|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORIENTE PRÓXIMO
Presidente da Argélia e secretário-geral da Liga Árabe fazem menção à invasão do Iraque; venezuelano Hugo Chávez é o mais aplaudido
Árabes atacam Israel e EUA na abertura
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Cúpula América do Sul-Países Árabes, aberta ontem pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se transformou exatamente no
que o governo tentou evitar: um
palco dos árabes para fazer campanha na América do Sul contra a
ocupação israelense em territórios palestinos, com referências
indiretas também à invasão do
Iraque pelos Estados Unidos.
Quem mais reforçou esses protestos foram o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, e o secretário-geral da Liga Árabe, Amr
Moussa, que discursaram na
abertura do encontro, no Centro
de Convenções Ulysses Guimarães. O discurso inaugural foi do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais moderado. Havia cerca
de 3.000 pessoas na cerimônia.
Bouteflika criticou diretamente
a ocupação da Palestina: "A nossa
reunião deve prestar atenção às
crises graves que assolam o mundo. O exemplo é a tragédia vivida
pelo povo palestino há meio século. É uma negação de justiça que
não podemos mais aceitar", disse.
Depois fez um apelo contra Israel: "Devemos chamar a comunidade internacional para ajudar.
Precisamos de uma solução definitiva para fazer com que Israel
aceite as leis internacionais e a paz
negociável", disse o presidente argelino. Foi muito aplaudido.
Moussa reforçou: "É direito do
povo palestino ter um Estado soberano com capital em Jerusalém,
e Israel tem de sair dos territórios
ocupados (...) porque isso é ético,
justo e correto", disse.
Os dois líderes apenas repetiram o discurso de sempre dos palestinos para a comunidade internacional. O ineditismo de ontem
é que ele foi feito para chefes de
Estado da América do Sul, que já
foi chamada de "quintal" dos
EUA -maior aliado de Israel.
Ambos os líderes fizeram referências ao Iraque, que foi invadido por forças anglo-americanas à
revelia da ONU. Para Bouteflika,
"essa situação [do Iraque] é igualmente fonte de inquietação", mas
foi tratada com mais moderação
do que a da Palestina.
Já Moussa disse que a eleição de
um presidente para o Iraque, Jalal
Talabani, que esteve presente ontem, foi positiva: "É o início da
formação de uma unidade, de
uma reunificação do país".
A posição do secretário-geral da
Liga Árabe foi decisiva para a inclusão de última hora de referência favorável à eleição iraquiana
na declaração final. Como disse o
chanceler Celso Amorim à Folha:
"Se até a Liga Árabe é favor, não
temos nada contra. Não podemos
ser mais realistas do que o rei".
Os dois líderes árabes também
falaram de terrorismo e da necessidade de reformulação da ONU
como principal fórum multilateral: "Justiça e paz no Oriente Médio se baseiam nas metas definidas na carta da ONU", disse
Moussa. Ele citou como metas
mundiais o respeito aos direitos
humanos e destacou a reestruturação da ONU. Depois, acrescentou: "Uma das metas é também
trabalhar contra o terrorismo".
Mais tarde, Amorim demonstrou irritação ao ser questionado
pela Folha se o encontro não se
transformara contra Israel. "Não
tem nenhum ataque a Israel. Há
posições comuns que são as que
estão no comunicado comum.
Quando as pessoas falam individualmente, cada um expressa sua
opinião. Vocês nunca assistiram a
uma reunião internacional?"
Nas últimas semanas, o governo
vinha se esforçando para dizer
que a cúpula seria mais econômica do que política. Essa versão foi
enfatizada em contatos com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e com a embaixadora de Israel no Brasil, Tzipora
Rimon. Por cautela, Amorim, simultaneamente, avisava que o
documento final não conteria
provocações, mas não poderia
censurar declarações de chefes de
Estado, fossem de onde fossem.
Aplausos
Apesar de os dois líderes árabes
terem sido as "estrelas" da abertura, o presidente mais aplaudido
foi outro: Hugo Chávez, da Venezuela. Quem falou pela América
do Sul, além de Lula, foi Alejandro Toledo, do Peru, aplaudido
quando destacou a "liderança do
presidente Lula" e quando reforçou a defesa da reestruturação da
ONU e o combate à miséria.
Colaboraram EDUARDO SCOLESE, da
Sucursal de Brasília, e CÍNTIA CARDOSO, Enviada Especial a Brasília
Texto Anterior: Líder de entidade argentina critica ministro Furlan Próximo Texto: Palestina aprova declaração final; israelense diz que ela avaliza terror Índice
|