|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Senadores acuam Renan e pedem saída; aliados calam
Presidente da Casa ouve 12 colegas discursarem em favor de seu afastamento
Peemedebista fica na situação mais complicada desde o início da crise,
segundo avaliação de opositores e governistas
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na sessão pública mais tensa
em quase cinco meses de crise
no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), ouviu apelos de 12 colegas
para que se afaste do cargo, bateu boca com outros três e passou a enfrentar uma quinta representação que pede sua cassação por quebra de decoro, assinada por PSDB e DEM.
Foram duas horas de bombardeio contra Renan, em protesto orquestrado por 19 senadores de seis partidos -PSDB,
DEM, PMDB, PSB, PT e PDT. A
avaliação de opositores e governistas é que a situação do peemedebista nunca foi tão complicada, com perda significativa
de apoio no PMDB e no PT.
Além de cobrar a saída de Renan, o grupo de senadores também fez um ultimato, em plenário, para que o presidente do
Conselho de Ética, Leomar
Quintanilha (PMDB-TO), indicasse o relator da terceira representação contra Renan
-uso de "laranjas" para comprar rádios.
Também deu prazo até o dia
2 de novembro concluir todos
os casos sob pena de obstrução
generalizada, com o apoio de siglas da base. Caso isso ocorra,
complicará a votação da emenda da CPMF (o chamado imposto do cheque).
A quinta representação, protocolada ontem, aponta que
Renan abusou do poder de presidente do Senado em benefício
próprio. O estopim é a denúncia de que ele teria mandado espionar os senador Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes
Torres (DEM-GO).
"No caso em questão, temos
ao menos em tese que aquele
que mais deveria zelar pelas
prerrogativas parlamentares
age exatamente ao contrário,
abusando das próprias para
atentar contra seus pares", diz
o texto da representação, que
precisa do aval da Mesa Diretora para ir ao Conselho de Ética.
O embate entre Renan e senadores começou às 16h30,
com um relato do líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM), de
que ele também estaria sendo
alvo de ameaças veladas sobre
irregularidades no passado como parlamentar. Virgílio interpelou Renan: "Quero lhe falar,
olhando olho no olho, que chegamos a uma situação que dela
não dá para ir a lugar qualquer".
O painel do plenário registrava a presença de 56 senadores.
Quando teve início o que a oposição chamou de "levante", havia 39 presentes. Também estavam no plenário os deputados
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente do DEM, ACM Neto
(DEM-BA), entre outros.
Nenhum senador saiu em defesa de Renan. Da sua tropa de
choque, apenas Gilvam Borges
(PMDB-AP) estava no plenário. O líder do governo, Romero
Jucá (PMDB-RR), ficou calado.
Isolado
O principal símbolo do isolamento de Renan foram as manifestações de Aloizio Mercadante (PT-SP), Eduardo Suplicy (PT-SP) e da líder do partido, Ideli Salvatti (SC), até então defensora de Renan. Dizendo falar por ela e não pela bancada, Ideli cobrou a demissão
do assessor Francisco Escórcio,
pivô da denúncia de arapongagem, e que ele ouvisse aos apelos para se licenciar -embora
tenha ressalvado que é "direito" de Renan ficar no cargo.
"Quero deixar claro que há
um sentimento, sim, senador
Renan, crescente para um melhor andamento dos trabalhos.
Não adianta querer tampar o
sol com a peneira com relação
ao sentimento da Casa", disse.
Após dizer que se absteve na
votação do caso Mônica Veloso,
Mercadante cobrou que Renan
deixasse a cadeira. "O sentimento de cada um dos senadores é de que o melhor para esta
Casa seria o afastamento. E esse é o sentimento amplamente
majoritário neste plenário. Alguns, pela amizade, têm dificuldade em expressar isso."
Acuado, Renan tentou reagir,
muitas vezes falando fora do
microfone. Chegou a irritar os
opositores quando disse que
"se sentia bastante confortável" na cadeira de presidente.
Depois, bateu boca com Mercadante, Demóstenes e Cristovam Buarque (PDT-DF).
Nos momentos mais tensos,
cortou a palavra dos opositores.
Chegou a apontar o dedo a Demóstenes, exigindo que descesse da tribuna: "Seu tempo está
esgotado, é isso que Vossa Excelência quer fazer com o Senado? Transformar a Casa numa
delegacia?"
Ao discutir da cadeira da presidência com Demóstenes,
também ouviu protestos de
Marconi Perillo. " Passe a presidência e desça à planície, venha
aqui para debater".
Alijado da Comissão de
Constituição e Justiça numa
manobra capitaneada por Renan, Pedro Simon (PMDB-RS)
reclamou. "Vossa Excelência
não pode colocar a sua questão
pessoal acima do conjunto do
Senado. Há uma unanimidade.
O Senado está no chão."
Renan abandonou o plenário
às 18h30 para seguir à abertura
de uma exposição na Casa.
Mais tarde, classificou como
"um dia difícil". "Já tínhamos
tido outros embates, é preciso
lidar com isso com naturalidade, faz parte do jogo", afirmou.
Colaboraram MARIA LUIZA RABELLO, ANDREZA MATAIS e LEONARDO SOUZA, da Sucursal
de Brasília
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frase Índice
|