São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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CONGRESSO

Maioria das mais votadas nas eleições deste ano pertence a partidos de esquerda e já exerceu cargo público

Treze mulheres são campeãs nos Estados

LIA HAMA
DA REDAÇÃO

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em fato inédito, assumirão no Congresso no próximo ano nada menos que 13 mulheres campeãs de votos nos Estados.
A maioria pertence a partidos de esquerda e tem em comum passado sólido na vida pública: não há amadoras.
À Câmara, foram pole position nas listas: Denise Frossard (PSDB/RJ); Fátima Bezerra (PT/ RN); Francisca Trindade (PT-PI); Janete Capiberibe (PSB/AP); Kátia Abreu (PFL/TO); Maria Helena (PST/RR); Perpétua Almeida (PC do B/AC) e Vanessa Grazziotin (PC do B/AM).
Ao Senado, outras cinco superaram o número de votos do segundo vencedor.
Exceto pela ex-governadora pefelista Roseana Sarney, primeiro lugar no Maranhão (1.314.524 votos), todas são petistas.
No Acre, a campeã foi a senadora reeleita Marina Silva (157.588); no Pará, Ana Júlia (1.097.061); em Rondônia, Fátima Cleide (233.365); e, em Santa Catarina, Ideli Salvatti (1.054.304).
Uma das mais experientes da lista, a deputada reeleita Vanessa Grazziotin, 41, desde 1988 na política, considera que esse boom de mulheres campeãs de votos é a tradução do anseio do eleitor por "mais ética na política".
"As mulheres ainda aparecem como novidade ao eleitor e, por isso, a idéia é que possam ser mais honestas. E elas encabeçam as listas de votos coincidindo com a derrota nas urnas de vários dinossauros com histórico de corrupção", diz a deputada do PC do B.
Exemplo de "sangue novo" que tem como bandeira a ética é a campeã de votos do Acre, Perpétua Almeida, 37. Vereadora de Rio Branco pelo PC do B, ela liderou os protestos contra a cassação da candidatura do governador Jorge Viana (PT), reeleito no primeiro turno. Seu marido, Edvaldo Magalhães, é líder de Viana na Assembléia do Acre e foi reeleito deputado estadual.
Outro exemplo é o da juíza aposentada Denise Frossard, 52, que ganhou notoriedade nacional em 1993, quando condenou a seis anos de prisão 14 banqueiros do jogo do bicho do Rio de Janeiro. Frossard é uma das fundadoras da Transparência Brasil, organização-não-governamental que busca combater a corrupção.

Bandeiras
Além da ética na política, outras bandeiras, bem variadas, levaram as candidatas a se transformar em campeãs de votos em seus Estados. No caso da pefelista Kátia Abreu, 40, foi a questão rural.
"Minha representação sempre foi rural. Como a vocação do meu Estado [Tocantins" é agropecuária, todo mundo é ligado ao setor", diz a deputada eleita, a primeira mulher a liderar a bancada ruralista na Câmara.
Já no caso de Francisca Trindade, 36, ex-vereadora de Teresina e deputada estadual do Piauí, fazem parte de suas plataformas a questão do negro e da mulher. Filiada ao PT desde 85, Francisca pretende apresentar uma proposta de criação de linha de financiamento de casas populares para mulheres que são chefes de família. Negra, ela defende a cota para negros nas universidades.
Outra defesa, comum a pelo menos três das mais votadas, é a questão da Amazônia. A ex-deputada estadual, eleita deputada federal, Janete Capiberibe quer chegar ao Congresso e se unir às bancadas de defesa dos direitos das mulheres, das crianças e da Amazônia. Janete, 53, está na política desde 1988, quando foi eleita vereadora em Macapá. "Na verdade, estou desde os 15 anos, quando conheci meu marido [o senador eleito pelo Amapá João Capiberibe" e começamos juntos na política estudantil", diz.
Gaúcha, Maria Helena Veronese, 53, mora em Boa Vista há 29 anos e é mais uma a querer integrar a bancada que defende interesses amazônicos. "Me sinto amazônida", disse. A deputada eleita trabalhava com a prefeita de Boa Vista, Tereza Jucá, de quem é amiga há anos. "Ela sempre me deu força para me candidatar e dessa vez decidi arriscar para ter voz no Congresso."
A terceira representante é a acreana Perpétua, que aponta a necessidade de se criar uma "bancada do Norte, que defenda a soberania da Amazônia".
A petista Fátima Bezerra, 45, não esconde o orgulho de ter entrado na "bancada do batom" da Câmara. "Não comemoro só os votos, mas também de, independente do sexo, ser a primeira representante da oposição do Rio Grande do Norte no Congresso na história", afirma Fátima, duas vezes deputada estadual.



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