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JANIO DE FREITAS
De iguais para iguais
O governo Lula propõe-se a
uma aliança ampla e sólida
com o malufismo, a ser formalizada por entrega de pelo menos
um ministério e outros cargos a
indicados de Paulo Maluf e seus
correligionários. Mas o objetivo
não é, como se esperaria de uma
reforma ministerial, o fortalecimento da base governamental no
Congresso. A verdadeira retribuição pretendida pela oferta é o
compromisso de Paulo Maluf de
apoiar a candidatura de Marta
Suplicy à reeleição.
O esforço do governo Lula para
compensar o pequeno êxito da
prefeita, sétima colocada na avaliação pública de nove prefeitos
de capitais, já leva a extremos o
envolvimento pessoal de Lula no
apoio a Marta Suplicy, inclusive
com uso de atos estritamente federais. O objetivo e a maneira da
pretendida incorporação do malufismo ao governo vão muito
além: é o envolvimento da administração, seu uso como moeda de
transação eleitoral, com fins,
além de partidários, até personificados.
Isso, antes das grandes mudanças petistas, chamava-se fisiologismo. Um modo de evitar dizer
corrupção política ou corrupção
eleitoral. Nem todas as formas de
corrupção estão qualificadas como tais nos códigos punitivos. Ou
porque lhes dariam dimensões
enciclopédicas, ou porque, ao
tempo em que foram pensados,
não se imaginava que a degradação da política fosse levada até
onde chegou.
Se aceita a condição para o PP
integrar o governo, por que não
dar o ministério a quem melhor
simbolizaria a nova fraternidade
de petismo e malufismo? Ministro
Paulo Maluf.
Lá e cá
É muito expressiva do "Brasil
moderno", este país em que sua
pequena Bolsa de Valores influi
mais do que o Ministério da Fazenda, a tão difundida dificuldade de compreender ou aceitar que
a represália brasileira, na recepção oficial a viajantes norte-americanos, é uma cobrança de respeito à nacionalidade dos cidadãos do Brasil que viajam aos Estados Unidos. Represália, sim,
não há que temer a palavra, designadora de numerosos modos
de ação historicamente consagrados e legitimados em leis das relações entre países.
A prevalência dos interesses financeiros e mercantis sobre tudo
o mais sintetiza, neste entrevero,
toda uma mentalidade com pouco ou nenhum espaço para abrigar, também, valores menos objetivos. Não os nega sempre, mas
não os vive nunca.
As "razões de defesa" alegadas
pelos Estados Unidos, para aplicar tratamento degradante em
suas alfândegas, são mais do que
incoerentes: são suspeitas mesmo,
suspeitas de servirem a propósitos
que não são preventivos de coisa
alguma, quanto mais de terrorismo.
Um exemplo. Entre os 28 países
cujos viajantes ficam isentados de
fichações e revistas humilhantes,
na chegada aos Estados Unidos,
está a Alemanha. Mas os governos da Alemanha e dos Estados
Unidos afirmam a existência de
uma rede terrorista dividida por
várias cidades alemãs, daí saindo
vários dos envolvidos no ataque
às torres de Nova York e ao Pentágono. Agora mesmo ocorre na
Alemanha o julgamento de outro
presumido integrante da Al Qaeda preso por lá.
A suspensão de todos os vôos da
Air France para os Estados Unidos, no fim do ano, decorreu de
exigência dos Estados Unidos,
que disporia de informação segura sobre um passageiro apontado
como terrorista. Os franceses investigaram tudo e todos. Nada.
Há poucos dias, deram, enfim, o
nome pedido pelos franceses: Hai.
Como Silva ou Souza em grande
parte da Ásia. No caso, era de
uma criança. Foi erro? Mas seria
tão simples verificar quem era esse Hai, ou, em vez de suspender o
seu e tantos outros vôos, prendê-lo ao se apresentar para embarque. Providências assim só teriam
o inconveniente de não produzir
o noticiário que ocupou tanto
tempo e espaço de TVs e jornais,
com centro sub-reptício no governo capaz de ir aos extremos na
pretensa proteção dos seus cidadãos. Mesmo que, com frequência, a demonstração se faça à custa de pacíficos e decentes cidadãos que o acaso não fez nascerem sob o poder norte-americano.
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