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JANIO DE FREITAS
No limite
Dois limites diferentes, e
em parte contraditórios,
estão sendo atingidos por pessoas relevantes no governo.
Luiz Inácio Lula da Silva está
nos últimos espaços anteriores
à demagogia. Seus últimos discursos teriam sentido em um
candidato, não em um presidente, que deve falar de decisões e de atos, em vez de promessas e pedidos de que sejam
acreditadas. Mal dá para crer
que, em mais um avanço na linha de presidente-candidato,
Lula tenha dito, agora, que a
aprovação das reformas fará o
Brasil avançar dez anos em alguns meses. Esse absurdo ilusionista está no umbral da demagogia.
Chega também ao seu limite
a aceitação da política econômica por mais opiniões expressivas dentro do governo. No
contingente de petistas que se
transfiguraram, relegando as
idéias e mesmo a biografia, para apoiar a continuidade da
política econômica do governo
passado, um dos casos mais espantosos, excetuado o do próprio Lula, foi o de Aloizio Mercadante. Nenhum deputado
petista demonstrou maior e
mais duradoura consistência
na formulação da crítica à política econômica imposta pelo
FMI e na demonstração de alternativas. Seu último debate
com Armínio Fraga na Comissão de Economia da Câmara,
que está gravado em vídeo pela
TV Câmara, levou o então presidente do Banco Central a um
pedido indireto de trégua, a da
falta de tempo para certas
questões.
O debate não foi muito antes
de passarmos a ouvir o já senador Aloizio Mercadante
apoiando, é verdade que com
os maiores cuidados, a política
neoliberal adotada pelo governo Lula por intermédio do ministro Antonio Palocci e do novo presidente do Banco Central.
Aloizio Mercadante está decidido a abrir o debate. Retoma a
convicção de que há alternativas de política econômica preservadora do chamado "ajuste
fiscal" e promotora de crescimento econômico, emprego e
menor concentração de renda,
assim como de uma composição diferente com o FMI, cujo
acordo expira daqui a cinco
meses.
Do vice-presidente José Alencar já se sabia ser crítico da política econômica desde o primeiro momento. Mas, além de
Mercadante e à mesma hora,
outra voz antes tolerante com a
política econômica, tolerante
pelo menos para efeitos públicos, deixa clara a ansiedade pela adoção de política inovadora. O uso da expressão "perder
o medo", pelo ministro Luiz
Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio,
é suficiente para sintetizar posição.
É fácil dizer que não há alternativas quando se cobrem os
ouvidos para nem as ouvir, como fazem o presidente e o ministro da Fazenda. Mas algumas das vozes que as propõem
começam a se tornar audíveis.
E não podem ser qualificadas
de xiitas, radicais e outras tolices.
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