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Estudo revela distorções do funcionalismo
Em alguns ministérios há falta de servidores nas funções estratégicas, mas sobra pessoal em atividades administrativas
Na pasta dos Transportes só
há 36 engenheiros para 430
agentes administrativos e
131 agentes de vigilância,
de portaria e telefonistas
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudo do Ministério do Planejamento, ainda em fase preliminar, já detectou uma série de
distorções no funcionalismo
público. A administração central do Ministério da Saúde, por
exemplo, é composta em mais
de um terço por terceirizados.
Os ministérios de Minas e
Energia e dos Transportes têm
carência de pessoal nas funções
estratégicas e excesso em atividades-meio, como agentes de
portaria e administrativos.
Sem falar nos ministérios
que não possuem carreira estruturada e são compostos em
boa parte por pessoas nomeados para cargos de confiança,
como o dos Esportes, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social.
Responsável pelo estudo, o
secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Francisco Gaetani, diz que há "deficiências em áreas estratégicas e
finalísticas do governo e excesso em outras, mas você não tem
condições de remanejar essa
mão-de-obra por conta da estabilidade". Ou seja, não dá para
demitir onde há excesso para
contratar em outros setores.
O estudo já atingiu a administração central de 23 dos 38
ministérios do governo Lula e
servirá de base para uma discussão interna sobre a profissionalização da máquina pública. Gaetani diz que, por falta de
dados, ainda não é possível
quantificar os servidores por
determinadas áreas para fechar
um quadro comparativo.
Na sua opinião, é preciso profissionalizar a máquina estatal
reduzindo o espaço para cargos
de confiança, muito utilizados
para nomeações políticas, e
pondo fim à terceirização em
áreas estratégicas do governo.
Desestruturação
O caso do Ministério da Saúde é exemplar do ponto de vista
de desestruturação da máquina
pública. Num momento em
que acaba de ganhar um reforço de caixa, com a promessa de
R$ 24 bilhões extras nos próximos quatro anos, o ministério
tem deficiências de pessoal para gerir bem um Orçamento
que pode atingir em 2010 mais
de R$ 60 bilhões.
Do total de 9.928 servidores
lotados na administração central (inclui os núcleos nos Estados), nada menos do que 3.638
são temporários e terão de ser
substituídos por determinação
do Ministério Público.
Ou seja, mais de um terço não
tem vínculo permanente com o
órgão. "Infelizmente, quem é
temporário não tem compromisso com a instituição, o que é
normal porque não tem perspectiva de futuro", diz a secretária-executiva da pasta da
Saúde, Marcia Bassit.
Ela defende o fim da terceirização no ministério, na busca
de profissionalizar a gestão
com quadros permanentes. Seu
foco é contratar gestores -um
profissional em falta no ministério. Hoje, há apenas 25 especialistas em políticas públicas e
gestão governamental.
Na área de infra-estrutura, as
deficiências da máquina pública ficaram evidentes com o lançamento do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
que pode representar investimentos públicos de mais de R$
60 bilhões no setor até 2010.
"Os ministérios do PAC são
frágeis", diz Francisco Gaetani.
No Ministério de Minas e Energia, por exemplo, de um total de
662 servidores, 74 são engenheiros num quadro em que há
91 agentes administrativos, 33
agentes de portaria e 17 motoristas. Na avaliação de Gaetani,
são funções que deveriam ser
terceirizadas. "Temos de trocar
quantidade por qualidade."
Nos Transportes, num quadro de cerca de 1.000 servidores, enquanto 430 são agentes
administrativos, 108 são auxiliares, motoristas e datilógrafos
e 131 agentes de vigilância, de
portaria e telefonistas, apenas
36 são engenheiros. Segundo os
dois órgãos, essa desestruturação ocorreu por conta da crise
dos anos 90, quando o investimento público em infra-estrutura foi irrisório. Um exemplo:
entre 90 e 95 o Dnit (Departamento Nacional de Infra-estrutura Terrestre) contou com
apenas um engenheiro de estrutura, especializado em pontes. Hoje o número chegou a 11.
Nesse período, por outro lado, ganharam força e se estruturaram outras carreiras do Estado seguindo a prioridade daquele período -enfrentar uma
crise fiscal. Daí que ganharam
espaço os técnicos do Tesouro
Nacional, Receita Federal e fiscais da Previdência. Era preciso
melhorar a arrecadação e saber
segurar o dinheiro no caixa.
O estudo do Ministério do
Planejamento enfrenta, porém,
dificuldades por não dispor de
dados totalmente confiáveis.
Alguns estão defasados, outros
duplicados. Tanto que a idéia é
reestruturar toda a base de dados da administração pública.
"Sem uma boa radiografia, fica difícil montar um bom trabalho de gestão. É isso que estamos perseguindo", afirma
Francisco Gaetani.
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