São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tucanos e petistas tramam acordo para abafar depoimentos incômodos

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acordo entre o PSDB e o PT para atenuar investigações, trazido à tona acidentalmente pelo senador tucano Álvaro Dias (PR), foi o estopim de uma disputa que azedou ainda mais a relação entre os dois partidos, levando o conflito para dentro da CPI dos Correios.
Segundo interlocutores ouvidos pela Folha, o PT se beneficiaria com o cancelamento de um depoimento indesejável e, em troca, não convocaria para depor um personagem-chave do caso de caixa dois na campanha tucana de Minas Gerais, em 1998.
A primeira parte do trato ocorreu ontem. A audiência para ouvir a ex-assessora financeira da campanha petista em Londrina em 2004, Soraya Garcia, que ocorreria ontem, foi cancelada.
Soraya acusou o ex-ministro José Dirceu de ter levado R$ 300 mil para a campanha de Nedson Micheleti, prefeito de Londrina reeleito pelo PT no ano passado.
A parte do PT no trato consiste em não convocar para depor o lobista Nilton Antônio Monteiro, ligado à campanha tucana de 1998.
Em entrevista à Folha em agosto, Monteiro assumiu a responsabilidade pela lista com nomes de políticos tucanos mineiros que teriam recebido recursos de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes. O lobista teria também documentos que comprovariam contabilidade paralela da campanha de 1998 do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O tucano nega as acusações.
O acordo PSDB-PT foi tratado por um restrito número de integrantes das cúpulas dos dois partidos no Congresso. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), também foi informado e concordou.
Soraya Garcia compareceu à CPI, mas foi então informada pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator, que sua audiência havia sido cancelada.
Assessores do também deputado pelo Paraná Luiz Carlos Hauly (PSDB) encontraram nos corredores do Congresso com Fruet e o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), juntamente com Soraya. Ficaram então sabendo do cancelamento e avisaram a Hauly.
Os tucanos procuraram então uma das responsáveis pela área técnica da CPI, Cleide Ferreira Cruz, que assinou declaração na qual informava que o cancelamento do depoimento de Soraya havia sido determinado pelo presidente da comissão, senador Delcídio Amaram (PT-MS).
Os assessores de Hauly comunicaram o episódio ao senador correligionário Álvaro Dias. Aparentemente sem saber do acordo, Dias disse no plenário que a decisão de não ouvir Soraya teria partido de Delcídio a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O lado petista nega.
Assim como Fruet, Delcídio tinha participado do fechamento do acerto. Ao saber das declarações de Dias, o senador petista ligou para Fruet, dizendo que o deputado havia quebrado o acordo.
Fruet chegou a dizer que, se havia desconfiança por parte de Delcídio, ele iria se afastar da sub-relatoria. Os dois, então, ficaram de marcar outra conversa. No final da noite, Fruet disse: "Para evitar qualquer atrito, vamos ouvir todos os depoimentos, inclusive o dela [Soraya]".


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Palocci na mira: Palocci critica Dilma e diz que crise pode levá-lo a deixar cargo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.