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Decisão do STF pode ameaçar 227 áreas
Documento da Funai revela que essas terras indígenas ainda passam por análise e poderão ser afetadas pelo resultado de hoje
Resultado do julgamento que continua hoje no STF deve definir os parâmetros a serem seguidos na definição de novas áreas do país
LUCAS FERRAZ
FELIPE SELIGMAN
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tendência de o Supremo
Tribunal Federal decidir por
uma proposta intermediária no
julgamento de hoje sobre a Raposa/Serra do Sol (RR) colocará em risco pelo menos outras
227 terras indígenas que ainda
se encontram em análise administrativa, revela documento
oficial obtido pela Folha.
Nesses pouco mais de 9 milhões de hectares, o equivalente a Santa Catarina inteira, vivem cerca de 35 mil índios.
O documento da Diretoria de
Assuntos Fundiários da Funai
(Fundação Nacional do Índio)
revela a situação das terras indígenas no país, a maioria localizada na Amazônia Legal: 138
estão em estudo; 25, delimitadas; 45, declaradas; 19, homologadas; e 426, já regularizadas,
como a Raposa/Serra do Sol.
A Funai, contudo, não descarta que o julgamento do STF
coloque em risco até mesmo as
áreas já regularizadas. O exemplo mais forte é a própria Raposa, região judicializada pelo Supremo desde abril, quando a
Polícia Federal realizava a retirada do local dos não-índios.
Homologada em 2005 pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a Raposa/Serra do Sol,
encravada no extremo norte de
Roraima, é habitada por cerca
de 18 mil índios de cinco diferentes etnias. Com 1,7 milhão
de hectares, a reserva tem superfície suficiente para agrupar
11 cidades de São Paulo.
O resultado do julgamento
que será retomado hoje, segundo declarações de ministros da
Corte, definirá os parâmetros a
serem seguidos na demarcação
de novas áreas indígenas.
Há hoje no país 653 terras indígenas espalhadas em pouco
mais de 107 milhões de hectares (12,6% de todo o território
nacional). Em extensão, 98%
dessas reservas estão na Amazônia, onde fica 60% da população indígena, estimada em
450 mil índios distribuídos em
mais de 208 grupos étnicos -a
Funai projeta que 250 mil índios estejam em áreas urbanas.
"A possível modificação da
demarcação contínua poderia
abrir brecha para que outras
terras indígenas sejam questionadas judicialmente", disse
Márcio Meira, presidente da
Funai, que visitou ontem gabinetes de ministros do STF.
Ele estava acompanhado da
senadora Marina Silva (PT-AC) e de Elésio Macuxi, prefeito eleito de Uiramutã (RR).
Como Meira, movimentos
sociais, parlamentares e integrantes das Forças Armadas
intensificaram, nas últimas semanas, as visitas ao Supremo.
Há uma maioria de ministros, segundo apurou a Folha,
que defende modificações na
reserva indígena, mas ainda
sem consenso de como isso seria feito. Para alguns, as dimensões da demarcação deveriam
ser mantidas, mas com flexibilização para atender às demandas do governo do Estado e dos
arrozeiros, como a criação de
"ilhas", e das Forças Armadas,
que idealizam "faixas" na zona
de fronteira de modo a proteger a soberania nacional.
Outros, porém, podem sugerir não modificar a Raposa,
mas definir regras para futuras
demarcações. A única certeza
ontem era a de que a solução final será construída no decorrer
do julgamento.
Sobre o risco à soberania nacional, a Funai diz que o argumento é falso. Paulo Santilli,
coordenador-geral de Identificação e Delimitação da Funai,
cita que há em faixas de fronteiras outras terras indígenas,
como a reserva dos Ianomâmi
(Roraima-Venezuela), que
nunca representaram ameaça.
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