|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Caseiro foi sondado para mudar versão, diz revista
Pessoas que falavam em nome do PT teriam oferecido suborno, rechaçado pela testemunha que derrubou Palocci, afirma "Piauí"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O caseiro Francenildo dos
Santos Costa, cujo depoimento
prestado em março de 2006 à
CPI dos Bingos teve como conseqüência a demissão do então
ministro da Fazenda Antonio
Palocci, foi sondado por emissários que teriam oferecido dinheiro para que ele mudasse
sua versão.
As revelações são de reportagem da revista "Piauí" deste
mês, assinada pelo editor e cineasta João Moreira Salles.
O caseiro e seu advogado,
Wlicio Chaveiro Nascimento,
de acordo com a revista, se recusaram a continuar a negociação. O contato de um "conhecido" do advogado teria ocorrido
horas antes de uma entrevista
coletiva convocada pelo caseiro, em 16 de março de 2006. Era
a primeira vez que o caseiro poderia confirmar ou desmentir o
que havia dito dias antes ao jornal "O Estado de S. Paulo". Ele
testemunhou que Palocci freqüentava uma casa de lobistas
em Brasília, desmontando o depoimento prestado pelo ministro à CPI. Na coletiva, o caseiro
manteve todas as declarações.
Dois dias depois daquela entrevista, o sigilo bancário do caseiro foi quebrado ilegalmente
na Caixa Econômica Federal.
A revelação sobre a tentativa
de suborno tem duas versões.
Segundo a "Piauí", o advogado
do caseiro foi procurado por
um "intermediário do dono de
um restaurante onde, no passado, dirigentes do PT costumavam se reunir, Lula inclusive. O
dono do restaurante mandava
avisar. "O pessoal está querendo uma conversa. Nada de objetivo. Querem só trocar umas
idéias'". Ouvido ontem pela Folha, o advogado disse que não
revelará o nome do homem
porque não sabe se ele de fato
representava terceiros ou se estava blefando. O advogado negou ter discutido valores.
Francenildo Costa, segundo
a "Piauí", disse: "Eles falaram
em um milhão de reais, mais
uma casa, para eu negar tudo. O
Wlicio me disse assim: "O conhecido falou em um milhão de
reais. O dinheiro é bom: você
arranja a tua vida e eu fico com
a metade. Mas o dinheiro também é ruim: você vai ter que
mentir e vai correr perigo. No
teu lugar, eu não aceitaria'". A
revista conta que nenhum dos
dois levou a conversa adiante
com os emissários.
O advogado negou ontem à
Folha ter falado em valores
com o caseiro. Sobre os emissários, declarou: "Vou me abster
de fazer qualquer comentário a
respeito, porque lendo a matéria você vê que não fui quem
declarei. E mesmo se eu tivesse
declarado, ou tivesse acontecido algum tipo de proposta, isso
não mudaria nada. Não quero
polemizar".
A reportagem também descreve constrangimentos a que
o caseiro foi submetido pela
Polícia Federal. Teve que passar uma noite, em precárias
condições, num barraco a que
foi conduzido após ter sido incluído no programa de proteção a testemunhas do governo.
A revista discute as motivações da PF. Entrevistado, o delegado responsável, Wilson Damázio, disse que houve uma solicitação da CPI dos Bingos e
negou qualquer irregularidade.
Em outro ponto da reportagem, o ex-senador Antero Paes
(PSDB-MT) diz que foi o senador Tião Viana (PT-AC) "quem
estimulou o governo a quebrar
o sigilo do caseiro". Ontem a
assessoria de Viana informou:
"O senador não vai comentar
nada porque tem a consciência
tranqüila. Jamais cometeu
qualquer deslize ético".
Por causa da quebra, Palocci,
seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o ex-presidente da
Caixa Jorge Mattoso foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal. Os três foram indiciados pela Polícia Federal pela
violação do sigilo do caseiro.
Texto Anterior: Outro lado: Oficial nega conivência com tortura Próximo Texto: Meio ambiente: Governo deve triplicar prazo para ruralistas Índice
|