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JANIO DE FREITAS
Do debate à discussão
Alckmin apresentou-se como um misto de Lacerda e Collor: a agressividade do primeiro e a arrogância do último
SE O DEBATE Lula x Alckmin na
Bandeirantes levou alguém a
mover-se com sua preferência
de um para outro candidato, o imaginável é que se trate de um portador de hiperatividade, à espera sempre de um pretexto. As votações de
internet que aí estão, para sugerir
vencedor, não têm representatividade, expostas que são a mobilizações organizadas para amplificar determinar apoio. Não só votações de
sentido político, aliás, sujeitam-se
na internet às deformações de representatividade.
Não houve debate. Houve discussão. O novo modelito apresentado
por Geraldo Alckmin determinou o
rumo do confronto, não incluindo
nele nem uma só idéia ou proposta
sua para o eventual exercício da Presidência, nem permitindo que o adversário o fizesse, caso o desejasse
mesmo. O outro componente do
modelito teve menos conseqüências
para o eleitor ansioso por saber, afinal, um pouco do que pense o ex-governador de São Paulo. Mas não foi
menos impróprio para o que deveria
ser a confrontação de projetos para
o país.
Geraldo Alckmin, à revelia do que
até então aparentara, apresentou-se
como um misto de Carlos Lacerda e
Fernando Collor. O pior de ambos: a
agressividade compulsiva de Lacerda e a arrogância de Collor. A agressividade inquisitiva de Alckmin, até
para fazer perguntas insossas e que
mal conseguia concluir, não parecia
de Geraldo Alckmin, o imperturbável. A ostentação de uma superioridade humilhante lembrou muito
pouco, se chegou a lembrar, o Geraldo Alckmin até então apresentado
aos eleitores, e muito o Collor do debate com Lula.
O Geraldo Alckmin da Bandeirantes pode ter correspondido à cobrança de Fernando Henrique, que
expôs de público a sua nostalgia pela
ausência de Carlos Lacerda, não pelo brilho, mas pela agressividade.
Nunca foi a atitude adotada na carreira de Fernando Henrique, conhecedor de tudo o que convém à propulsão de uma carreira, e deixou Lacerda distante de tudo o que mais
quis.
Lula também não esteve à altura
da ocasião. Acima de outros possíveis motivos, por este: não poderia
estar. Não tinha saída. Caso recusasse, para falar de propostas, o rumo
inquisitorial dado por Alckmin já a
partir do primeiro instante do confronto, Lula seria acusado de fuga
aos temas incômodos. Aceito o rumo, para não se mostrar fugitivo, ficou condicionado à discussão em lugar de debate programático, supondo-se que o desejasse como o sugeriu mais de uma vez.
Caso as investigações não a respondam antes, continuará explorada a pergunta mais repetida por
Alckmin na discussão: "De onde
veio o dinheiro?" (do negócio com o
dossiê). Não é uma indagação-acusação honesta. Até agora não consta
nenhuma sugestão objetiva, nem
sugestão, de que Lula tenha algo a
ver com o negócio do dossiê ou, ao
menos, conhecimento dele -como
Roberto Jefferson lhe deu, em parte,
do mensalão.
Ao mérito
Fernando Gasparian deixou uma
história de bravura na luta contra a ditadura e contra a desnacionalização
do Brasil. Pagou preços altíssimos por
isso. Sem reclamar, porque sempre
pronto para o próximo passo na mesma direção.
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