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Gasto com seguridade social caiu pela 1ª vez em 12 anos
Área deve ter absorvido de 12,6% a 12,9% do PIB em 2008, contra 13% no ano anterior
Queda do gasto em relação ao PIB indica que governo deixou de ampliar políticas sociais e agora quer acelerar as obras de infraestrutura
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados preliminares da execução do Orçamento apontam
que os gastos federais com a seguridade social caíram no ano
passado, como proporção da
renda nacional, pela primeira
vez em 12 anos -ou, dito de outra forma, no período de três
mandatos presidenciais.
Definida pela Constituição, a
seguridade compreende as políticas públicas mais diretamente ligadas à subsistência
das famílias, como previdência,
saúde, benefícios assistenciais
e seguro-desemprego, entre
outras. Esse grupo de programas e ações foi, de longe, o
maior responsável pela elevação contínua dos gastos do governo desde a década passada.
No período, a conta da seguridade passou de menos de 10%
para o equivalente a 13% do
PIB em 2007, e a despesa total
da União subiu de 14,5% para
pouco mais de 18% do PIB. Em
2008, mesmo com recordes sucessivos da arrecadação de impostos, a trajetória do gasto social foi interrompida.
Entre salários, custeio administrativo, compras de medicamentos, repasses a Estados e
municípios, investimentos e,
principalmente, transferências
diretas de renda a sua clientela,
a seguridade consumiu R$ 372
bilhões no ano passado, segundo registros quase idênticos do
sistema de acompanhamento
dos gastos federais oferecido
pelo Senado e da ONG Contas
Abertas, especializada no setor.
O montante, ainda sujeito a
ajustes, equivale a algo entre
12,6% e 12,9% do PIB, dependendo das estimativas para o
crescimento econômico e a inflação consultadas pela Folha
no Ministério do Planejamento, na Confederação Nacional
da Indústria e nas empresas de
consultoria Tendências, LCA e
Rosenberg & Associados.
Mesmo medida em décimos
de pontos percentuais, a variação da despesa pode ter efeitos
sociais e políticos decisivos.
Quando o governo Lula transformou o antigo Bolsa Escola
no Bolsa Família, por exemplo,
o gasto público foi elevado em,
exatamente, 0,25% do PIB -e
ao longo de seis anos.
A queda do gasto como proporção do produto não significa, necessariamente, piora dos
serviços sociais; as despesas,
afinal, continuam subindo acima da inflação. Trata-se, isso
sim, de um deslocamento de
prioridades, uma vez que a receita e a despesa dos governos
sobem com o PIB e, no caso
brasileiro, em ritmo até superior ao da renda nacional. Em
outras palavras, a seguridade,
bandeira histórica do PT, perdeu espaço no Orçamento.
Medidas para conter a escalada das despesas permanentes
do Tesouro Nacional começaram a ser discutidas pelo governo Lula em 2005, foram
deixadas de lado no ano reeleitoral de 2006 e acabaram reaparecendo, em versão menos
ambiciosa, no lançamento do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) em 2007.
Com dois projetos de lei,
procurava-se controlar a expansão dos dois principais gastos federais. Para limitar os benefícios previdenciários, foi
proposto que os reajustes do
salário mínimo não deveriam
superar a inflação e o crescimento do PIB de dois anos antes; para a folha de salários do
funcionalismo, previu-se que o
aumento anual respeitaria um
teto de 1,5% acima da inflação.
Em tese, a estratégia deveria
permitir, sem aumento da carga tributária, mais recursos para as obras de infraestrutura
gerenciadas pela ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff,
apontada por Lula como potencial candidata à sucessão
presidencial. Só parte do plano,
porém, foi posta em prática.
Mesmo sem ter sido aprovada pelo Congresso, a regra do
salário mínimo foi usada pela
primeira vez em 2008, o que
resultou no menor reajuste em
quatro anos. Em contraste com
os 13% no ano da reeleição, o
ganho real ficou na casa dos
4%, enquanto a economia se
expandia a mais de 5%.
Surtiu efeito ainda a política
de endurecer os critérios de
concessão do auxílio-doença,
benefício que teve crescimento
explosivo nesta década. Apresentado pelo governo como alternativa a uma reforma previdenciária impopular, o controle conseguiu reduzir essa despesa de R$ 17,7 bilhões, em
2007, para R$ 16 bilhões.
Impulsionados pelo PAC, os
investimentos cresceram como
proporção do PIB, embora
abaixo das metas oficiais. E, ao
contrário do que previa o programa, o governo concedeu um
pacote de reajustes salariais ao
funcionalismo -e os gastos
com pessoal, assim como a carga tributária, voltaram a crescer mais que a economia.
CPMF
Com R$ 50 bilhões disponíveis no Orçamento, a saúde responde pela segunda maior fatia
da seguridade e é o setor do governo que mais destina dinheiro a Estados, municípios e empresas privadas. Uma disputa
política em torno dos recursos
e de seu financiamento levou a
um impasse que evitou a prometida expansão dos gastos.
Nos últimos dois anos, a bancada de parlamentares ligada à
saúde, uma das mais influentes
do Congresso, fez avançar um
projeto para ampliar as despesas obrigatórias no setor. Nas
negociações, Lula e os governadores condicionaram a medida
à prorrogação da CPMF, que
acabou derrubada no Senado, e,
depois, à sua recriação.
Sem as verbas adicionais prometidas no "PAC da Saúde",
prevaleceu a regra em vigor
desde 2000, que determina a
correção anual dos gastos pelo
crescimento nominal, incluindo a variação da inflação, do
PIB do ano anterior -e, como a
inflação de 2008 superou a de
2007, o gasto em saúde teve, em
vez de alta, uma pequena queda
como proporção do produto.
O crescimento econômico
acelerado contribui para estabilizar ou reduzir os gastos públicos em relação ao PIB. Nos
anos de mais prosperidade, como 2000, 2004 e 2007, o custo
da seguridade subiu menos.
Por isso os resultados dos ajustes feitos pelo governo na Previdência estarão em xeque em
2009 devido à crise econômica.
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