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ELIO GASPARI
De Dr.Antunes@com.br para RogerAgnelli@gov.br
Os senhores jogaram dinheiro pela janela. Vossas
doações não fazem sentido
político nem empresarial
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PREZADO DOUTOR Roger Agnelli,
Felicito-o pela maneira como
vem presidindo a Companhia
Vale do Rio Doce. Quando o senhor
nasceu, em 1958, eu era um cinqüentão, dono de uma grande mineradora
privada. Em 1996, quando vim para cá,
o senhor ainda trabalhava no Bradesco.
Fundei a Caemi em 1950 e a MBR em
1965. Hoje ambas estão sob seu comando. O senhor é tudo o que quis ser: executivo da grande mineradora, livre da
peste estatista. Sou tudo o que o senhor
gostaria de ser, um magnata que silencia auditório. Um garoto que começou
como postalista e foi chamado de "doutor Antunes" por 11 presidentes.
Desde o início do ano, acompanho a
extravagante distribuição de dinheiro
da Vale para políticos. Inquieta-me a
dimensão da vossa prodigalidade com
o patrimônio dos acionistas. Pelos meu
cálculos, os senhores distribuíram uns
US$ 15 milhões. (Vamos fazer de conta
que não sei das pesquisas presenteadas. As coisas que a gente ouve aqui não
pode revelar aí.) Contei o caso da Vale
ao John Kennedy e ele duvidou, pois
nos Estados Unidos nenhuma empresa
praticou tamanha filantropia política.
O moço se lembrou do dinheiro que jogou no Brasil no início dos anos 60. Foram menos de US$ 10 milhões.
Nunca desembolsei quantias parecidas com as suas. Sempre fui um organizador. Quando o senhor Luiz Inácio
apareceu com suas greves no ABC, vi
nele uma reedição dos agitadores do
peleguismo janguista. Mudei de idéia
quando visitou uma das
minhas empresas e derramou-se em
elogios aos meus netos. (Queira Deus
que tenha aprimorado sua acuidade
analítica.)
Surpreendeu-me também a dispersão das doações. Os senhores jogaram
dinheiro pela janela. Financiaram dois
candidatos a presidente e contribuíram para a eleição de 48 deputados. A
vossa lista não faz sentido ideológico,
político e muito menos empresarial. A
maneira tortuosa usada para repassar
as doações leva-me a suspeitar que a
decisão saiu da iniciativa de algum diretor bem relacionado em Brasília, capaz de resolver quaisquer problemas.
Saiba, dr. Agnelli, que imensos são os
problemas que essa espécie cria.
Permita-me um conselho: tire a Vale
das páginas políticas dos jornais. Se
possível, tire-a de todas as páginas. O
Glycon de Paiva, glória de nossa geologia e um dos mais ativos articuladores
da relação do empresariado com os políticos sempre repete: "Opinião pública
significa dinheiro". Como o senhor viu,
dinheiro demais. Respeitosamente,
Augusto Trajano de Azevedo Antunes
P.S. - Sugiro-lhe que passe os olhos
num livro que saiu aí, a meu respeito.
Chama-se "Mineração no Brasil - Augusto Antunes, o homem que realizava". Foi patrocinado pela MBR e é informativo. Para meu modo de ser, um
pouco derramado nos elogios.
O SUAVE MINIMALISMO DE MARINA SILVA
O comi$$ariado quer fritar Marina Silva, ministra
do Meio Ambiente, miúda
militante de causas antipáticas às empreiteiras da filantropia política. Diante
da frigideira, ela entrou para a galeria dos ministros
que fazem história com
uma frase saída da alma.
Quando o repórter Gerson
Camarotti perguntou-lhe
se afrouxaria os seus critérios, respondeu:
"Eu perco o pescoço, mas
não perco o juízo".
Ecoou Simões Filho, demitido por Getúlio Vargas,
quando recusou-se a atacar
o governo: "Perdi o ministério, mas não perdi a educação". Ou Eduardo Portela, em 1980: "Não sou ministro, estou ministro".
Marina Silva é uma das
mulheres mais elegantes do
Brasil. É uma instalação de
minimalismo pessoal, administrativo e político. Suas
falas são gentis, curtas e claras. Num governo velho,
ainda é o que há de novo.
ALÍVIO
Lula já ouviu de um sábio que
pode fazer o arranjo que bem
entender, mas ficará em minoria no Senado. Essa é a notícia
ruim. A boa é que para ter
maioria precisa do PSDB. Como se sabe, os senadores tucanos são como os petistas: só fazem oposição a eles mesmos.
MERCADO TIRANO
Vai ao martelo hoje na casa
de leilões Sotheby's de Nova
York um manuscrito de Stálin.
Está avaliado entre US$ 30 mil
e US$ 50 mil. Trata-se de um
bilhete de 1930, escrito a lápis,
comutando a pena de morte do
general Andrei Snesaryev, um
matemático que falava 14 idiomas e, nos anos 20, escreveu
um livro explicando que a
URSS não devia se meter com o
Afeganistão.
No mercado americano de
autógrafos só existem dois manuscritos de Stálin. Comutando pena de morte, deve ser um
dos poucos no mundo. (Snesaryev foi mandado ao Gulag por
dez anos e lá morreu.)
Uma carta de Napoleão, do
tempo em que se assinava
"Buonapart", está avaliada em
até US$ 25 mil.
INÉPCIA IMPERIAL
Se as empresas do embaixador americano Clifford Sobel
tivessem o desempenho de
seus consulados, ele nunca teria conseguido sair da lista dos
empreendedores anônimos de
Nova Jersey. Em agosto, quando chegou ao Brasil, o consulado no Rio de Janeiro impunha
49 dias de espera aos nativos
que pediam visto de entrada
nos Estados Unidos. A demora
subiu para 72 dias. Em São Paulo, a fila passou de 73 para 86
dias. Em Brasília, de 32 para 49.
Em Assunção a rotina continua
civilizada: dois dias.
DILMÊS
O apagão aéreo trincou o encanto de gerentona da ministra
Dilma Rousseff. Há gente que
fala e faz. Até agora, a doutora
não fez e, quando falou, maltratou o idioma. Ela promete a
"eficientização" do governo.
Há um mês, a ministra divulgou uma nota informando que
seriam tomadas "as medidas
necessárias" para resolver o
problema dos aeroportos "no
menor espaço de tempo possível".
Sua contribuição eficientizante no setor aéreo foi o co-patrocínio da nomeação de Milton Zuanazzi para a Agência
Nacional de Aviação Civil. O
doutor revelou-se um completo ineficientista.
O único avião que pousa e decola nos horários previstos é o
AeroLula.
NATASHA E O LULÊS
Madame Natasha tem horror
a Nosso Guia. Quando está zangada, acusa-o de planejar o reconhecimento do nheengatu
como língua oficial dos brasileiros. A senhora prefere ouvir
Borat Sadiyev, jornalista da
Gloriosa Nação do Cazaquistão.
Outro dia Natasha ouviu Lula
dizer o seguinte:
"Como é que a gente vai educar a sociedade brasileira de
que as coisas boas acontecem
em maior número que as coisas
ruins no país?"
Madame acredita que Lula
deve baixar uma medida provisória isentando-se do cumprimento das regras de regência
dos verbos. Não é a sociedade
quem precisa de melhor educação. É ele.
(Quem quiser ouvir Borat,
ele está disponível na internet,
no Official Borat Homesite.)
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