São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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COMPANHEIROS NO PODER

De ministros a presidentes de estatais, antiga classe sindical ocupa cargos em governo do PT

Lula dá emprego a mais de 40 sindicalistas

DA REDAÇÃO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A "república sindicalista" está no poder. A nomeação do ex-sindicalista Pedro Jaime Ziller, na semana passada, como novo presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostra que, ao menos no quesito "histórico sindical", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conseguido montar seu governo à sua imagem e semelhança.
Ex-sindicalista, Lula faz questão de manter próximos seus pares. Levantamento feito pela Folha mostra que pelo menos 44 deles figuram nos vários escalões do Executivo. São ministros, assessores especiais, secretários, diretores, presidentes de estatais, dirigentes de fundos de pensão e de outras entidades ligadas ao governo federal.
No primeiro escalão, 12 são os ministros que já foram integrantes de sindicatos. Um deles é Jaques Wagner (Trabalho). Em sua pasta está Osvaldo Martinês Bargas. Como secretário de Relações do Trabalho, comanda as discussões sobre as reformas sindical e trabalhista do governo Lula.
Amigo íntimo do presidente, Bargas foi, entre outras coisas, secretário de relações internacionais da CUT (Central Única dos Trabalhadores). No ano passado, foi apontado em reportagens da revista "Veja" como integrante de um suposto grupo que preparava dossiês contra adversários do então candidato Lula nas eleições de 2002. O secretário nega.
Enquanto sindicalista, desempenhou função diplomática: mediou crise que envolveu o sequestro, pelo Exército de Libertação Nacional, de funcionários da Petrobras na Colômbia, em 1989.
Heiguiberto Guiba Della Bella Navarro, outro ex-companheiro de sindicato, também ocupa um dos galhos da ramificação da pasta do Trabalho. Ex-ferramenteiro na Ford em 1967, hoje chefia a Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo. Guiba, ao lado de Lula e de outros nomes do sindicalismo, participou das grandes greves de 1979 e 1980 no ABC paulista. No Sindicato dos Metalúrgicos, foi presidente de 1994 a 1996.

Contra privatizações
Em outras pastas, o segundo e o terceiro escalão também têm representantes sindicais. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, por exemplo, tem como um de seus principais auxiliares o economista Marcelo Sereno. Ex-secretário de gabinete de Benedita da Silva no governo do Rio, ele já foi secretário de Organização da CUT.
Como funcionário da Companhia Vale do Rio Doce, Sereno foi combativo na postura contrária à privatização, em 1997. Sua experiência em atacar a venda de estatais para a iniciativa privada já era antiga. Em 1991, chegou a ser procurado pela polícia do Rio de Janeiro por supostamente ter agredido investidores durante o processo de privatização da Usiminas. Sereno negou ter agredido qualquer pessoa no episódio.
Conhecido por liderar, ao lado do presidente, as greves no ABC durante o regime militar e por ter sido o primeiro presidente da CUT, Jair Antonio Meneguelli está hoje na presidência do Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria). Meneguelli cursou o Senai, assim como Lula, cumprindo estágio na Willys Overland em 1963, onde foi contratado na empresa, que, em 1971, passou a chamar-se Ford do Brasil. Foi um dos líderes da "Operação Vaca Brava", protesto em que se quebrava máquinas das montadoras de automóveis de São Bernardo. Estima-se que seu salário hoje é de cerca de R$ 19 mil. (VINICIUS ALBUQUERQUE, JULIANNA SOFIA E VIRGILIO ABRANCHES)


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