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TRANSIÇÃO
Partido terá autonomia para preencher cargos do segundo escalão nos ministérios que vier a assumir no governo petista
PT aceita condições impostas pelo PMDB
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PMDB impôs pelo menos três
condições ao PT para participar
do governo do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, que as
aceitou com a perspectiva de formar uma maioria estável no Congresso, a partir de fevereiro.
As condições do PMDB foram:
ministérios centrais, autonomia
no preenchimento dos cargos do
segundo escalão e discussão dentro do partido, sem interferência
externa, dos nomes para o ministério e das eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
Os ministérios em negociação
entre as duas siglas são o do Planejamento, o que envaideceu a
cúpula peemedebista, e o dos
Transportes, que já é comandado
pela sigla, mas a discussão pode
evoluir para outras pastas, como a
de Minas e Energia.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o PMDB ocupou
três ministérios e uma secretaria
(Transportes, Integração Nacional, Justiça e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano), mas
nunca pôde preencher livremente
cargos como a secretaria executiva ou a diretoria financeira.
O tratamento privilegiado dado
ao PMDB causa contrariedade
entre os tradicionais aliados do
PT, mas a sigla aceitou as condições porque precisa formar uma
maioria estável no Congresso. Só
a entrada do PMDB dará ao novo
governo uma bancada de 266 dos
513 deputados da Câmara. No Senado, 48 dos 81 senadores.
Caso acerte o apoio também do
PTB (26 deputados), o governo de
Lula poderá chegar aos 292 deputados. Com mais 16 deputados, o
novo governo terá condições de
aprovar emendas constitucionais
(quórum de 308 votos), o que é
possível diante das perspectivas
de crescimento do PL (às custas
do PFL) e do PV.
Na conversa que tiveram no domingo com o presidente nacional
do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o deputado José Dirceu
(PT-SP) e o novo presidente do
PT, José Genoino (SP), tinham esses números todos na ponta do lápis. Diante de uma observação de
Temer de que não queria que a
adesão do PMDB soasse como
"fisiológica", Dirceu disse que Lula estava disposto, se for o caso, a
fazer um apelo à sigla.
O PT também impôs condições
ao PMDB: a indicação de nomes
de reconhecida capacidade técnica e de boa reputação. Não pode
ser ninguém que tenha participado do governo FHC. A palavra final será de Lula. O mais provável é
que escolha os nomes que depois
serão assumidos pelo PMDB.
A expectativa de Temer é positiva em relação às consultas que desencadeou nas diversas alas do
partido já no domingo. À exceção
de Jarbas Vasconcelos (PE), os
governadores devem apoiar a
adesão do partido ao governo.
No Legislativo, é certo o apoio
do líder no Senado, Renan Calheiros (AL), mas o líder na Câmara,
Geddel Vieira Lima (BA), e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, demonstram resistência.
Ao contrário do que ocorre com
o PMDB em relação ao governo
FHC, Temer acredita que a sigla
pode ficar bem mais unida no
apoio a Lula. O governador eleito
do Paraná, Roberto Requião, dissidente histórico, teve pelo menos
três conversas convergentes com
a cúpula, nos últimos dias.
Um problema é José Sarney
(AP), que diverge da direção sobre a eleição para a presidência do
Senado, cargo que pleiteia. A cúpula quer decidir o assunto dentro da instância partidária por julgar que pode indicar Calheiros.
Dirceu e Genoino prometeram
não envolver o novo governo na
disputa interna do PMDB.
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