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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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JUSTIÇA

Ministério Público tenta derrubar lei sancionada por FHC

Decisão do TJ paulista considera foro privilegiado inconstitucional

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão de três desembargadores paulistas, que negaram a um prefeito do interior de São Paulo a possibilidade de ver seu processo subir automaticamente a uma instância superior, transformou-se na grande arma do Ministério Público para tentar derrubar a lei que concede foro privilegiado a autoridades e a ex-ocupantes de cargos públicos.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, que encaminhou aos promotores um "aviso" para que contestem juridicamente a lei federal, espera que a decisão paulista contagie outros Estados brasileiros.
A polêmica é uma herança de Fernando Henrique Cardoso. Sete dias antes de deixar a Presidência, ele sancionou a lei nš 10.628 que garante julgamento em condições especiais a autoridades investigadas por improbidade administrativa e amplia esse benefício aos que deixaram o cargo.
Numa reação imediata, o prefeito de Dracena, Elzio Stelato Júnior, investigado por má gestão pública, pediu a transferência de seu processo para o Tribunal de Justiça. Com isso, a ação praticamente voltaria à estaca zero. O pedido foi negado pelos desembargadores Antonio Rulli, Yoshiaki Ichihara e Sidnei Beneti, no último dia 24.
Em sua decisão, Rulli disse que a lei federal não é o instrumento legal para modificar a Constituição. "Fica rejeitada a preliminar de incompetência de foro por prerrogativa de função, pois a lei federal não encontra fundamento na Constituição Federal de 1988."
Marrey afirmou que apresentará essa decisão na primeira reunião do Conselho Nacional de Procuradores de Justiça, que ocorre amanhã, em Brasília.
"É uma primeira decisão, mas que já sinaliza um entendimento jurídico no sentido de que essa lei é realmente inconstitucional. Para uma mudança de competência como essa, deverá haver uma reforma constitucional. Isso não pode ser feito por meio de lei ordinária", afirmou Marrey.

Maluf
Como ex-prefeito e ex-governador, Paulo Maluf também tenta na Justiça a transferência das investigações que correm contra ele para uma instância superior. Hoje, essas apurações estão concentradas nas mãos de promotores e de juízes estaduais.
Para seu advogado, Ricardo Tosto, a decisão dos desembargadores é isolada e não constituiu uma jurisprudência do Tribunal de Justiça. Tosto quer que os promotores da capital sejam considerados impedidos de investigar um suposto esquema de corrupção envolvendo o ex-prefeito.
Diante da recente decisão do TJ e da recomendação do procurador-geral de Justiça, o promotor Silvio Marques, que encabeça as investigações contra Maluf, disse que irá continuar seu trabalho.


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