São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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JANIO DE FREITAS
Reforma que deforma

Sob a imprópria denominação de reforma política, um grupo de governistas encabeçados pelo vice-presidente Marco Maciel procura fazer com a oposição, em troca de concessões pouco expressivas, um acordo que só pode resultar na protelação da reforma política que dê seriedade à vida parlamentar e sentido responsável aos partidos e seus programas.
O financiamento oficial das campanhas eleitorais, posto pela oposição como exigência para aderir à tal reforma e, pelos governistas, como grande concessão aos oposicionistas, não vale nada como uma coisa nem outra. O financiamento oficial só teria efeito moralizador se acompanhado de um sistema rigoroso de fiscalização e um sistema enérgico de punições, para os que se valham também de dinheiro privado. Esses sistemas não entram em cogitação.
Além disso, o financiamento oficial, por si só, não moraliza a seleção de candidatos (e eleitos), os partidos, nem, por consequência, a vida das Câmaras, Assembléias e do Senado. O financiamento oficial só funciona como parte de um todo voltado para dar à política a respeitabilidade, pelo menos, minimamente devida.
A designação de Marco Maciel como coordenador da comissão de "reforma" já explica estas aspas, e muito mais. O risco da oposição, envolvendo-se com o que não passe de outra maquiagem, é de ser também "oposição".
A reforma política no Brasil só se processará por um movimento de fora para dentro dos meios políticos, um projeto estudado por um grupo de pessoas respeitadas por seu saber, seriedade e desapego.
O que ficou bem claro neste comentário do deputado Francisco Dornelles na reunião, anteontem, dos "reformistas": "Não se pode exigir que um deputado aceite uma reforma que vai significar sua derrota eleitoral".
É, no entanto, exatamente o que se tem a exigir de um reforma que mereça tal nome, para expelir da vida política os deputados e outros que nela só estão por interesses assim pessoais e, em geral, baixos.

Lembrança
Não o conheci, mas o admirei. Na falta das homenagens que os jornais lhe ficaram devendo, talvez porque não acionados pelos marqueteiros que tanto influem nas redações de hoje, aqui fica uma nota de lembrança e pesar pela morte do editor Waldir Martins Fontes.
A editora que fundou com dois irmãos e adotou tomou seus sobrenomes, não esperou os incentivos fiscais e financiamentos para dar ao leitor brasileiro livros de cultura mesmo, ensaios de arte, história, literatura, ciência. Livros para um público restrito. Nada de luxo, mas de bom gosto em todos os sentidos. Livros para um público restrito, mas nem por isso aos preços inalcançáveis que caracterizam o gênero no Brasil.


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