São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Brasil pode comprar energia de Itaipu antes do previsto

Volume anual seria da ordem de 3 milhões de MWh, segundo o diretor de Itaipu

Presidente paraguaio diz que a princípio é contra o negócio, mas que a proposta deverá ser avaliada por sua equipe econômica

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil estuda comprar energia antecipada do Paraguai. A proposta, ainda em discussões preliminares no conselho de administração da usina hidrelétrica de Itaipu, permitiria a aquisição de um volume de 3 milhões de MWh por ano, segundo o diretor-geral da usina binacional, Jorge Samek.
Segundo Samek, a proposta faz parte de uma série de tratativas de aumento da integração entre os dois países. A usina de Itaipu, que gera em média 90 milhões de MWh por ano, foi construída com base em empréstimos.
Uma lei de 1973 definiu que as companhias estaduais de distribuição de energia deveriam comprar toda a energia de Itaipu que não fosse consumida pelo Paraguai, como uma maneira de apresentar garantias para a obtenção de empréstimos. A usina paga os financiamentos por meio da geração de energia. Com isso, Itaipu seria paga dentro de 50 anos.
Em 2023, Brasil e Paraguai estariam diante de um empreendimento integralmente quitado. Hoje, 75% do orçamento de Itaipu, o equivalente a US$ 2 bilhões, é destinado ao pagamento de dívidas e juros. Cada país teria direito a metade desse montante.
O que está em discussão é a hipótese de o país comprar um montante de 5% a 10% do ano de energia que pertence ao Paraguai antecipando parte da receita que o Paraguai só obteria após a quitação do empreendimento. Isso significaria uma antecipação da ordem de US$ 50 milhões por ano.
"Seria uma forma de fazer um financiamento, uma alavancagem para o desenvolvimento do Paraguai", disse o diretor. Samek descartou qualquer relação com a crise de energia no curto prazo e afirmou que o montante é menos do que 5% do que a usina gera.
A princípio, a proposta não foi recebida com muito entusiasmo do lado paraguaio e não avançou. Jornais locais têm apresentado críticas contra a usina e a proposta. Samek atribui as queixas ao período de definição dos candidatos a presidente no país. "É uma questão política. Os jornais dizem que praticamos política imperialista e pagamos muito barato a energia do Paraguai, mas a usina não está paga e isso não costuma ser mencionado", disse.
Outras alternativas de integração entre os dois países já estão mais próximas da concretização. Ontem, o presidente Lula e seu colega do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, discutiram durante a Cúpula Ibero-Americana o projeto de uma linha de transmissão de 500 KV de Itaipu até a capital do Paraguai, Assunção. O investimento é da ordem de US$ 200 milhões.
Enquanto os projetos de integração não deslancham, o ONS (Operador Nacional do Sistema) ordenou que Itaipu trabalhasse em regime de flexibilização, um procedimento adotado toda vez que se aproxima do fim do período de seca.
Segundo Samek, não houve redução do nível do reservatório nesse período, embora haja autorização para isso em casos de problemas. Segundo Samek, com as chuvas que já caíram em Minas Gerais e em São Paulo, não será necessário abaixar o nível do reservatório.

Nicanor
O presidente paraguaio, Nicanor Duarte, disse em coletiva de imprensa na última quarta-feira que foi procurado pelo governo brasileiro para a compra antecipada de energia da hidrelétrica de Itaipu, sem, no entanto, dar detalhes de como funcionaria o negócio.
Segundo Duarte, o tema seria discutido ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula de presidentes ibero-americanos que acontece em Santiago do Chile.
O mandatário afirmou na ocasião que a princípio é contrário ao negócio, mas que a proposta deverá ser avaliada por uma equipe econômica e pelos órgãos competentes se "acharmos conveniente o pedido".


Colaborou a Reportagem Local


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