São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Ex-lavrador, Paulinho diz que aprendeu a "falar com poderosos'

Acusado de "carreirista" e "traidor" por militante histórico do PCB, Paulo Pereira da Silva (PDT) tem sob seu comando a segunda maior central sindical do país

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele já foi plantador de hortelã, metalúrgico, comunista, jogador de futebol. É líder sindical, deputado e agora apontado como suspeito de integrar um esquema de desvio de verbas do BNDES investigado pela PF.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 55, tem sob seu comando a segunda maior central sindical do país, a Força Sindical, que reúne cerca de mil sindicatos com 12 milhões de trabalhadores representados. Também preside o PDT em São Paulo, legenda com a qual chegou à Câmara, em 2007, como o 12º deputado federal mais votado.
Ao longo de sua trajetória sindical e política, segundo velhos companheiros de sindicato e palanque, ele foi hábil ao se aproximar das pessoas certas e não abrir mão de comandar a Força ao ser eleito deputado, contrariando até mesmo acordo com outros dirigentes.
Uma frase, dita por ele mesmo, em novembro de 2000, quando discutia com outras centrais a possibilidade de fazer uma greve geral, resume seu estilo: "Prefiro um bom acordo do que uma boa briga".
Em Porecatu (PR), onde nasceu, começou a trabalhar aos 5 anos na lavoura. Aos 13, foi vendedor de jornal em Londrina e mais tarde foi parar na redação da "Folha de Londrina", onde escrevia anúncios. Lá teve o primeiro contato com o mundo político, ao presenciar a censura a jornalistas na ditadura.
Decidiu vir para São Paulo, em 76, aos 20 anos, quando arrumou emprego em uma metalúrgica. Nessa época, começou a militar no PC do B e se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em 77.
"A verdade é que ele sempre foi carreirista. Ingressou no movimento de oposição ao sindicato e passou para a chapa da situação, com o Luiz Antônio de Medeiros. Traiu os companheiros", diz Antonio Flores, ex-sindicalista e militante histórico do partidão, o PCB.
Paulinho diz que se aliou a Medeiros após um racha na diretoria do sindicato em 87. "Não concordei com o PT liderar a chapa de oposição e saí. Medeiros me chamou e fui."
Nos anos 80, Paulinho participou da fundação do PT e foi candidato a vereador pelo partido em Franco da Rocha. Nessa época, teve contato com Leonel Brizola (PDT), que, segundo diz, lhe pagava salário para levar mais sócios ao partido.
Assumiu o primeiro cargo sindical em 91, como secretário-geral do sindicato, por indicação de Medeiros. Nesse mesmo ano surgiu a Força Sindical para se contrapor à CUT.
Medeiros assumiu o comando da central, e Paulinho herdou seu lugar. Foi eleito presidente do sindicato em 97. Sob a consultoria do jornalista Luiz Fernando Emediato, sua atuação sindical começou a se projetar e as ambições, segundo amigos, a aumentar.
Emediato, um dos fundadores da Força, hoje ocupa o cargo de presidente do Codefat -o conselho que decide o destino de R$ 139 bilhões do FAT. Ocupa a cadeira da Força no conselho. Quando Medeiros se afastou da central para ser deputado, em 99, Paulinho chegou ao comando da central sindical.
Com a aproximação ao governo FHC, a Força começou a se expandir, ao ter acesso a verbas do FAT por meio de convênios com o Ministério do Trabalho. Paulinho foi coordenador político da campanha de FHC à reeleição em 98, ano em que criou o Centro de Solidariedade ao Trabalhador, para ajudar desempregados. Quem comandou a criação do centro foi João Pedro de Moura, seu ex-assessor e hoje investigado no esquema de desvio do BNDES. João Pedro representou a Força no conselho do banco de 2002 até 2007.
Em 2000, ele se projetou ao negociar com o governo acordo para pagar expurgos do FGTS, com o amigo e então ministro Francisco Dornelles. A proximidade lhe rendeu o apelido, no meio sindical, de "garoto-propaganda do governo". Nessa época, defendia a flexibilização de direitos trabalhistas.
Sob críticas da CUT e do PT, Paulinho idealizou megacomemorações do 1º de Maio, com patrocínio de empresas e estatais. Shows e prêmios atraem multidões há 11 anos. "Transformar o 1º de Maio num "Baú da Felicidade" não é a melhor forma de fazer política", dizia Lula em 2001. Anos depois, a CUT copiou a fórmula.
Com uma poderosa máquina sindical na mão, Paulinho passou a ser cobiçado. Em 2002, então filiado ao PTB, foi candidato a vice-presidente de Ciro Gomes (PSB). Nessa época, a central foi alvo de denúncias do TCU de desvio de verbas do FAT usadas para qualificação profissional e do Ministério Público, de superfaturamento de preço em uma fazenda a ser usada para reforma agrária.
Paulinho e João Pedro são réus em processos envolvendo a fazenda. "Não compramos terra. Não houve superfaturamento." Ele já prestou depoimento ao STF. Sobre o bloqueio de bens, que ocorreu em razão dessa ação, é categórico: "Como não tenho bens nem pretendo vendê-los, não estou ligando". Em sua declaração ao TSE, em 2006, ele informou ter patrimônio de R$ 163 mil.
Há cinco anos, retornou ao PDT, sigla em que concorreu à Prefeitura de SP, em 2004. Depois da derrota, resolveu ser deputado em 2006. Abandonou a flexibilização e se elegeu sob a bandeira trabalhista.
Ganhou força no partido ao filiar sindicalistas e conseguir doações de amigos para candidatos. Um deles é o advogado Ricardo Tosto, alvo de investigação da PF. Tosto substituiu João Pedro no Conselho do BNDES. No governo, tem ainda um aliado importante, o ministro Carlos Lupi (PDT).
Atribui suas conquistas a sua habilidade: "Sei negociar. Aprendi que é preciso falar com quem tem poder. A legalização das centrais e outros projetos saíram dessa forma".


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