São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Partido terá autonomia para preencher cargos do segundo escalão nos ministérios que vier a assumir no governo petista

PT aceita condições impostas pelo PMDB

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PMDB impôs pelo menos três condições ao PT para participar do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que as aceitou com a perspectiva de formar uma maioria estável no Congresso, a partir de fevereiro.
As condições do PMDB foram: ministérios centrais, autonomia no preenchimento dos cargos do segundo escalão e discussão dentro do partido, sem interferência externa, dos nomes para o ministério e das eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
Os ministérios em negociação entre as duas siglas são o do Planejamento, o que envaideceu a cúpula peemedebista, e o dos Transportes, que já é comandado pela sigla, mas a discussão pode evoluir para outras pastas, como a de Minas e Energia.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o PMDB ocupou três ministérios e uma secretaria (Transportes, Integração Nacional, Justiça e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano), mas nunca pôde preencher livremente cargos como a secretaria executiva ou a diretoria financeira.
O tratamento privilegiado dado ao PMDB causa contrariedade entre os tradicionais aliados do PT, mas a sigla aceitou as condições porque precisa formar uma maioria estável no Congresso. Só a entrada do PMDB dará ao novo governo uma bancada de 266 dos 513 deputados da Câmara. No Senado, 48 dos 81 senadores.
Caso acerte o apoio também do PTB (26 deputados), o governo de Lula poderá chegar aos 292 deputados. Com mais 16 deputados, o novo governo terá condições de aprovar emendas constitucionais (quórum de 308 votos), o que é possível diante das perspectivas de crescimento do PL (às custas do PFL) e do PV.
Na conversa que tiveram no domingo com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o deputado José Dirceu (PT-SP) e o novo presidente do PT, José Genoino (SP), tinham esses números todos na ponta do lápis. Diante de uma observação de Temer de que não queria que a adesão do PMDB soasse como "fisiológica", Dirceu disse que Lula estava disposto, se for o caso, a fazer um apelo à sigla.
O PT também impôs condições ao PMDB: a indicação de nomes de reconhecida capacidade técnica e de boa reputação. Não pode ser ninguém que tenha participado do governo FHC. A palavra final será de Lula. O mais provável é que escolha os nomes que depois serão assumidos pelo PMDB.
A expectativa de Temer é positiva em relação às consultas que desencadeou nas diversas alas do partido já no domingo. À exceção de Jarbas Vasconcelos (PE), os governadores devem apoiar a adesão do partido ao governo.
No Legislativo, é certo o apoio do líder no Senado, Renan Calheiros (AL), mas o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, demonstram resistência.
Ao contrário do que ocorre com o PMDB em relação ao governo FHC, Temer acredita que a sigla pode ficar bem mais unida no apoio a Lula. O governador eleito do Paraná, Roberto Requião, dissidente histórico, teve pelo menos três conversas convergentes com a cúpula, nos últimos dias.
Um problema é José Sarney (AP), que diverge da direção sobre a eleição para a presidência do Senado, cargo que pleiteia. A cúpula quer decidir o assunto dentro da instância partidária por julgar que pode indicar Calheiros. Dirceu e Genoino prometeram não envolver o novo governo na disputa interna do PMDB.


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