São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMO A 2002
Presidente da Câmara afirma que, se candidato for tucano, ministro está "mais próximo" do PMDB do que Tasso
Para Temer, Serra é candidato dos aliados

Alan Marques - 31.out.2000/Folha Imagem
O presidente da Câmara, Michel Temer, que defende aliança


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), defende o nome ministro da Saúde, o tucano paulista José Serra, como o candidato da aliança governista à Presidência em 2002, caso a cabeça-de-chapa seja do PSDB.
"Se a aliança optar por um tucano, o nome mais próximo hoje do PMDB é o do Serra. Sinto que, de nossa parte, o entendimento seria com ele", diz Temer, que ressalva, porém, que mantém apoio prioritário ao candidato de seu partido, o senador Pedro Simon (RS).
Integrante da cúpula do PMDB, Temer avalia que o apoio do governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), ao colega do Ceará, Tasso Jereissati, não muda a preferência do PMDB por Serra.
O sinal é importante para o ministro da Saúde, que perdeu fôlego no PSDB depois da articulação pró-Tasso do governador paulista.
Segundo Temer, Serra propôs aliança para 2002 aos peemedebistas com os quais tem conversado. Ele crê que o ministro gostaria de envolver o PFL no acerto.
Temer é favorável a um entendimento nacional, "com reflexos regionais", entre os três grandes partidos governistas (PSDB, PMDB e PFL).
Isso ajudaria seu projeto de se candidatar a governador de São Paulo. Ele sugere que o PSDB deva apoiá-lo: "Sei das complicações, mas candidaturas estaduais estarão naturalmente acopladas a uma candidatura nacional".
A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha, na qual avalia como "lamentável" os desentendimentos entre os aliados do Planalto na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado:

Folha - Por que a disputa pela presidência do Senado virou uma guerra na qual se teme até que saia tiro entre ACM e Jader?
Michel Temer -
A questão política se transformou em pessoal. É lamentável.

Folha - O seu partido diz que o veto de ACM à candidatura de Jader foi o estopim da crise no Congresso e na base de FHC.
Temer -
Não responsabilizo o senador Antonio Carlos Magalhães, pessoa que respeito e com quem sempre conversei com vistas à pacificação, mas o veto ao Jader acabou significando uma espécie de veto ao PMDB e ajudou a acirrar os ânimos.
Jader Barbalho é o presidente do partido. Se as águas corressem naturalmente, ele próprio comandaria um processo mais tranquilo no PMDB. O veto acabou incentivando a aliança com o PSDB, praticamente eliminando a chance de um entendimento com o PFL na Câmara.

Folha - Quem está mais forte na disputa pela presidência da Câmara, Aécio Neves (PSDB) ou Inocêncio Oliveira (PFL)?
Temer -
Em termos partidários, o Aécio se fortaleceu com o acordo com o PMDB. O PSDB vota no candidato do PMDB no Senado. Na Câmara, retribuiremos.

Folha - Esse acordo é um embrião de uma aliança presidencial em 2002, com o PMDB assumindo a posição do PFL como parceiro principal dos tucanos?
Temer -
Hoje, nossa aproximação com o PSDB é grande e pode ficar mais forte. Mas defendo que os três partidos se mantenham unidos em 2002 e que discutam a cabeça-de-chapa dentro da aliança. No PMDB, temos o senador Pedro Simon, um homem de uma postura pessoal e administrativa louvável.

Folha - A candidatura Simon não é usada mais para o PMDB ocupar espaço e ter um nome?
Temer -
A candidatura é para valer. Estamos percorrendo o país com ela. A base está entusiasmada com uma candidatura própria.

Folha - E se os dirigentes da aliança, seja ela dos três partidos ou não, concluírem que o candidato deve ser um tucano? O PMDB prefere Serra ou Tasso?
Temer -
Vou defender o Simon até o fim, mas, se a aliança optar por um tucano, o nome mais próximo hoje do PMDB é o do Serra. Sinto que, de nossa parte, o entendimento hoje seria com ele.
A aproximação com o Serra é natural, até porque ele procura mais os companheiros do PMDB.
O nome do Tasso é prezado, de boas qualificações. Ele tem feito um bom governo no Ceará.

Folha - O fato de Tasso contar com um apoio explícito do pefelista ACM o afasta do PMDB?
Temer -
Isso é mais uma circunstância da vida pública do que uma posição anti-PMDB.

Folha - O apoio de Covas a Tasso diminui a preferência atual do PMDB por Serra? Por que Covas agiu assim?
Temer -
Creio que não muda nada no partido, apesar de respeitarmos o Tasso. Acho que o Covas fez isso para mostrar que o PSDB gostaria de tê-lo como candidato e que o partido pode lançá-lo por conta própria, sem que outros aliados o façam.

Folha - O Serra já pediu apoio do PMDB à candidatura dele?
Temer -
Não tão diretamente assim. Há conversas de ligações com o PMDB.

Folha - Nunca foi feita uma proposta direta de aliança?
Temer -
A aliança é sempre cogitada, com PSDB e PMDB juntos. As conversas do ministro com o PMDB estão sempre pautadas pela origem comum (o PSDB nasceu de uma dissidência peemedebista). Mas ele, um homem hábil, não descarta a hipótese de uma aliança mais ampla, com a participação do PFL.

Folha - É para valer essa tese de fusão PMDB-PSDB?
Temer -
Hoje é difícil. Uma grande aliança nacional envolvendo dois ou três partidos terá de levar em conta os interesses regionais. Candidaturas estaduais estarão naturalmente acopladas a uma candidatura nacional.
A idéia da aliança é que ela não deva ser só circunstancial, mas a semente para que mais adiante, quem sabe em 2006, haja um grande partido nacional de um lado, como poderá haver um outro grande partido de situação ou de oposição do outro lado.

Folha - O sr. já disse que é candidato a governador de São Paulo. Não é difícil o PSDB abrir mão de disputar para apoiá-lo em nome da aliança nacional?
Temer -
Claro que um grande arco de aliança em torno do meu nome seria útil à candidatura.

Folha - Esse cenário é viável?
Temer -
Sei das complicações, mas candidaturas estaduais estarão naturalmente acopladas a uma candidatura nacional.

Folha - O senhor pedirá que o PSDB desista de disputar em São Paulo?
Temer -
No caso de São Paulo, diria que, se temos uma aliança nacional, deveremos ter alianças regionais.

Folha - Antes de ser candidato ao governo paulista, o sr. tem de derrotar o ex-governador Orestes Quércia, que até hoje controlou o PMDB e que deseja disputar. Vai enfrentá-lo?
Temer -
Sim. Conversamos na semana passada. Ele me disse que pretendia disputar. É um direito dele, mas eu disse que disputaria.

Folha - Por que o sr. se acha melhor candidato para o PMDB?
Temer -
Os convencionais é que têm de achar. Vão analisar as habilitações de ambos e ver quem tem mais chance de levar o PMDB ao poder. Não tenho dúvida de que tenho mais possibilidades.



Texto Anterior: Grupo armado assalta prédio na Barra
Próximo Texto: Candidato de Covas, Tasso reage ao PMDB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.