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COMPANHEIROS NO PODER
De ministros a presidentes de estatais, antiga classe sindical ocupa cargos em governo do PT
Lula dá emprego a mais de 40 sindicalistas
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A "república sindicalista" está
no poder. A nomeação do ex-sindicalista Pedro Jaime Ziller, na semana passada, como novo presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostra
que, ao menos no quesito "histórico sindical", o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem conseguido montar seu governo à sua imagem e semelhança.
Ex-sindicalista, Lula faz questão
de manter próximos seus pares.
Levantamento feito pela Folha
mostra que pelo menos 44 deles
figuram nos vários escalões do
Executivo. São ministros, assessores especiais, secretários, diretores, presidentes de estatais, dirigentes de fundos de pensão e de
outras entidades ligadas ao governo federal.
No primeiro escalão, 12 são os
ministros que já foram integrantes de sindicatos. Um deles é Jaques Wagner (Trabalho). Em sua
pasta está Osvaldo Martinês Bargas. Como secretário de Relações
do Trabalho, comanda as discussões sobre as reformas sindical e
trabalhista do governo Lula.
Amigo íntimo do presidente,
Bargas foi, entre outras coisas, secretário de relações internacionais da CUT (Central Única dos
Trabalhadores). No ano passado,
foi apontado em reportagens da
revista "Veja" como integrante de
um suposto grupo que preparava
dossiês contra adversários do então candidato Lula nas eleições de
2002. O secretário nega.
Enquanto sindicalista, desempenhou função diplomática: mediou crise que envolveu o sequestro, pelo Exército de Libertação
Nacional, de funcionários da Petrobras na Colômbia, em 1989.
Heiguiberto Guiba Della Bella
Navarro, outro ex-companheiro
de sindicato, também ocupa um
dos galhos da ramificação da pasta do Trabalho. Ex-ferramenteiro
na Ford em 1967, hoje chefia a Delegacia Regional do Trabalho em
São Paulo. Guiba, ao lado de Lula
e de outros nomes do sindicalismo, participou das grandes greves de 1979 e 1980 no ABC paulista. No Sindicato dos Metalúrgicos, foi presidente de 1994 a 1996.
Contra privatizações
Em outras pastas, o segundo e o
terceiro escalão também têm representantes sindicais. O ministro
da Casa Civil, José Dirceu, por
exemplo, tem como um de seus
principais auxiliares o economista Marcelo Sereno. Ex-secretário
de gabinete de Benedita da Silva
no governo do Rio, ele já foi secretário de Organização da CUT.
Como funcionário da Companhia Vale do Rio Doce, Sereno foi
combativo na postura contrária à
privatização, em 1997. Sua experiência em atacar a venda de estatais para a iniciativa privada já era
antiga. Em 1991, chegou a ser procurado pela polícia do Rio de Janeiro por supostamente ter agredido investidores durante o processo de privatização da Usiminas. Sereno negou ter agredido
qualquer pessoa no episódio.
Conhecido por liderar, ao lado
do presidente, as greves no ABC
durante o regime militar e por ter
sido o primeiro presidente da
CUT, Jair Antonio Meneguelli está hoje na presidência do Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria). Meneguelli cursou o Senai, assim como Lula,
cumprindo estágio na Willys
Overland em 1963, onde foi contratado na empresa, que, em 1971,
passou a chamar-se Ford do Brasil. Foi um dos líderes da "Operação Vaca Brava", protesto em que
se quebrava máquinas das montadoras de automóveis de São
Bernardo. Estima-se que seu salário hoje é de cerca de R$ 19 mil.
(VINICIUS ALBUQUERQUE, JULIANNA SOFIA E VIRGILIO ABRANCHES)
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