São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petista quer convencer o Fundo de que contas já estão melhorando

Palocci espera que FMI não crie "constrangimentos"

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O coordenador da equipe de transição do PT, Antônio Palocci Filho, 42, afirmou que para o Brasil "não será bom neste momento criar constrangimentos novos".
Palocci referia-se a uma eventual recomendação do FMI (Fundo Monetário Internacional), em uma reunião com a equipe econômica do atual governo nesta semana, de aumentar o superávit primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros).
"O mais adequado é aguardar em vez de agravar os índices de ajustes", disse o coordenador. Segundo ele, "para o Brasil não será bom neste momento, que tem um sinal positivo [da economia", criar constrangimentos novos".
De acordo com o coordenador da equipe de transição, "temos de convencer o Fundo de que se desenha um novo momento". "Vai ter melhora nas contas sem necessidade de mais aperto fiscal."
Um dos políticos mais próximos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e cotado para assumir um ministério, Palocci recebeu a Folha às 2h30 da manhã, logo após desembarcar de Brasília, onde participou de encontro entre Lula e o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Cauteloso, Palocci não entra em detalhes quando o assunto é nomes do novo governo. Mas disse que, para a Fazenda, a tendência é que Lula não escolha um empresário nem um técnico.
"Quem vai lidar com o Banco Central não pode ser um bom político: tem de ser um bom profissional da área. Nos ministérios, o tempo é outro. Pode ter perfil de empresários. É possível. Mas não sei se há uma tendência de o presidente eleito escolher empresário para a Fazenda. Não me parece que seja a tendência." Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - O PT irá se encontrar com a missão do FMI que vem ao Brasil?
Antônio Palocci Filho -
O governo federal, por meio do Ministério da Fazenda, nos informou da reunião com o Fundo. Nosso entendimento é parecido com o do governo: a expedição vem para dialogar com o atual governo. Qualquer procedimento que seja necessário na atual renegociação é com a equipe atual. Eles manifestaram que a comissão deve ter interesse em conhecer o futuro governo. Eu particularmente acho que devemos agendar reunião com eles.

Folha - Quem participaria?
Palocci -
Não sei. Conversarei com o presidente [Lula" neste fim de semana para decidir isto.

Folha - Mas nesta conversa formal, o sr. levará técnicos?
Palocci -
Técnicos ou políticos. Acho que políticos. Tem de ter conteúdo técnico, mas é uma discussão de acordo em cima de um projeto de ajuste que tem de ser feito tanto no campo econômico quanto no de estratégia política.

Folha - O fundo pode deixar a decisão sobre metas como de superávit para o ano que vem. Foi um pedido do PT?
Palocci -
Nós manifestamos para o Armínio [Fraga, presidente do Banco Central", para o Everardo Maciel [Receita Federal" e para o [Pedro" Malan [Fazenda" que o ideal seria aguardar um pouco para ver se será necessário ajustes maiores. Como tem um período de melhora do ambiente econômico, um pouco por causa da eleição e da expectativa do novo governo, há uma possibilidade de desencadear um ciclo virtuoso na economia. Os mais adequado neste momento é aguardar em vez de agravar os índices de ajustes para garantir equilíbrio e não criar constrangimentos novos.
Isto eu argumentei com integrantes do governo. Eles concordam. Também acham que tem um ambiente melhor, mas o Fundo pode ter uma outra interpretação. Eles são duros na discussão.

Folha - Mas e se eles insistirem num superávit maior?
Palocci -
Eles podem querer agravar os instrumentos que existem. Nós já tínhamos um compromisso de fazer o ajuste que for necessário. Mas para o Brasil não será bom neste momento, que tem um sinal positivo [da economia", criar constrangimentos novos. Acho que nós temos de convencer o Fundo de que se desenha um novo momento. Na verdade, a idéia de não mexer [no superávit", é uma idéia de apostar num momento melhor. Acho que os técnicos do Fundo, se verificarem com clareza, vão ver que há um ambiente melhor. Mas nós não vamos renegociar com o Fundo. É o governo atual.

Folha - O PT vai levar essa visão de que não há necessidade de um aperto fiscal?
Palocci -
O debate que está colocado para o país hoje é de uma tendência de melhoria do ambiente econômico. Uma tendência não, já há elementos que mostram isso. Por que você vai refazer contas de ajuste se a perspectiva é de que a economia começa a ter uma recuperação? Vamos apostar nisso. Se isso de fato se confirmar, você terá melhora nas contas sem necessidade de mais aperto fiscal.

Folha - Vocês já terão definido nomes para mostrar ao fundo?
Palocci -
Só se o presidente resolver na semana que vem os nomes. Acho pouco provável. Adiantar ao Fundo antes de mostrar ao país é uma hipótese inexistente. Está prevista uma visita do Horst Köhler [diretor-gerente do FMI" em dezembro. Aí é possível que as autoridades financeiras já estejam definidas. Será natural que conversemos sobre isso.

Folha - Qual será a cara do ministério: técnico ou político?
Palocci -
Não sei qual será a preferência do presidente. Acho que ele vai escolher nomes adequados para as funções adequadas. Receita Federal tem de ser uma pessoa experiente em Receita Federal. Banco Central tem de ser uma pessoa que saiba agir em Banco Central. Já Ministério da Fazenda e Tesouro têm outro perfil.

Folha - Que perfil?
Palocci -
Eu costumo dizer que, num hospital, quem faz a cirurgia tem de ser médico, mas quem dirige o hospital não precisa ser médico. Pode ser um administrador competente. Na área econômica também. Quem vai lidar com o Banco Central não pode ser um bom político: tem de ser um bom profissional da área. Na Receita também. Nos ministérios, o tempo é outro. Pode ter perfil de empresário. É possível. Mas não sei se há uma tendência de o presidente eleito escolher empresário para a Fazenda. Não me parece que seja a tendência.

Folha - Alguém com perfil político, do PT?
Palocci -
Não saberia dizer para onde pende o coração do presidente.



Texto Anterior: Benedita afirma que não recebeu convite de Lula
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.