|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
No governo, tucano multiplicou receita, obras e propaganda
Investimentos saltaram de R$ 3,5 bilhões no último ano de Alckmin no comando de SP para R$ 10,3 bilhões em 2009
Verba de publicidade teve um impulso ainda maior, de R$ 55 milhões em 2005, auge do antecessor, para recorde de R$ 311 milhões sob Serra
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Herdeiro de um sistema penitenciário conflagrado e de
uma piora nos resultados da
educação, José Serra preferiu
escolher como prioridade administrativa e publicitária de
seu governo em São Paulo a
mesma agenda adotada pelo
Palácio do Planalto -a ampliação das obras públicas de infraestrutura.
Levantamento feito pela Folha nas contas do Estado dos
últimos dez anos aponta que o
volume de R$ 10,3 bilhões em
investimentos de 2009, de longe o maior do período, beira o
triplo dos R$ 3,5 bilhões do último ano da gestão de Geraldo
Alckmin, que, como seu sucessor faz agora, então se lançava
candidato à Presidência.
Nenhuma das grandes despesas do Orçamento paulista
teve expansão comparável. Entre as pequenas e médias, uma,
ao menos, teve impulso maior:
gastos com publicidade e propaganda foram multiplicados
por quase seis, dos R$ 55 milhões de 2005, recorde do antecessor, para R$ 311 milhões.
Dono do quarto mandato
consecutivo do PSDB em São
Paulo, Serra foi o primeiro tucano a dispor de relativa fartura; estava superada a crise de
endividamento da década passada, e a recuperação da economia impulsionou a arrecadação
de impostos. Ainda assim, a retomada de investimentos, puxada por Rodoanel, estradas vicinais e metrô, se baseou em receitas de caráter temporário.
Enquanto a arrecadação do
ICMS, principal tributo estadual, aumentou respeitáveis
20% acima da inflação em três
anos, os recursos obtidos com
empréstimos, concessão de rodovias e venda de empresas estatais cresceram 200% -espelhando quase à perfeição, na
contabilidade oficial, a expansão das despesas com obras.
Financiar investimentos
com receitas extraordinárias
permitiu a conveniência de
preservar verbas destinadas às
demais áreas. Educação, saúde
e segurança puderam ampliar
programas em ritmo semelhante ao da receita tributária.
A estratégia, porém, deixa
dúvidas quanto a sua sustentabilidade. O sucessor não verá a
cor dos R$ 5,4 bilhões pagos pelo Banco do Brasil pela aquisição da Nossa Caixa, dos R$ 3,5
bilhões da outorga relativa à exploração das rodovias Ayrton
Senna, Dom Pedro 1º, Raposo
Tavares e Marechal Rondon
nem dos R$ 2 bilhões pelo trecho oeste do Rodoanel.
Ajuste driblado
Trata-se da adoção pela metade do ideário que seduzia tucanos e petistas às vésperas da
campanha de 2006. Pregava-se,
na época, que, para estimular a
economia, seria preciso reduzir
despesas permanentes com
pessoal, custeio administrativo
e programas sociais. Haveria
mais espaço no Orçamento para rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos, geração de energia,
habitação e saneamento.
No governo federal, a primeira parte do plano foi bombardeada pela então ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff. Lula acabou reeleito com a defesa
de mais gastos, e Alckmin, que
chegou a ser apresentado como
"o candidato do ajuste fiscal",
teve de renegar tal plataforma.
Não por acaso, Dilma foi a escolhida para gerenciar o que sobrou do projeto -a ampliação
dos investimentos, ou seja, o
que foi apelidado de PAC.
À sua moda, Serra também
usou o receituário remodelado
em São Paulo. Enquanto seu
partido atacava o "inchaço da
máquina pública" atribuído a
Lula, ampliou o quadro de servidores e concedeu reajustes
salariais acima da inflação. Em
vez de caírem, as despesas de
pessoal e custeio, incluídos gastos com propaganda, ficaram
estáveis em 6,6% do Produto
Interno Bruto estadual -no
governo federal, houve um salto de 16,2% para 17,1% do PIB.
Dificuldades em comum
Comparações diretas entre
as despesas dos governos federal e paulista são perigosas. Primeiro, porque as demandas do
Estado mais rico da federação e
as do resto do país não são as
mesmas. Segundo, porque a legislação estabelece responsabilidades diferentes para as políticas públicas a cargo de União,
Estados e municípios.
Competem à União os programas de Previdência, seguro-desemprego e assistência a idosos e portadores de deficiências; aos Estados, ensino básico, polícias Civil e Militar e sistema prisional. Independentemente da orientação ideológica, o presidente terá como gasto principal transferências de
renda às famílias, e o governador, salários dos servidores.
São comparáveis, no entanto,
as dificuldades e os resultados
obtidos por Serra e Lula na tentativa de reerguer as obras.
A alta percentual dos investimentos no governo Serra supera a do segundo governo Lula,
mas o Estado partiu de um patamar ainda mais deprimido
que o da União -tanto que os
investimentos federais, equivalentes a 1,09% do PIB nacional,
ainda superam os paulistas, de
0,97% do PIB estadual. Com as
estatais, o percentual paulista
sobe a 1,67%, e o federal, a 3,4%.
Em ambos, os resultados ficaram aquém das promessas,
por deficiências de gestão ou
empecilhos burocráticos. Em
São Paulo, a execução efetiva
dos projetos ficou em dois terços do previsto no Orçamento,
só um pouco acima dos 63%
apurados na metodologia mais
aplicada ao PAC.
As explicações para atrasos
também coincidem. "Problemas ambientais" e "dificuldades no processo licitatório" estão entre as justificativas apresentadas ao Tribunal de Contas
do Estado, que apontou, em
2008, descumprimento de metas em 6 das 11 ações do programa de ampliação e modernização da malha rodoviária.
Texto Anterior: Exílio Próximo Texto: Educação melhorou um pouco, mas continua ruim Índice
|