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GOVERNO
Percentual de despesas é o maior entre 14 países, incluindo EUA e Alemanha
Gasto oficial responde por
7% do mercado publicitário
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil é um dos países que
mais gastam com publicidade estatal no planeta. Apesar da onda
de privatização na última década,
os governos federal, estaduais e
municipais são responsáveis por
7,13% de tudo o que se investe em
propaganda na TV, rádios, jornais, revistas, outdoors, internet e
patrocínios. Nos Estados Unidos,
esse percentual é de apenas 1,63%.
Em 2002, o Estado brasileiro em
todos os seus níveis torrou uma
soma equivalente a US$ 493,136
milhões. Esse valor inclui empresas estatais, ministérios, autarquias e fundações. O mercado publicitário total no Brasil foi de US$
6,920 bilhões nesse período.
Com esse percentual de 7,13%, o
Brasil é o recordista entre os 14
países dos quais a Folha conseguiu obter dados que seguem
uma metodologia similar à usada
aqui pelo Ibope Monitor -empresa especializada em pesquisar
gastos com propaganda.
Mesmo que seja isolada apenas
a publicidade federal -sem governos estaduais e prefeituras-,
o valor e o percentual continuam
altos na comparação com outros
países. Em dólares, a administração pública federal -governo e
estatais- gastou US$ 348,451 milhões em 2002 (5,04% dos investimentos em publicidade no país).
A título de comparação, o maior
anunciante neste ano no Brasil até
setembro foi a rede de lojas Casas
Bahia, com R$ 457 milhões, segundo o jornal "Propaganda &
Marketing". Não é nem a metade
do que investiu o governo federal
no ano passado: R$ 1,018 bilhão.
Para calcular os dados, a Folha
usou informações do Ibope Monitor e também checou alguns
números diretamente com tradicionais grandes anunciantes governamentais. No caso do governo federal, foi possível obter o número exato. A transformação em
dólares foi com a taxa média da
moeda norte-americana em 2002
-R$ 2,9215 para cada dólar.
O país mais próximo do Brasil
na gastança oficial é o Peru. Lá, os
investimentos nessa área são de
4,88% do total do mercado. A
Austrália vem a seguir, com
3,78%, seguida pelo Canadá,
3,74%. Os demais países pesquisados ficam abaixo de 3%.
Gastos nos EUA
Na maior potência econômica
do planeta, os EUA, os gastos governamentais com propaganda
foram de US$ 1,823 bilhão (1,63%
do mercado norte-americano total, de US$ 111,957 bilhões).
Apesar de o Brasil ter mais estatais que os EUA, naquele país há
uma tradição grande de muitos
anúncios das Forças Armadas,
convidando os jovens a se alistarem, pois o serviço militar não é
compulsório. No ano passado,
ainda por causa dos atentados de
11 de setembro de 2001, houve um
volume excepcional de anúncios
sobre segurança pública.
É difícil fazer comparações entre os países no que diz respeito
aos mercados publicitários, mas
chama a atenção que exista quase
um padrão de gastos entre países
tão diferentes. Os EUA, em termos percentuais, gastam em publicidade oficial só um pouco a
mais do que a Suíça ou o Uruguai.
Outra forma de medir o tamanho dos gastos de governos com
publicidade é dividir o volume de
recursos investidos pela população. Nesse cálculo, o Brasil está
em posição diferente. Os governos brasileiros (federal, estaduais
e municipais) consumiram US$
2,8 por habitante em 2002 com
propaganda. Entre os 14 países
pesquisados pela Folha, o Brasil
fica na 8ª posição. Ainda assim,
supera a Alemanha e a Itália.
A grande presença do Estado no
mercado de propaganda, segundo comentário quase unânime de
publicitários e integrantes dos governos, é que o Brasil ainda tem
muitas estatais. Além disso, a extensão do país e sua população
exigem investimentos de monta
para o Estado se comunicar.
Essa explicação é difícil de ser
comprovada. A União nunca na
sua história forneceu dados detalhados sobre gastos publicitários.
É impossível saber quanto das
campanhas da CEF e da Petrobras
são articuladas com programas
de interesse do Planalto.
Marcus Flora, secretário-adjunto da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), avalia que
"a esmagadora maioria da publicidade governamental federal é de
empresas estatais, que também
fazem patrocínio". O número
exato dos gastos não é divulgado.
Flora diz ser a favor da "transparência", mas faz uma ponderação: "As empresas estatais, como
o Banco do Brasil ou a Petrobras,
têm o governo como maior acionista, mas estão no mercado: para
divulgar detalhadamente seus
gastos publicitários é necessário
submeter esse pedido ao Conselho de Administração". Confrontado com o fato de que estatais fazem propaganda de governo, Flora disse que neste ano a situação é
diferente, pois o Planalto terá verba para publicidade institucional.
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