São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Senadores acuam Renan e pedem saída; aliados calam

Presidente da Casa ouve 12 colegas discursarem em favor de seu afastamento

Peemedebista fica na situação mais complicada desde o início da crise, segundo avaliação de opositores e governistas

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na sessão pública mais tensa em quase cinco meses de crise no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), ouviu apelos de 12 colegas para que se afaste do cargo, bateu boca com outros três e passou a enfrentar uma quinta representação que pede sua cassação por quebra de decoro, assinada por PSDB e DEM. Foram duas horas de bombardeio contra Renan, em protesto orquestrado por 19 senadores de seis partidos -PSDB, DEM, PMDB, PSB, PT e PDT. A avaliação de opositores e governistas é que a situação do peemedebista nunca foi tão complicada, com perda significativa de apoio no PMDB e no PT.
Além de cobrar a saída de Renan, o grupo de senadores também fez um ultimato, em plenário, para que o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), indicasse o relator da terceira representação contra Renan -uso de "laranjas" para comprar rádios.
Também deu prazo até o dia 2 de novembro concluir todos os casos sob pena de obstrução generalizada, com o apoio de siglas da base. Caso isso ocorra, complicará a votação da emenda da CPMF (o chamado imposto do cheque).
A quinta representação, protocolada ontem, aponta que Renan abusou do poder de presidente do Senado em benefício próprio. O estopim é a denúncia de que ele teria mandado espionar os senador Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO).
"No caso em questão, temos ao menos em tese que aquele que mais deveria zelar pelas prerrogativas parlamentares age exatamente ao contrário, abusando das próprias para atentar contra seus pares", diz o texto da representação, que precisa do aval da Mesa Diretora para ir ao Conselho de Ética.
O embate entre Renan e senadores começou às 16h30, com um relato do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), de que ele também estaria sendo alvo de ameaças veladas sobre irregularidades no passado como parlamentar. Virgílio interpelou Renan: "Quero lhe falar, olhando olho no olho, que chegamos a uma situação que dela não dá para ir a lugar qualquer".
O painel do plenário registrava a presença de 56 senadores. Quando teve início o que a oposição chamou de "levante", havia 39 presentes. Também estavam no plenário os deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente do DEM, ACM Neto (DEM-BA), entre outros.
Nenhum senador saiu em defesa de Renan. Da sua tropa de choque, apenas Gilvam Borges (PMDB-AP) estava no plenário. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), ficou calado.

Isolado
O principal símbolo do isolamento de Renan foram as manifestações de Aloizio Mercadante (PT-SP), Eduardo Suplicy (PT-SP) e da líder do partido, Ideli Salvatti (SC), até então defensora de Renan. Dizendo falar por ela e não pela bancada, Ideli cobrou a demissão do assessor Francisco Escórcio, pivô da denúncia de arapongagem, e que ele ouvisse aos apelos para se licenciar -embora tenha ressalvado que é "direito" de Renan ficar no cargo. "Quero deixar claro que há um sentimento, sim, senador Renan, crescente para um melhor andamento dos trabalhos.
Não adianta querer tampar o sol com a peneira com relação ao sentimento da Casa", disse.
Após dizer que se absteve na votação do caso Mônica Veloso, Mercadante cobrou que Renan deixasse a cadeira. "O sentimento de cada um dos senadores é de que o melhor para esta Casa seria o afastamento. E esse é o sentimento amplamente majoritário neste plenário. Alguns, pela amizade, têm dificuldade em expressar isso."
Acuado, Renan tentou reagir, muitas vezes falando fora do microfone. Chegou a irritar os opositores quando disse que "se sentia bastante confortável" na cadeira de presidente.
Depois, bateu boca com Mercadante, Demóstenes e Cristovam Buarque (PDT-DF). Nos momentos mais tensos, cortou a palavra dos opositores.
Chegou a apontar o dedo a Demóstenes, exigindo que descesse da tribuna: "Seu tempo está esgotado, é isso que Vossa Excelência quer fazer com o Senado? Transformar a Casa numa delegacia?"
Ao discutir da cadeira da presidência com Demóstenes, também ouviu protestos de Marconi Perillo. " Passe a presidência e desça à planície, venha aqui para debater".
Alijado da Comissão de Constituição e Justiça numa manobra capitaneada por Renan, Pedro Simon (PMDB-RS) reclamou. "Vossa Excelência não pode colocar a sua questão pessoal acima do conjunto do Senado. Há uma unanimidade.
O Senado está no chão." Renan abandonou o plenário às 18h30 para seguir à abertura de uma exposição na Casa.
Mais tarde, classificou como "um dia difícil". "Já tínhamos tido outros embates, é preciso lidar com isso com naturalidade, faz parte do jogo", afirmou.


Colaboraram MARIA LUIZA RABELLO, ANDREZA MATAIS e LEONARDO SOUZA, da Sucursal de Brasília

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