São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Usina produtiva que foi invadida deve ser vistoriada pelo Incra

Propriedade ocupada por sem-terra em PE estaria envolvida em crime ambiental e teria dívida de R$ 85 mi com a Previdência

Empresa nega crimes e diz que cálculo do débito está sendo questionado na Justiça; sem-terra querem a desapropriação da área

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IPOJUCA (PE)

O Incra vai abrir um processo de vistoria para eventual desapropriação da usina Salgado, uma das maiores empresas de produção e exportação de álcool e açúcar de Pernambuco.
O anúncio foi feito ontem, em Ipojuca (a 70 km de Recife), dentro da usina, invadida anteontem por centenas de sem-terra ligados a MLST, CPT, Fetraf e Fetape. Os invasores comemoraram o anúncio e, no final da tarde, deixaram o local.
A decisão abre a possibilidade de o governo fazer reforma agrária em áreas produtivas, desde que os empreendimentos rurais enfrentem problemas ambientais, trabalhistas ou débitos com a União.
A proposta dos invasores, aceita pelo Incra, é a utilização do conceito de "função social plena da terra" como fundamento para as desapropriações. A usina, dizem, deve cerca de R$ 85 milhões à Previdência Social e também estaria envolvida em crimes ambientais.
Para o superintendente do Incra em Recife, Abelardo Siqueira, a vistoria por supostos problemas alheios à produtividade abre um precedente para que novas ações do tipo possam ser reivindicadas. "Pela lei, se esses problemas forem encontrados, a propriedade já é passível de desapropriação."
O artigo 185 da Constituição, porém, diz que "são insuscetíveis de desapropriação para reforma agrária: a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade produtiva".
O diretor de programas do Incra, Marcos Kowarick, minimizou o impacto da decisão de vistoriar a propriedade e disse que não vê a possibilidade de ocorrer uma explosão de invasões em áreas produtivas.
A usina informou que a vistoria será "muito bem vinda" porque "comprovará que a empresa atende às exigências legais". Negou crimes ambientais, disse que o cálculo dos débitos com a Previdência "está sendo questionado na Justiça" e que serão pagos ao final da ação.


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