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Procuradoria vai investigar origem de euros
Juiz nega pedido de liberdade provisória a réu do mensalão, preso em aeroporto com 361 mil nas meias, cueca e em pasta
Advogado do empresário Enivaldo Quadrado diz que "imprecisões e incoerências constantes no auto de prisão precisam ser esclarecidas"
ANA FLOR
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
deverá investigar a origem dos
361,4 mil euros apreendidos com o
empresário Enivaldo Quadrado, um dos 40 réus do processo
que tramita no STF (Supremo
Tribunal Federal) para investigar o esquema do mensalão.
Quadrado foi preso pela Polícia
Federal na madrugada do último sábado no aeroporto de
Guarulhos (Grande São Paulo),
horas depois de desembarcar
de um vôo proveniente de Portugal. Ao preencher o formulário entregue pela Receita Federal aos passageiros, Quadrado
não declarou portar valor acima de R$ 10 mil.
O dinheiro, equivalente a
R$ 1,157 milhão ao câmbio de
ontem, estava escondido nas
meias, na cueca e numa pasta
do empresário. Ele foi preso em
flagrante sob a acusação de falsidade ideológica, cuja pena
prevista varia de um a cinco
anos de reclusão.
Em nota distribuída à imprensa às 20h de ontem, o advogado de Quadrado, Antonio
Sergio de Moraes Pitombo, disse ter encontrado "imprecisões
e incoerências constantes no
auto de prisão em flagrante
[que] precisam ser devidamente esclarecidas".
O advogado disse que obteve
a cópia do inquérito às 18h30 e
que, por isso, seria "impossível
fazer manifestação" mais completa ainda ontem. A nota não
abordou a questão da origem
do dinheiro apreendido.
Quadrado disse à PF, ao ser
preso, que os euros eram um
empréstimo de um amigo estrangeiro. Segundo o delegado
da PF Mario Menin Jr., da delegacia localizada no aeroporto, a
prisão por suposta falsidade
ideológica é procedimento padrão para quem não declara, ao
entrar no país, valores superiores a R$ 10 mil. "Só mais tarde
descobrimos que ele estava envolvido no mensalão", disse.
Segundo o delegado, Quadrado foi pego por acaso. A revista
ocorreu porque a polícia achou
suspeito seu comportamento
na área de desembarque, onde
agentes da polícia circulam para identificar casos de porte de
entorpecentes.
O juiz federal de Guarulhos
Alessandro Diaféria negou, na
noite de anteontem, o pedido
de liberdade provisória de Quadrado, que continuava, até o
início da noite de ontem, preso
no Cadeião de Pinheiros. "Não
se faz qualquer juízo de valor
sobre o fato de a pessoa responder a inquéritos ou ações penais, em face do princípio da
presunção de inocência. (...) No
entanto, não há como negar
que chama a atenção a expressiva quantia apreendida com o
requerente e a preexistência de
processo criminal envolvendo
"lavagem" de dinheiro; pode ser
mera coincidência, mas não há
como ignorá-la", decidiu o juiz.
A origem dos recursos será
investigada, segundo informou,
por meio da assessoria de comunicação da Procuradoria da
República em São Paulo, o procurador da República que atua
no caso, Vicente Mandetta. Ele
explicou que deverá abrir um
novo inquérito, específico para
apurar a origem do dinheiro,
após a conclusão da investigação que trata da suposta falsidade ideológica. O novo inquérito deverá tramitar na Justiça
Federal de São Paulo, que possui vara especializada em apurar lavagem de dinheiro.
Quadrado é ex-sócio da corretora de valores Bônus-Banval, de São Paulo, investigada
no caso do mensalão. A corretora teria distribuído recursos
repassados pelo publicitário
Marcos Valério a pedido de Delúbio Soares, então tesoureiro
do Diretório Nacional do PT.
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