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CABEÇA FEITA
Presidente reclama e afirma que muitas decisões não dependem exclusivamente do Executivo
Lula diz a índios que é difícil governar
GABRIELA ATHIAS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em audiência com índios de 25
etnias, ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou que é difícil governar o país e disse que
muitas decisões não dependem
exclusivamente do Executivo.
Ele citou como exemplo da dificuldade o caso dos bingos. O
governo editou em fevereiro
uma medida provisória proibindo o funcionamento das casas
de bingo e de máquinas caça-níqueis no país.
Antes da edição da lei, alguns
bingos vinham funcionando por
meio de liminares concedidas
nos Estados pela Justiça. Na
quarta-feira passada, o Senado
arquivou a MP antes mesmo de
votá-la. Agora, o governo vai enviar à Câmara um projeto para
tentar proibir o funcionamento
das casas novamente.
Segundo o relato de Messias
Satere Mawe, vice-prefeito de
Barreirinhas (AM), que participou da audiência, Lula afirmou
que "governar não é fácil" e que
as decisões não dependem apenas do Executivo. Nesse momento, citou o caso dos bingos.
"Vocês não sabem o poder que
tem o juiz numa cidade. Vocês
sabem que eu proibi o bingo, fiz
uma medida provisória proibindo o bingo. Eles [os empresários] conseguem uma liminar
num Estado qualquer e a colocam para funcionar. Eu fiz uma
medida provisória porque já tinha uma lei proibindo o bingo.
Fiz a MP porque 11 Estados tinham conquistado a liminar. Fiz
a MP, passou um mês sem acontecer nada e aí começaram as liminares outra vez e já têm vários
Estados com liminar. Então vocês conhecem o Poder [Judiciário], não preciso ficar aqui justificando para quem já foi tantas
vezes pego com ações que contrariaram, não a vontade de vocês, mas aquilo que era para ser
feito corretamente."
O presidente colocou na cabeça um cocar azul, confeccionado
pelos xavante com penas de arara, contrariando a superstição
política de que o uso de cocar
atrai má sorte ao seu usuário.
Lula, segundo relato dos participantes, pediu paciência aos índios e disse que cumprirá as promessas feitas durante a campanha. O presidente afirmou ainda
que não dá para resolver a dívida
social do Brasil em um período
de um ano e quatro meses.
A reunião de Lula com os índios foi marcada após um grupo
ocupar o plenário da Câmara, no
dia 19 de abril passado, e exigir
um encontro com o presidente
para desocupá-lo.
Jacinaldo Barbosa Cabral, da
comunidade Satere Mawe, o
coordenador das Organizações
Indígenas da Amazônia, saiu da
reunião afirmando que o presidente sinalizou para a demarcação de terras contínuas na reserva Raposa/Serra do Sol (RR).
Há um grupo de índios que,
apoiados por produtores de arroz, defendem a demarcação
descontínua das terras para proteger as plantações. "Não quero
ser o presidente que passou para
a história como alguém que tomou decisões que desagradaram
aos povos indígenas", disse Lula.
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