São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Procuradoria vai investigar origem de euros

Juiz nega pedido de liberdade provisória a réu do mensalão, preso em aeroporto com 361 mil nas meias, cueca e em pasta

Advogado do empresário Enivaldo Quadrado diz que "imprecisões e incoerências constantes no auto de prisão precisam ser esclarecidas"


ANA FLOR
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Federal deverá investigar a origem dos 361,4 mil euros apreendidos com o empresário Enivaldo Quadrado, um dos 40 réus do processo que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar o esquema do mensalão. Quadrado foi preso pela Polícia Federal na madrugada do último sábado no aeroporto de Guarulhos (Grande São Paulo), horas depois de desembarcar de um vôo proveniente de Portugal. Ao preencher o formulário entregue pela Receita Federal aos passageiros, Quadrado não declarou portar valor acima de R$ 10 mil.
O dinheiro, equivalente a R$ 1,157 milhão ao câmbio de ontem, estava escondido nas meias, na cueca e numa pasta do empresário. Ele foi preso em flagrante sob a acusação de falsidade ideológica, cuja pena prevista varia de um a cinco anos de reclusão.
Em nota distribuída à imprensa às 20h de ontem, o advogado de Quadrado, Antonio Sergio de Moraes Pitombo, disse ter encontrado "imprecisões e incoerências constantes no auto de prisão em flagrante [que] precisam ser devidamente esclarecidas".
O advogado disse que obteve a cópia do inquérito às 18h30 e que, por isso, seria "impossível fazer manifestação" mais completa ainda ontem. A nota não abordou a questão da origem do dinheiro apreendido.
Quadrado disse à PF, ao ser preso, que os euros eram um empréstimo de um amigo estrangeiro. Segundo o delegado da PF Mario Menin Jr., da delegacia localizada no aeroporto, a prisão por suposta falsidade ideológica é procedimento padrão para quem não declara, ao entrar no país, valores superiores a R$ 10 mil. "Só mais tarde descobrimos que ele estava envolvido no mensalão", disse.
Segundo o delegado, Quadrado foi pego por acaso. A revista ocorreu porque a polícia achou suspeito seu comportamento na área de desembarque, onde agentes da polícia circulam para identificar casos de porte de entorpecentes.
O juiz federal de Guarulhos Alessandro Diaféria negou, na noite de anteontem, o pedido de liberdade provisória de Quadrado, que continuava, até o início da noite de ontem, preso no Cadeião de Pinheiros. "Não se faz qualquer juízo de valor sobre o fato de a pessoa responder a inquéritos ou ações penais, em face do princípio da presunção de inocência. (...) No entanto, não há como negar que chama a atenção a expressiva quantia apreendida com o requerente e a preexistência de processo criminal envolvendo "lavagem" de dinheiro; pode ser mera coincidência, mas não há como ignorá-la", decidiu o juiz.
A origem dos recursos será investigada, segundo informou, por meio da assessoria de comunicação da Procuradoria da República em São Paulo, o procurador da República que atua no caso, Vicente Mandetta. Ele explicou que deverá abrir um novo inquérito, específico para apurar a origem do dinheiro, após a conclusão da investigação que trata da suposta falsidade ideológica. O novo inquérito deverá tramitar na Justiça Federal de São Paulo, que possui vara especializada em apurar lavagem de dinheiro.
Quadrado é ex-sócio da corretora de valores Bônus-Banval, de São Paulo, investigada no caso do mensalão. A corretora teria distribuído recursos repassados pelo publicitário Marcos Valério a pedido de Delúbio Soares, então tesoureiro do Diretório Nacional do PT.


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