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GOVERNO
Diferença entre relatórios e contabilidade chega a R$ 262,4 milhões
Sudam superfaturou valor de projetos aprovados em 99
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Sudam (Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia)
superfaturou em sua contabilidade os projetos aprovados em 1999.
Chega a R$ 262,4 milhões a diferença entre os valores que constam dos pareceres técnicos aprovados ao longo do ano passado e o
preço anotado na prestação de
contas da Sudam.
Aprovaram-se 95 novos projetos em 1999. Apenas seis foram
escriturados pela Sudam com o
mesmo valor anotado nos relatórios técnicos que fundamentaram
a aprovação de cada um deles.
Outros 14 projetos figuram com
valores inferiores aos registrados
nos documentos técnicos. Os restantes 75 foram levados à contabilidade com os preços inflados.
A diferença foi detectada pela
Secretaria Federal de Controle,
vinculada à pasta da Fazenda, e
consta do relatório de auditoria
revelado na sexta-feira pela Folha. Há no documento uma lista
dos 95 projetos, seguidos dos respectivos valores.
A maior diferença para cima
ocorreu no projeto Usimar, que
visa fabricar peças automotivas
na cidade de São Luís (MA).
Na análise técnica, anotou-se o
valor de R$ 690 milhões. Estranhamente, o mesmo empreendimento consta da contabilidade da
Sudam com o valor de R$ 854,3
milhões. Uma diferença de R$
164,3 milhões, valor próximo do
desviado da obra do TRT paulista
(R$ 169,5 milhões).
A implantação da Usimar teve o
apoio da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Ela discou
pessoalmente para o ministro
Fernando Bezerra (Integração
Nacional), pedindo que velasse
pelo projeto.
A Sudam está subordinada à
pasta de Bezerra. No final do ano
passado, o ministro repassou o
pedido de Roseana ao então superintendente da autarquia, Maurício Vasconcelos.
Segundo auditores da Secretaria
Federal de Controle, a Usimar foi
aprovada no prazo recorde de três
dias úteis.
Em carta à Folha, Roseana disse
que, como governadora, zela pelo
desenvolvimento e trabalha para
atrair investimentos para o Estado. Ela lembrou que cabe à Sudam analisar os projetos do ponto
de vista técnico. O terreno em que
a Usimar planeja se instalar foi
doado pelo governo maranhense.
Bezerra admite ter telefonado
para Vasconcelos. Mas afirma ter
pedido a ele que observasse todas
as normas aplicáveis ao caso.
Vasconcelos desligou-se do cargo de secretário-executivo da Integração Nacional dois dias depois de a Folha ter revelado que a
Usimar já havia recebido do governo R$ 44 milhões. Os repasses
foram feitos em duas parcelas de
R$ 22 milhões (janeiro e abril de
2000), sem nenhuma contrapartida da empresa, uma afronta à lei.
O dinheiro referente ao sobrepreço detectado pelos auditores
da Fazenda ainda não foi desembolsado pelo governo. Trata-se de
verba empenhada, que as empresas vão recebendo ao longo do
tempo, dependendo do prazo de
implantação de cada uma. No caso da Usimar, o prazo aprovado
foi de dois anos. Estuda-se a prorrogação para quatro anos.
Depois da Usimar, o maior sobrepreço é o do empreendimento
Europlastic da Amazônia Ltda.
Orçado inicialmente em R$ 56,6
milhões, ele foi lançado na escrituração da Sudam com o custo de
R$ 80,6 milhões (R$ 24 milhões de
diferença).
Há outros desencontros numéricos na prestação de contas da
Sudam. Registra-se ali a existência de 763 projetos no dia 31 de
dezembro de 1999, incluindo os
empreendimentos aprovados em
anos anteriores. Os números não
batem com o cadastro do Banco
da Amazônia, que só traz os nomes de 687 projetos, 76 a menos.
Como agente financeiro da Sudam, o Banco da Amazônia deveria ser informado sobre todos os
projetos aprovados. Cabe à instituição repassar o dinheiro de incentivo fiscal às empresas, que são
obrigadas a manter contas em
suas agências.
O documento da Secretaria Federal de Controle será repassado
nos próximos dias à Sudam, que
terá a oportunidade de se defender. Uma cópia foi enviada também ao Tribunal de Contas da
União, a quem cabe aprovar ou
rejeitar as contas da Sudam.
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