EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Descumprindo um acordo firmado por escrito em meados do mês passado com representantes dos governos alagoano e federal, cerca de 500 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) bloquearam ontem durante quatro horas a BR-104, em Murici (AL).
De acordo com a versão dos sem-terra, porém, a barricada ocorreu porque não houve a entrega das cestas básicas prometidas pelo governo.
Em 15 de fevereiro, representantes do MST em Alagoas se comprometeram a não bloquear rodovias nem invadir prédios públicos em troca de alimentação às famílias acampadas e vistorias em propriedades no interior do Estado. Além dos sem-terra, assinaram o documento o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, e representantes do governo do Estado (secretaria da Agricultura e Polícia Militar).
O ouvidor agrário nacional afirmou que o governo federal já liberou R$ 75 mil para a compra de cestas básicas ao MST de Alagoas.
"Essa ação é totalmente infundada, inclusive quebrando o nosso acordo. Sem dúvida é uma decepção muito grande, pois estamos cumprindo rigorosamente o acordo que celebramos com eles [MST]", afirmou Silva.
Segundo Silva, que na próxima semana vai a Maceió (AL) para se encontrar com representantes do MST e do governo do Estado, está sendo analisada pela ouvidoria, após a barricada de ontem, a possibilidade de romper as negociações em Alagoas.

Cesta básica
Paulo Vieira, da coordenação estadual do MST e um dos que assinaram o acordo em fevereiro, tem outra versão para a quebra do pacto. "Não recebemos nenhuma cesta básica. Nem governo federal nem estadual mandaram nada para os acampamentos. Eles é que descumpriram o acordo."
Ontem, em Murici, a estrada somente foi liberada após a chegada da Comissão de Direitos Humanos da Polícia Militar, que intermediou uma conversa entre o prefeito da cidade e os sem-terra. Além das cestas básicas, os camponeses pediam infra-estrutura em assentamentos da região.
Desde o início do ano integrantes do MST em Alagoas já promoveram quatro barricadas em rodovias do Estado. Em uma das manifestações, ocorrida no início do mês passado, o secretário estadual da Agricultura, Reinaldo Falcão, foi mantido refém pelos sem-terra durante cinco horas. A ação ocorreu durante o bloqueio de um trecho da rodovia AL-220, em Olho d'Água do Casado (oeste do Estado).


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