São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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CABEÇA FEITA

Presidente reclama e afirma que muitas decisões não dependem exclusivamente do Executivo

Lula diz a índios que é difícil governar

GABRIELA ATHIAS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em audiência com índios de 25 etnias, ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é difícil governar o país e disse que muitas decisões não dependem exclusivamente do Executivo.
Ele citou como exemplo da dificuldade o caso dos bingos. O governo editou em fevereiro uma medida provisória proibindo o funcionamento das casas de bingo e de máquinas caça-níqueis no país.
Antes da edição da lei, alguns bingos vinham funcionando por meio de liminares concedidas nos Estados pela Justiça. Na quarta-feira passada, o Senado arquivou a MP antes mesmo de votá-la. Agora, o governo vai enviar à Câmara um projeto para tentar proibir o funcionamento das casas novamente.
Segundo o relato de Messias Satere Mawe, vice-prefeito de Barreirinhas (AM), que participou da audiência, Lula afirmou que "governar não é fácil" e que as decisões não dependem apenas do Executivo. Nesse momento, citou o caso dos bingos.
"Vocês não sabem o poder que tem o juiz numa cidade. Vocês sabem que eu proibi o bingo, fiz uma medida provisória proibindo o bingo. Eles [os empresários] conseguem uma liminar num Estado qualquer e a colocam para funcionar. Eu fiz uma medida provisória porque já tinha uma lei proibindo o bingo. Fiz a MP porque 11 Estados tinham conquistado a liminar. Fiz a MP, passou um mês sem acontecer nada e aí começaram as liminares outra vez e já têm vários Estados com liminar. Então vocês conhecem o Poder [Judiciário], não preciso ficar aqui justificando para quem já foi tantas vezes pego com ações que contrariaram, não a vontade de vocês, mas aquilo que era para ser feito corretamente."
O presidente colocou na cabeça um cocar azul, confeccionado pelos xavante com penas de arara, contrariando a superstição política de que o uso de cocar atrai má sorte ao seu usuário.
Lula, segundo relato dos participantes, pediu paciência aos índios e disse que cumprirá as promessas feitas durante a campanha. O presidente afirmou ainda que não dá para resolver a dívida social do Brasil em um período de um ano e quatro meses.
A reunião de Lula com os índios foi marcada após um grupo ocupar o plenário da Câmara, no dia 19 de abril passado, e exigir um encontro com o presidente para desocupá-lo.
Jacinaldo Barbosa Cabral, da comunidade Satere Mawe, o coordenador das Organizações Indígenas da Amazônia, saiu da reunião afirmando que o presidente sinalizou para a demarcação de terras contínuas na reserva Raposa/Serra do Sol (RR).
Há um grupo de índios que, apoiados por produtores de arroz, defendem a demarcação descontínua das terras para proteger as plantações. "Não quero ser o presidente que passou para a história como alguém que tomou decisões que desagradaram aos povos indígenas", disse Lula.


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