São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Ocidente e a revolta

A BBC transmitiu ao vivo a "derrota" de Tony Blair no parlamento britânico, primeira desde que ele chegou ao poder.
Era um esforço do primeiro-ministro para limitar os direitos civis, no combate ao terrorismo islâmico. Perdeu, mas avisou na manchete do site do "Guardian" que não, ele não vai "renunciar".
Do outro lado do Atlântico, a CNN já transmitia ao vivo da Jordânia, e a manchete no site do "New York Times" bradava:
- Pelo menos 18 são mortos por terroristas suicidas em Amã.
 
Na França, as manchetes eram outras, mas na mesma direção.
O ministro Nicolas Sarkozy, do Interior, cobrou a expulsão dos estrangeiros envolvidos nos atos de violência dos últimos dias, basicamente islâmicos.
Foi a manchete nos sites do "Le Figaro" e do "Libération", mas o moderado "Le Monde" falou da extensão do toque de recolher pelo país -e só citou a idéia de Sarkozy de passagem.
 
É reflexo do que acontece na TV francesa, segundo a Reuters:
- Os espectadores franceses que esperam se informar sobre o pior levante civil do país em décadas têm recebido pouca ou nenhuma cobertura das redes.
Os dois canais de notícias, LCI e i-Tele, cobrem amplamente, mas nas redes TF1, France 2, France 3, nada. Do diretor de jornalismo da TF1, a Globo de lá:
- Nós estamos mais do que nunca conscientes de nossas responsabilidades -com uma situação complexa como esta.
Diz que a televisão quer evitar sensacionalismo e voyeurismo.

A CONCLUSÃO

E terminou, em parte ao menos, a novela que ocupou mídia e blogosfera dos EUA por meses. No final da tarde de ontem, o site do "NYT" entrou com a submanchete "Times e repórter chegam a acordo sobre sua saída". Foi um acerto financeiro alcançado após "duas semanas de negociação sobre a conclusão do episódio tumultuado". Para quem não lembra, a repórter publicou, entre outras, as reportagens que justificaram a invasão do Iraque.
Mas de novo o "NYT" entrou atrasado com a notícia de si mesmo, anunciada antes no blog de Jim Romenesko, com o próprio e-mail interno do editor-chefe do jornal.

Cotidiano
Ontem na crise, as manchetes seqüenciais abriram o dia pelo ex-ministro Anderson Adauto, dizendo que "as campanhas no Brasil sempre" tiveram caixa dois. Depois subiu a aprovação da cassação de Romeu Queiroz. Mais tarde, o arquivamento da cassação de Sandro Mabel.
Foi assim em sites e rádios. Nos telejornais, o SBT falou de ex-ministro e Mabel, na ordem. Record, ex-ministro e Queiroz. Band, Queiroz e ex-ministro.
O "JN", que há dias não quer crise na manchete, abriu com a Jordânia. Depois, a França.

E tome CPI
Fez barulho, manchete não, e aos poucos foi caindo na Folha Online, canais, rádios a notícia de Osmar Serraglio, da CPI -de que a Receita teria descoberto a prova, afinal, de que a Visanet teria abastecido o valerioduto.
O relator virou pano de fundo da disputa sobre a prorrogação da CPI, que opôs o presidente do Congresso, Renan Calheiros, à oposição e blogs diversos. Para Fernando Rodrigues, no UOL, o governo agora "ganhou tempo":
- A prorrogação seria o pior pesadelo para Lula... O caso se estenderia ao processo eleitoral.

ÁGUA E VINHO

Band/Reprodução
José Datena e José Dirceu

Até Lula deu a cassação por certa e José Dirceu continua. Lá estava ele, no "Brasil Urgente", para dizer que os tucanos "na verdade foram os que iniciaram a prática com Valério e as empresas de publicidade". De si mesmo:
- Eu estou tranqüilo, porque já depus no inquérito da Polícia Federal, já depus no Conselho de Ética duas vezes e não há nenhuma prova de que eu tenha participado.
Em destaque no Globo Online, ele foi além e anunciou, "a minha situação está mudando da água para o vinho".
 
Já os blogs comentam que "a estratégia de atingir Lula via José Dirceu se esgotou", com a cassação quase certa, e "Palocci é o novo fusível", num título de Helena Chagas:
- Imaginam os oposicionistas que, com os principais homens abatidos, Lula se enfraquece para a reeleição.
O blog de Wilson Tosta acha o mesmo, mas sublinha que o "ataque ao ministro atinge o mais comemorado aspecto do governo, a política econômica". O problema é que ele "é aplaudido com paixão em fóruns empresariais onde o PSDB e o PFL têm apoiadores e financiadores":
- Eles não veriam com simpatia a queda de Palocci.
 
Por coincidência, o blog de Josias de Souza destacou a "manobra malcheirosa" de um subrelator do PSDB, que ontem dispensou na CPI um depoimento contra o PT.


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