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Tucanos e petistas tramam acordo para abafar depoimentos incômodos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acordo entre o PSDB e o PT para atenuar investigações, trazido à
tona acidentalmente pelo senador
tucano Álvaro Dias (PR), foi o estopim de uma disputa que azedou
ainda mais a relação entre os dois
partidos, levando o conflito para
dentro da CPI dos Correios.
Segundo interlocutores ouvidos
pela Folha, o PT se beneficiaria
com o cancelamento de um depoimento indesejável e, em troca,
não convocaria para depor um
personagem-chave do caso de
caixa dois na campanha tucana de
Minas Gerais, em 1998.
A primeira parte do trato ocorreu ontem. A audiência para ouvir a ex-assessora financeira da
campanha petista em Londrina
em 2004, Soraya Garcia, que ocorreria ontem, foi cancelada.
Soraya acusou o ex-ministro José Dirceu de ter levado R$ 300 mil
para a campanha de Nedson Micheleti, prefeito de Londrina reeleito pelo PT no ano passado.
A parte do PT no trato consiste
em não convocar para depor o lobista Nilton Antônio Monteiro, ligado à campanha tucana de 1998.
Em entrevista à Folha em agosto, Monteiro assumiu a responsabilidade pela lista com nomes de
políticos tucanos mineiros que teriam recebido recursos de caixa
dois do empresário Marcos Valério Fernandes. O lobista teria também documentos que comprovariam contabilidade paralela da
campanha de 1998 do senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O
tucano nega as acusações.
O acordo PSDB-PT foi tratado
por um restrito número de integrantes das cúpulas dos dois partidos no Congresso. O relator da
CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), também foi informado e concordou.
Soraya Garcia compareceu à
CPI, mas foi então informada pelo deputado Gustavo Fruet
(PSDB-PR), sub-relator, que sua
audiência havia sido cancelada.
Assessores do também deputado pelo Paraná Luiz Carlos Hauly
(PSDB) encontraram nos corredores do Congresso com Fruet e o
deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), juntamente com Soraya. Ficaram então sabendo do cancelamento e avisaram a Hauly.
Os tucanos procuraram então
uma das responsáveis pela área
técnica da CPI, Cleide Ferreira
Cruz, que assinou declaração na
qual informava que o cancelamento do depoimento de Soraya
havia sido determinado pelo presidente da comissão, senador Delcídio Amaram (PT-MS).
Os assessores de Hauly comunicaram o episódio ao senador correligionário Álvaro Dias. Aparentemente sem saber do acordo,
Dias disse no plenário que a decisão de não ouvir Soraya teria partido de Delcídio a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O lado petista nega.
Assim como Fruet, Delcídio tinha participado do fechamento
do acerto. Ao saber das declarações de Dias, o senador petista ligou para Fruet, dizendo que o deputado havia quebrado o acordo.
Fruet chegou a dizer que, se havia desconfiança por parte de Delcídio, ele iria se afastar da sub-relatoria. Os dois, então, ficaram de
marcar outra conversa. No final
da noite, Fruet disse: "Para evitar
qualquer atrito, vamos ouvir todos os depoimentos, inclusive o
dela [Soraya]".
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