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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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JANIO DE FREITAS

No limite

Dois limites diferentes, e em parte contraditórios, estão sendo atingidos por pessoas relevantes no governo.
Luiz Inácio Lula da Silva está nos últimos espaços anteriores à demagogia. Seus últimos discursos teriam sentido em um candidato, não em um presidente, que deve falar de decisões e de atos, em vez de promessas e pedidos de que sejam acreditadas. Mal dá para crer que, em mais um avanço na linha de presidente-candidato, Lula tenha dito, agora, que a aprovação das reformas fará o Brasil avançar dez anos em alguns meses. Esse absurdo ilusionista está no umbral da demagogia.
Chega também ao seu limite a aceitação da política econômica por mais opiniões expressivas dentro do governo. No contingente de petistas que se transfiguraram, relegando as idéias e mesmo a biografia, para apoiar a continuidade da política econômica do governo passado, um dos casos mais espantosos, excetuado o do próprio Lula, foi o de Aloizio Mercadante. Nenhum deputado petista demonstrou maior e mais duradoura consistência na formulação da crítica à política econômica imposta pelo FMI e na demonstração de alternativas. Seu último debate com Armínio Fraga na Comissão de Economia da Câmara, que está gravado em vídeo pela TV Câmara, levou o então presidente do Banco Central a um pedido indireto de trégua, a da falta de tempo para certas questões.
O debate não foi muito antes de passarmos a ouvir o já senador Aloizio Mercadante apoiando, é verdade que com os maiores cuidados, a política neoliberal adotada pelo governo Lula por intermédio do ministro Antonio Palocci e do novo presidente do Banco Central.
Aloizio Mercadante está decidido a abrir o debate. Retoma a convicção de que há alternativas de política econômica preservadora do chamado "ajuste fiscal" e promotora de crescimento econômico, emprego e menor concentração de renda, assim como de uma composição diferente com o FMI, cujo acordo expira daqui a cinco meses.
Do vice-presidente José Alencar já se sabia ser crítico da política econômica desde o primeiro momento. Mas, além de Mercadante e à mesma hora, outra voz antes tolerante com a política econômica, tolerante pelo menos para efeitos públicos, deixa clara a ansiedade pela adoção de política inovadora. O uso da expressão "perder o medo", pelo ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, é suficiente para sintetizar posição.
É fácil dizer que não há alternativas quando se cobrem os ouvidos para nem as ouvir, como fazem o presidente e o ministro da Fazenda. Mas algumas das vozes que as propõem começam a se tornar audíveis. E não podem ser qualificadas de xiitas, radicais e outras tolices.


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