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JANIO DE FREITAS
Reforma que deforma
Sob a imprópria denominação de reforma política, um
grupo de governistas encabeçados pelo vice-presidente Marco
Maciel procura fazer com a oposição, em troca de concessões
pouco expressivas, um acordo
que só pode resultar na protelação da reforma política que dê
seriedade à vida parlamentar e
sentido responsável aos partidos
e seus programas.
O financiamento oficial das
campanhas eleitorais, posto pela oposição como exigência para
aderir à tal reforma e, pelos governistas, como grande concessão aos oposicionistas, não vale
nada como uma coisa nem outra. O financiamento oficial só
teria efeito moralizador se
acompanhado de um sistema rigoroso de fiscalização e um sistema enérgico de punições, para
os que se valham também de dinheiro privado. Esses sistemas
não entram em cogitação.
Além disso, o financiamento
oficial, por si só, não moraliza a
seleção de candidatos (e eleitos),
os partidos, nem, por consequência, a vida das Câmaras,
Assembléias e do Senado. O financiamento oficial só funciona
como parte de um todo voltado
para dar à política a respeitabilidade, pelo menos, minimamente devida.
A designação de Marco Maciel como coordenador da comissão de "reforma" já explica
estas aspas, e muito mais. O risco da oposição, envolvendo-se
com o que não passe de outra
maquiagem, é de ser também
"oposição".
A reforma política no Brasil só
se processará por um movimento de fora para dentro dos meios
políticos, um projeto estudado
por um grupo de pessoas respeitadas por seu saber, seriedade e
desapego.
O que ficou bem claro neste
comentário do deputado Francisco Dornelles na reunião, anteontem, dos "reformistas":
"Não se pode exigir que um deputado aceite uma reforma que
vai significar sua derrota eleitoral".
É, no entanto, exatamente o
que se tem a exigir de um reforma que mereça tal nome, para
expelir da vida política os deputados e outros que nela só estão
por interesses assim pessoais e,
em geral, baixos.
Lembrança
Não o conheci, mas o admirei.
Na falta das homenagens que os
jornais lhe ficaram devendo,
talvez porque não acionados pelos marqueteiros que tanto influem nas redações de hoje, aqui
fica uma nota de lembrança e
pesar pela morte do editor Waldir Martins Fontes.
A editora que fundou com
dois irmãos e adotou tomou
seus sobrenomes, não esperou os
incentivos fiscais e financiamentos para dar ao leitor brasileiro livros de cultura mesmo,
ensaios de arte, história, literatura, ciência. Livros para um
público restrito. Nada de luxo,
mas de bom gosto em todos os
sentidos. Livros para um público restrito, mas nem por isso aos
preços inalcançáveis que caracterizam o gênero no Brasil.
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