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Brasil pode comprar energia de Itaipu antes do previsto
Volume anual seria da ordem de 3 milhões de MWh, segundo o diretor de Itaipu
Presidente paraguaio diz que a princípio é contra o negócio, mas que a proposta deverá ser avaliada por
sua equipe econômica
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil estuda comprar
energia antecipada do Paraguai. A proposta, ainda em discussões preliminares no conselho de administração da usina
hidrelétrica de Itaipu, permitiria a aquisição de um volume de
3 milhões de MWh por ano, segundo o diretor-geral da usina
binacional, Jorge Samek.
Segundo Samek, a proposta
faz parte de uma série de tratativas de aumento da integração
entre os dois países. A usina de
Itaipu, que gera em média 90
milhões de MWh por ano, foi
construída com base em empréstimos.
Uma lei de 1973 definiu que
as companhias estaduais de
distribuição de energia deveriam comprar toda a energia de
Itaipu que não fosse consumida
pelo Paraguai, como uma maneira de apresentar garantias
para a obtenção de empréstimos. A usina paga os financiamentos por meio da geração de
energia. Com isso, Itaipu seria
paga dentro de 50 anos.
Em 2023, Brasil e Paraguai
estariam diante de um empreendimento integralmente
quitado. Hoje, 75% do orçamento de Itaipu, o equivalente
a US$ 2 bilhões, é destinado ao
pagamento de dívidas e juros.
Cada país teria direito a metade
desse montante.
O que está em discussão é a
hipótese de o país comprar um
montante de 5% a 10% do ano
de energia que pertence ao Paraguai antecipando parte da receita que o Paraguai só obteria
após a quitação do empreendimento. Isso significaria uma
antecipação da ordem de
US$ 50 milhões por ano.
"Seria uma forma de fazer
um financiamento, uma alavancagem para o desenvolvimento do Paraguai", disse o diretor. Samek descartou qualquer relação com a crise de
energia no curto prazo e afirmou que o montante é menos
do que 5% do que a usina gera.
A princípio, a proposta não
foi recebida com muito entusiasmo do lado paraguaio e não
avançou. Jornais locais têm
apresentado críticas contra a
usina e a proposta. Samek atribui as queixas ao período de definição dos candidatos a presidente no país. "É uma questão
política. Os jornais dizem que
praticamos política imperialista e pagamos muito barato a
energia do Paraguai, mas a usina não está paga e isso não costuma ser mencionado", disse.
Outras alternativas de integração entre os dois países já
estão mais próximas da concretização. Ontem, o presidente
Lula e seu colega do Paraguai,
Nicanor Duarte Frutos, discutiram durante a Cúpula Ibero-Americana o projeto de uma linha de transmissão de 500 KV
de Itaipu até a capital do
Paraguai, Assunção. O investimento é da ordem de US$ 200
milhões.
Enquanto os projetos de integração não deslancham, o
ONS (Operador Nacional do
Sistema) ordenou que Itaipu
trabalhasse em regime de flexibilização, um procedimento
adotado toda vez que se aproxima do fim do período de seca.
Segundo Samek, não houve
redução do nível do reservatório nesse período, embora haja
autorização para isso em casos
de problemas. Segundo Samek,
com as chuvas que já caíram em
Minas Gerais e em São Paulo,
não será necessário abaixar o
nível do reservatório.
Nicanor
O presidente paraguaio, Nicanor Duarte, disse em coletiva
de imprensa na última quarta-feira que foi procurado pelo governo brasileiro para a compra
antecipada de energia da hidrelétrica de Itaipu, sem, no entanto, dar detalhes de como
funcionaria o negócio.
Segundo Duarte, o tema seria
discutido ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
durante a cúpula de presidentes ibero-americanos que acontece em Santiago do Chile.
O mandatário afirmou na
ocasião que a princípio é contrário ao negócio, mas que a
proposta deverá ser avaliada
por uma equipe econômica e
pelos órgãos competentes
se "acharmos conveniente
o pedido".
Colaborou a Reportagem Local
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