São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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Tucanos querem abrir duas CPIs para investigar cartões

Estratégia é criar comissão na Câmara paralela à do Senado, incentivada pelo governo

Segundo o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio, a CPI na Câmara terá apoio "razoável de parlamentares sérios de outros partidos"

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante da resistência do governo em criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito mista para investigar o uso de cartões corporativos do governo federal, o PSDB decidiu mudar de estratégia e propor a criação de duas CPIs para o mesmo tema: uma na Câmara e outra no Senado. A idéia será discutida hoje, em reunião dos partidos da oposição na Câmara.
"Se sair a CPI governista do Senado, faremos uma CPI da Câmara. Esta vai ser uma semana decisiva", disse o líder do PSDB, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP), para quem a CPI na Câmara contará com o apoio "razoável de parlamentares sérios de outros partidos" fora os da oposição.
O governo teme que uma CPI mista contamine os trabalhos no Congresso, já que envolverá deputados e senadores, por isso trabalha por uma comissão só no Senado. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), prometeu apresentar hoje as 27 assinaturas para criar a CPI, com ou sem o apoio da oposição na Casa.
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), fará hoje nova tentativa de convencer o governo a aceitar a CPI mista. Ele convidou os líderes do Senado para uma reunião.
Para Agripino, a informação publicada ontem pela Folha de que 44% dos cartões corporativos estão nas mãos de funcionários de confiança do governo reforça a necessidade da CPI.
"Se formos atrás dessas pessoas veremos que são todos indicados do PT. O grande pecado está nos saques em dinheiro que possibilitam comprar para si e para terceiros", disse.
A reportagem reforça "a suspeita de que houve gasto exagerado", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
O objetivo da oposição é descobrir saques que pagaram despesas pessoais da família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Esse pessoal já mostrou que não pode ver cofre. O problema não é o cartão, mas a mentalidade de quem o comanda", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
As declarações do ministro Tarso Genro (Justiça) ontem, de que não há "erros" no uso de cartões e que a oposição criou uma "crise artificial" porque está sem discurso acirrou mais os ânimos. "O ministro deveria ter cautela. Isso pode parar nas mãos dele, pois virou caso de polícia", disse Heráclito.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Alves (RN), disse que a iniciativa do governo de propor uma CPI no Senado dificultará barrar uma CPI também na Câmara. "Se o governo tomou a iniciativa no Senado, não tem como orientar contra na Câmara. Mas não acho correto ter duas CPIs para o mesmo assunto", declarou.
Na contramão dos colegas governistas, Alves reconheceu "descuido" no uso dos cartões. "São deslizes que mostram relaxamento, falta de critério."
Dados do próprio governo indicaram que os cartões foram usados para pagar free shop, hotéis de luxo em feriados, tapioca, aluguéis de carros e até reforma de mesa de sinuca. O escândalo derrubou a ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e levou o ministro Orlando Silva (Esportes) a anunciar a devolução dos R$ 30 mil que gastou até que suas contas sejam auditadas.


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