenda sem a
presença dos policiais militares.
"Os sem-terra estão armados e
nós não vamos [à fazenda Schumann] para evitar um conflito. O
retrato é: para entrar na área tem
que "pedir" autorização [aos sem-terra]", disse o delegado.
O grupo de 40 soldados chegará
de Porto Velho para desarmar
acampamentos em Buritis, Nova
Mamoré e Campo Novo de Rondônia. Lá acampam há mais de
três anos 1.500 famílias do projeto
Jacinópolis, que tenta a regularização de assentamentos pelo Incra. Cerca de 400 famílias são lideradas pela LCP (Liga dos Camponeses Pobres). A liga é uma dissidência da LOC (Liga Operária
Camponesa), que tem origem no
MCC (Movimento Camponês de
Corumbiara), com ações em Minas Gerais e Rondônia.
Suspeito
Os trabalhadores rurais mortos,
segundo a polícia, não eram ligados a nenhum dos grupos. A polícia acredita que as mortes foram
uma intimidação para que os
sem-terra não avancem os limites
da fazenda Schumann.
Segundo o Incra, as terras do
madeireiro não estão regularizadas e são da União. De acordo
com o delegado Muller, há indícios de que os assassinos sejam seguranças contratados pelo madeireiro Carlos Schumann. Ele
nega envolvimento nos crimes.
"Eu descarto confronto entre
sem-terra. Para mim, foram os seguranças da fazenda Schumann.
Vou convocar o madeireiro para
depor", disse o delegado, que ontem abriu o inquérito policial com
base no primeiro depoimento, o
do coordenador do projeto Jacinópolis, Samuel Dias Santos, 32.
Ao depor, Santos, disse que
achou os corpos dos trabalhadores Devair Cordeiro Verbano, 52,
de seu filho Evaldo Hilton Margoto Verbano, 26, e do segurança
Rodrigo Steffani Rahagnani, 26,
na manhã de terça-feira na estrada da fazenda Schumann. Os corpos foram enterrados anteontem.
Por volta das 19h de segunda-feira, segundo Santos, sem-terra
do projeto Jacinópolis ouviram tiros na fazenda. Santos afirmou à
Agência Folha que havia marcas
no chão de que os corpos foram
arrastados na estrada.
Santos contou que viu marcas
de requintes de crueldade nos
corpos dos trabalhadores.
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