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Ex-lavrador, Paulinho diz que aprendeu a "falar com poderosos'
Acusado de "carreirista" e "traidor" por militante histórico do PCB, Paulo Pereira da Silva (PDT) tem sob seu comando a segunda maior central sindical do país
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele já foi plantador de hortelã, metalúrgico, comunista, jogador de futebol. É líder sindical, deputado e agora apontado
como suspeito de integrar um
esquema de desvio de verbas do
BNDES investigado pela PF.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 55, tem sob seu comando
a segunda maior central sindical do país, a Força Sindical,
que reúne cerca de mil sindicatos com 12 milhões de trabalhadores representados. Também
preside o PDT em São Paulo, legenda com a qual chegou à Câmara, em 2007, como o 12º deputado federal mais votado.
Ao longo de sua trajetória
sindical e política, segundo velhos companheiros de sindicato e palanque, ele foi hábil ao se
aproximar das pessoas certas e
não abrir mão de comandar a
Força ao ser eleito deputado,
contrariando até mesmo acordo com outros dirigentes.
Uma frase, dita por ele mesmo, em novembro de 2000,
quando discutia com outras
centrais a possibilidade de fazer uma greve geral, resume
seu estilo: "Prefiro um bom
acordo do que uma boa briga".
Em Porecatu (PR), onde nasceu, começou a trabalhar aos 5
anos na lavoura. Aos 13, foi vendedor de jornal em Londrina e
mais tarde foi parar na redação
da "Folha de Londrina", onde
escrevia anúncios. Lá teve o
primeiro contato com o mundo
político, ao presenciar a censura a jornalistas na ditadura.
Decidiu vir para São Paulo,
em 76, aos 20 anos, quando arrumou emprego em uma metalúrgica. Nessa época, começou
a militar no PC do B e se filiou
ao Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo, em 77.
"A verdade é que ele sempre
foi carreirista. Ingressou no
movimento de oposição ao sindicato e passou para a chapa da
situação, com o Luiz Antônio
de Medeiros. Traiu os companheiros", diz Antonio Flores,
ex-sindicalista e militante histórico do partidão, o PCB.
Paulinho diz que se aliou a
Medeiros após um racha na diretoria do sindicato em 87.
"Não concordei com o PT liderar a chapa de oposição e saí.
Medeiros me chamou e fui."
Nos anos 80, Paulinho participou da fundação do PT e foi
candidato a vereador pelo partido em Franco da Rocha. Nessa época, teve contato com Leonel Brizola (PDT), que, segundo diz, lhe pagava salário para
levar mais sócios ao partido.
Assumiu o primeiro cargo
sindical em 91, como secretário-geral do sindicato, por indicação de Medeiros. Nesse mesmo ano surgiu a Força Sindical
para se contrapor à CUT.
Medeiros assumiu o comando da central, e Paulinho herdou seu lugar. Foi eleito presidente do sindicato em 97. Sob a
consultoria do jornalista Luiz
Fernando Emediato, sua atuação sindical começou a se projetar e as ambições, segundo
amigos, a aumentar.
Emediato, um dos fundadores da Força, hoje ocupa o cargo
de presidente do Codefat -o
conselho que decide o destino
de R$ 139 bilhões do FAT. Ocupa a cadeira da Força no conselho. Quando Medeiros se afastou da central para ser deputado, em 99, Paulinho chegou ao
comando da central sindical.
Com a aproximação ao governo FHC, a Força começou a
se expandir, ao ter acesso a verbas do FAT por meio de convênios com o Ministério do Trabalho. Paulinho foi coordenador político da campanha de
FHC à reeleição em 98, ano em
que criou o Centro de Solidariedade ao Trabalhador, para
ajudar desempregados. Quem
comandou a criação do centro
foi João Pedro de Moura, seu
ex-assessor e hoje investigado
no esquema de desvio do
BNDES. João Pedro representou a Força no conselho do
banco de 2002 até 2007.
Em 2000, ele se projetou ao
negociar com o governo acordo
para pagar expurgos do FGTS,
com o amigo e então ministro
Francisco Dornelles. A proximidade lhe rendeu o apelido,
no meio sindical, de "garoto-propaganda do governo". Nessa
época, defendia a flexibilização
de direitos trabalhistas.
Sob críticas da CUT e do PT,
Paulinho idealizou megacomemorações do 1º de Maio, com
patrocínio de empresas e estatais. Shows e prêmios atraem
multidões há 11 anos. "Transformar o 1º de Maio num "Baú
da Felicidade" não é a melhor
forma de fazer política", dizia
Lula em 2001. Anos depois, a
CUT copiou a fórmula.
Com uma poderosa máquina
sindical na mão, Paulinho passou a ser cobiçado. Em 2002,
então filiado ao PTB, foi candidato a vice-presidente de Ciro
Gomes (PSB). Nessa época, a
central foi alvo de denúncias do
TCU de desvio de verbas do
FAT usadas para qualificação
profissional e do Ministério
Público, de superfaturamento
de preço em uma fazenda a ser
usada para reforma agrária.
Paulinho e João Pedro são
réus em processos envolvendo
a fazenda. "Não compramos
terra. Não houve superfaturamento." Ele já prestou depoimento ao STF. Sobre o bloqueio de bens, que ocorreu em
razão dessa ação, é categórico:
"Como não tenho bens nem
pretendo vendê-los, não estou
ligando". Em sua declaração ao
TSE, em 2006, ele informou ter
patrimônio de R$ 163 mil.
Há cinco anos, retornou ao
PDT, sigla em que concorreu à
Prefeitura de SP, em 2004. Depois da derrota, resolveu ser
deputado em 2006. Abandonou a flexibilização e se elegeu
sob a bandeira trabalhista.
Ganhou força no partido ao
filiar sindicalistas e conseguir
doações de amigos para candidatos. Um deles é o advogado
Ricardo Tosto, alvo de investigação da PF. Tosto substituiu
João Pedro no Conselho do
BNDES. No governo, tem ainda
um aliado importante, o ministro Carlos Lupi (PDT).
Atribui suas conquistas a sua
habilidade: "Sei negociar.
Aprendi que é preciso falar com
quem tem poder. A legalização
das centrais e outros projetos
saíram dessa forma".
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