São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ABSOLVIÇÃO

Líder do PL recebeu o apoio até de deputados do PSDB, partido de sua acusadora

Câmara rejeita cassação de Mabel por 340 votos a 108

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara dos Deputados salvou ontem o primeiro mandato de um deputado envolvido no escândalo do "mensalão", o do líder do PL na Casa, Sandro Mabel (GO). Por 340 votos sim, 108 não, 17 abstenções e 2 nulos, o plenário da Câmara aprovou o parecer do Conselho de Ética -feito pelo deputado Benedito de Lira (PP-AL)- que defendia a absolvição de Mabel por falta de provas.
Logo após o anúncio do resultado, o líder do PL disse: "É o fim de um pesadelo. Quando a gente tem a verdade ao nosso lado, tudo caminha bem". Ele afirmou ainda que pode se candidatar ao governo de Goiás no ano que vem.
A absolvição de Mabel já era esperada pelo plenário. Seu caso era visto como "especial": contra ele não há documentos provando a retirada de dinheiro do "valerioduto" para financiar campanhas.
Havia duas acusações: uma feita por Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que Mabel integrava o esquema de compra de deputados. A evidência disso teria sido o crescimento expressivo do PL sob sua liderança, que chegou a ter 53 deputados, tendo eleito apenas 26. Depois da eclosão do escândalo, a bancada diminuiu para 39 parlamentares. A outra acusação era específica: a de que ele teria tentado comprar o passe da tucana Raquel Teixeira (GO) para seu partido, oferecendo a ela R$ 1 milhão em "luvas" e R$ 30 mil mensais.
O argumento da falta de provas é o mesmo usado sem sucesso pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), que já está mencionando o caso do deputado goiano como precedente.
As CPIs dos Correios e do Mensalão apontaram em relatório preliminar o envolvimento de 19 deputados com o suposto esquema. Antes da absolvição de Mabel, quatro deputados já haviam renunciado -Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA)- e um deles foi cassado, Jefferson, o autor da denúncia de "mensalão".
Restam agora 13 casos de parlamentares ligados ao "mensalão" para serem decididos pela Câmara. O próximo a ir a voto em plenário deve ser o de José Dirceu, no dia 23 de novembro, e depois dele, o de Romeu Queiroz (PTB-MG), que ontem teve a cassação aprovada pelo Conselho de Ética da Câmara por 12 votos a 2.
"Está sendo feita justiça, o nome dele [Mabel] nunca deveria ter sido envolvido nisso", disse Professor Luizinho (PT-SP), outro ameaçado de cassação.
Mesmo na oposição Mabel tinha ampla maioria. Tanto que deputados do PSDB esforçavam-se ontem em enfatizar que a absolvição do deputado não é um voto de desconfiança na tese do "mensalão". "Uma coisa não está relacionada à outra, porque o caso de Mabel é diferente de todos os outros, que sacaram recursos de caixa dois", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), membro do Conselho de Ética.
Os únicos a subir na tribuna para defender a cassação de Mabel foram dois deputados do PSOL, Luciana Genro (RS) e Babá (PA). Genro, apesar de ser líder da bancada, não convenceu nem os dois representantes do PSOL no Conselho de Ética -Chico Alencar (RJ) e Orlando Fantazzini (SP)- a defender a cassação.
A expectativa no PSDB era que alguns deputados também tivessem votado pela cassação, em solidariedade à deputada Raquel. Mas até Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), que ajudou a acusar Mabel, ontem mudou de idéia e votou pela absolvição. "Minha linha é defender o que decide o Conselho de Ética", justificou.


Colaborou SILVIO NAVARRO, da Agência Folha, em Brasília

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