São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE PRÓXIMO

Presidente da Argélia e secretário-geral da Liga Árabe fazem menção à invasão do Iraque; venezuelano Hugo Chávez é o mais aplaudido

Árabes atacam Israel e EUA na abertura

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Cúpula América do Sul-Países Árabes, aberta ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se transformou exatamente no que o governo tentou evitar: um palco dos árabes para fazer campanha na América do Sul contra a ocupação israelense em territórios palestinos, com referências indiretas também à invasão do Iraque pelos Estados Unidos.
Quem mais reforçou esses protestos foram o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, e o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que discursaram na abertura do encontro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O discurso inaugural foi do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais moderado. Havia cerca de 3.000 pessoas na cerimônia.
Bouteflika criticou diretamente a ocupação da Palestina: "A nossa reunião deve prestar atenção às crises graves que assolam o mundo. O exemplo é a tragédia vivida pelo povo palestino há meio século. É uma negação de justiça que não podemos mais aceitar", disse.
Depois fez um apelo contra Israel: "Devemos chamar a comunidade internacional para ajudar. Precisamos de uma solução definitiva para fazer com que Israel aceite as leis internacionais e a paz negociável", disse o presidente argelino. Foi muito aplaudido.
Moussa reforçou: "É direito do povo palestino ter um Estado soberano com capital em Jerusalém, e Israel tem de sair dos territórios ocupados (...) porque isso é ético, justo e correto", disse.
Os dois líderes apenas repetiram o discurso de sempre dos palestinos para a comunidade internacional. O ineditismo de ontem é que ele foi feito para chefes de Estado da América do Sul, que já foi chamada de "quintal" dos EUA -maior aliado de Israel.
Ambos os líderes fizeram referências ao Iraque, que foi invadido por forças anglo-americanas à revelia da ONU. Para Bouteflika, "essa situação [do Iraque] é igualmente fonte de inquietação", mas foi tratada com mais moderação do que a da Palestina.
Já Moussa disse que a eleição de um presidente para o Iraque, Jalal Talabani, que esteve presente ontem, foi positiva: "É o início da formação de uma unidade, de uma reunificação do país".
A posição do secretário-geral da Liga Árabe foi decisiva para a inclusão de última hora de referência favorável à eleição iraquiana na declaração final. Como disse o chanceler Celso Amorim à Folha: "Se até a Liga Árabe é favor, não temos nada contra. Não podemos ser mais realistas do que o rei".
Os dois líderes árabes também falaram de terrorismo e da necessidade de reformulação da ONU como principal fórum multilateral: "Justiça e paz no Oriente Médio se baseiam nas metas definidas na carta da ONU", disse Moussa. Ele citou como metas mundiais o respeito aos direitos humanos e destacou a reestruturação da ONU. Depois, acrescentou: "Uma das metas é também trabalhar contra o terrorismo".
Mais tarde, Amorim demonstrou irritação ao ser questionado pela Folha se o encontro não se transformara contra Israel. "Não tem nenhum ataque a Israel. Há posições comuns que são as que estão no comunicado comum. Quando as pessoas falam individualmente, cada um expressa sua opinião. Vocês nunca assistiram a uma reunião internacional?"
Nas últimas semanas, o governo vinha se esforçando para dizer que a cúpula seria mais econômica do que política. Essa versão foi enfatizada em contatos com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e com a embaixadora de Israel no Brasil, Tzipora Rimon. Por cautela, Amorim, simultaneamente, avisava que o documento final não conteria provocações, mas não poderia censurar declarações de chefes de Estado, fossem de onde fossem.

Aplausos
Apesar de os dois líderes árabes terem sido as "estrelas" da abertura, o presidente mais aplaudido foi outro: Hugo Chávez, da Venezuela. Quem falou pela América do Sul, além de Lula, foi Alejandro Toledo, do Peru, aplaudido quando destacou a "liderança do presidente Lula" e quando reforçou a defesa da reestruturação da ONU e o combate à miséria.


Colaboraram EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de Brasília, e CÍNTIA CARDOSO, Enviada Especial a Brasília


Texto Anterior: Líder de entidade argentina critica ministro Furlan
Próximo Texto: Palestina aprova declaração final; israelense diz que ela avaliza terror
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.