São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006

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Ministro deve ocupar vácuo político

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro Antonio Palocci deve sair da Fazenda para coordenar a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição e depois ser deslocado para a coordenação política num eventual segundo mandato. A intenção de Palocci é se preparar para ser candidato a presidente em 2010.
Palocci tem dito a interlocutores que "já deu o que tinha de dar" na economia, que está consolidada e pode ser tocada por "piloto automático", como o secretário-executivo, Murilo Portugal. Palocci se diz pronto para "novos passos" e para preencher um "vácuo político" no governo Lula.
Com a queda de José Dirceu, que saiu da Casa Civil e teve seu mandato de deputado federal cassado, ele passa a ser o principal nome do PT para disputar a Presidência em 2010. Para isso, precisa sair da economia e voltar a fazer política diretamente.
Pesam ainda na vontade de sair do ministro dois fatores: a pressão da família, que se assusta ao ver Palocci em CPIs e em manchetes, e a avaliação de que seria prudente ter um mandato de deputado federal a partir de 2007. Como o Ministério Público e a Polícia Federal continuam apurando sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto, ele ficaria garantido com direito a foro especial.

Vácuo politico
Nas avaliações internas do governo, a guinada de Palocci da economia para a política atende a interesses do próprio Lula, que tem recorrido ao ministro nas várias frentes em que atua: a reforma ministerial de março, a montagem de sua campanha e o desenho do segundo mandato, caso vença as eleições.
Lula concentrou a articulação política no seu gabinete, inclusive com o PMDB e os partidos aliados ao governo, e se ressente de intermediários de peso, por exemplo, com os governadores peemedebistas, especialmente os do Sul, como já foi José Dirceu.
Uma das dificuldades é justamente compatibilizar os interesses eleitorais do PT com os dos partidos aliados, como PSB e PC do B, e os de potenciais aliados, como PTB. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, não é considerado defensor incondicional dos interesses de Lula e do governo.
Conforme a Folha apurou, Lula se dá bem com a atual equipe palaciana, mas considera que ela não preenche o vácuo político deixado por Dirceu e Luiz Gushiken (ex-ministro da Secretaria de Comunicação).
Dilma Rousseff (Casa Civil) é mais "operadora" e técnica, Luiz Dulci (Secretaria de Governo) cuida dos contatos com entidades e movimentos sociais e Jaques Wagner (Relações Institucionais) tem atuação muito congressual.
Como relataram pelo menos dois interlocutores recentes de Lula, ele considera Jaques Wagner muito tático, pontual, para garantir votações específicas na Câmara e no Senado. Mas não é estratégico o suficiente para articular acordos com o PMDB que Lula considera, hoje, prioritários.
Quem tem esse cacife é Palocci, que tem trânsito, inclusive, com a oposição e com o empresariado.
A expectativa é que pelo menos oito ministros se desincompatibilizem de seus cargos em março para disputar as eleições, inclusive os do PMDB e o da Defesa, José Alencar, vice-presidente da República. Lula quer usar as vagas para reforçar suas alianças partidárias durante a campanha e continua achando que, apesar de difícil, um bom acordo eleitoral com o PMDB ainda é possível.


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