|
Texto Anterior | Índice
Quilombo ganha ponte, mas espera estrada
Obra prometida por Lula antes de chegar à Presidência foi concluída em 2009, mas acessos ainda não foram construídos
Sem estradas, descendentes de escravos precisam escoar sua produção usando barcos; governo culpa chuvas pela não execução de acessos
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ELDORADO (SP)
A construção de uma ponte
sobre o rio Ribeira de Iguape
(interior de São Paulo), prometida por Lula a uma comunidade quilombola quando ainda
era candidato a presidente, foi
concluída há quatro meses ao
custo de R$ 6,7 milhões. Mas a
ponte, pronta, não pode ser
usada: as estradas de acesso a
ela não foram construídas.
Um desnível de cerca de 1,5
metro separa a estrutura de
suas duas cabeceiras. Sem a
ponte, as 98 famílias que moram no quilombo Ivaporunduva, em Eldorado (250 km de
SP), continuam tendo que utilizar a balsa para escoar sua produção de bananas -como vêm
fazendo há mais de 15 anos.
A dificuldade aumentou a
partir de dezembro -justamente quando a ponte de concreto de 128 metros foi concluída- com o deslizamento da estradinha que dá acesso à balsa,
por causa das fortes chuvas.
Na semana passada, com o
aumento do nível do rio, os descendentes de escravos não conseguiram entregar à Conab
(Companhia Nacional de Abastecimento) as 300 caixas de banana previstas em contrato,
sua principal fonte de renda.
Das 98 famílias, 75 estão inscritas no Bolsa Família. A comunidade também vive da venda de artesanato e do turismo.
A ponte ligando o quilombo à
rodovia SP-165 foi prometida
por Lula ainda antes de ele chegar à Presidência, em 1995.
"Lula viu a nossa dificuldade
e disse que, se fosse eleito presidente, faria a ponte para nós.
Ele cumpriu a promessa, porque muitos achavam que a ponte nem sairia. Estamos batalhando para sair a estrada", diz
Maria da Guia Silva, presidente
da associação do quilombo.
O mecânico Rogério Aparecido Cunha, que mora em São
Paulo e tem família no quilombo, investiu R$ 30 mil na plantação de banana, acreditando
na facilidade que a ponte trará
para a comercialização.
A Seppir (Secretaria Especial
de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial), que coordena a construção da ponte, diz
que a chuva que atinge a região
desde dezembro impediu a execução dos acessos.
Falta pavimentar um trecho
de 280 metros e abrir outros
770 metros de estrada na margem direita do rio, entre a ponte e a rodovia. Na terça, quando
a Folha visitou o quilombo, o
canteiro de obras na cabeceira
da ponte estava vazio, sem maquinários ou trabalhadores.
"Há uma burocracia horrorosa que atrapalha a celeridade
da obra", afirma o ministro
Eloi Ferreira de Araújo (Seppir), citando a demora na concessão da licença ambiental e
um problema fundiário -um
posseiro reivindicou a propriedade da área da estrada.
De acordo com o Exército,
que gerencia a construção da
ponte, a previsão é que os acessos sejam entregues em três
meses após reiniciada a obra.
A Cetesb, órgão do governo
de São Paulo que faz licenciamento ambiental, disse que
não houve atraso na concessão
da licença de instalação dos
acessos, dada em fevereiro.
A construção foi ordenada
por Lula em 2003. No último
dia 31, Lula cobrou a conclusão
dos acessos e disse que não poderia deixar o cargo sem inaugurar a ponte.
Texto Anterior: Educação melhorou um pouco, mas continua ruim Índice
|