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Ministro deve ocupar vácuo político
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro Antonio Palocci deve sair da Fazenda para coordenar
a campanha do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva à reeleição e
depois ser deslocado para a coordenação política num eventual segundo mandato. A intenção de
Palocci é se preparar para ser candidato a presidente em 2010.
Palocci tem dito a interlocutores
que "já deu o que tinha de dar" na
economia, que está consolidada e
pode ser tocada por "piloto automático", como o secretário-executivo, Murilo Portugal. Palocci
se diz pronto para "novos passos"
e para preencher um "vácuo político" no governo Lula.
Com a queda de José Dirceu,
que saiu da Casa Civil e teve seu
mandato de deputado federal cassado, ele passa a ser o principal
nome do PT para disputar a Presidência em 2010. Para isso, precisa
sair da economia e voltar a fazer
política diretamente.
Pesam ainda na vontade de sair
do ministro dois fatores: a pressão
da família, que se assusta ao ver
Palocci em CPIs e em manchetes,
e a avaliação de que seria prudente ter um mandato de deputado
federal a partir de 2007. Como o
Ministério Público e a Polícia Federal continuam apurando sua
gestão na Prefeitura de Ribeirão
Preto, ele ficaria garantido com
direito a foro especial.
Vácuo politico
Nas avaliações internas do governo, a guinada de Palocci da
economia para a política atende a
interesses do próprio Lula, que
tem recorrido ao ministro nas várias frentes em que atua: a reforma ministerial de março, a montagem de sua campanha e o desenho do segundo mandato, caso
vença as eleições.
Lula concentrou a articulação
política no seu gabinete, inclusive
com o PMDB e os partidos aliados
ao governo, e se ressente de intermediários de peso, por exemplo,
com os governadores peemedebistas, especialmente os do Sul,
como já foi José Dirceu.
Uma das dificuldades é justamente compatibilizar os interesses eleitorais do PT com os dos
partidos aliados, como PSB e PC
do B, e os de potenciais aliados,
como PTB. O presidente do PT,
Ricardo Berzoini, não é considerado defensor incondicional dos
interesses de Lula e do governo.
Conforme a Folha apurou, Lula
se dá bem com a atual equipe palaciana, mas considera que ela
não preenche o vácuo político
deixado por Dirceu e Luiz Gushiken (ex-ministro da Secretaria de
Comunicação).
Dilma Rousseff (Casa Civil) é
mais "operadora" e técnica, Luiz
Dulci (Secretaria de Governo)
cuida dos contatos com entidades
e movimentos sociais e Jaques
Wagner (Relações Institucionais)
tem atuação muito congressual.
Como relataram pelo menos
dois interlocutores recentes de
Lula, ele considera Jaques Wagner muito tático, pontual, para garantir votações específicas na Câmara e no Senado. Mas não é estratégico o suficiente para articular acordos com o PMDB que Lula
considera, hoje, prioritários.
Quem tem esse cacife é Palocci,
que tem trânsito, inclusive, com a
oposição e com o empresariado.
A expectativa é que pelo menos
oito ministros se desincompatibilizem de seus cargos em março
para disputar as eleições, inclusive os do PMDB e o da Defesa, José
Alencar, vice-presidente da República. Lula quer usar as vagas para
reforçar suas alianças partidárias
durante a campanha e continua
achando que, apesar de difícil, um
bom acordo eleitoral com o
PMDB ainda é possível.
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