São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Mensagem enviada por vazador revela que dossiê estava anexado

E-mail continha dois arquivos, um deles era a planilha com despesas de FHC

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mensagem com o dossiê vazado pelo secretário de controle interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, revela que havia dois arquivos anexados ao e-mail. A cópia integral da correspondência, obtida com exclusividade pela Folha, contradiz Aparecido, que havia dito não ter enviado a planilha com gastos do ex-presidente FHC para o servidor do Senado André Fernandes, assessor do tucano Álvaro Dias (PR).
Na mensagem, encaminhada no dia 20 de fevereiro, às 10h47, do e-mail funcional de Aparecido no Palácio do Planalto, há um documento em Word e outro em Excel. O primeiro é um texto sobre supervisão ministerial. O outro é o dossiê, intitulado "Suprimento de Fundos 1998-2002".
Aparecido havia admitido apenas ter enviado um texto, mas não o arquivo em Excel. Na mensagem, ele escreveu: "André, leia o texto". Não há menção ao dossiê nem a gastos do governo passado na mensagem. O texto em Word é da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, mas não aborda assuntos de natureza sigilosa.
Na quinta-feira, contudo, o servidor do Senado havia confirmado à Folha que tinha recebido a mensagem com o dossiê anexado. Ele contou que, por dever funcional, repassou o caso ao senador Álvaro Dias, que corroborou a sua versão.
Na sexta, após a Folha ter revelado que a sindicância interna da Casa Civil e a Polícia Federal identificaram Aparecido como o vazador, o ex-ministro José Dirceu divulgou nota afirmando não acreditar que teria sido o secretário de controle interno o responsável pelo envio do documento à oposição. Foi Dirceu, antecessor de Dilma Rousseff na Casa Civil, que levou Aparecido para o órgão.
O dossiê foi extraído diretamente da rede de computadores da Casa Civil. O arquivo digital, com 27 páginas e 532 lançamentos de despesas ao todo, revela que, às 15h28 do dia 11 de fevereiro, a Casa Civil começou a lançar nas planilhas dados colhidos de processos de prestações de contas dos gastos de suprimentos de fundos da Presidência entre 1998 e 2002. Os processos foram retirados do arquivo morto, guardado num prédio anexo do Planalto.
No período de uma semana, foram criadas pastas diferentes para 1998, ano em que FHC foi reeleito, e os quatro anos do segundo mandato do tucano.
Foram agrupadas separadamente, também, as despesas de Ruth Cardoso e da chef de cozinha Roberta Sudbrack, além de pastas específicas para dois dos ministros mais poderosos na época, Eduardo Jorge (secretaria-geral) e Clóvis Carvalho (Casa Civil e Desenvolvimento), e uma outra para Arthur Virgílio, senador que foi secretário-geral da Presidência.
O arquivo mostra como estava o dossiê até 18 de fevereiro, mais de um mês antes de a revista "Veja" noticiar a existência do documento destinado supostamente a constranger a oposição a Lula no Congresso.
A organização de dados seguiu uma lógica política, e não administrativa. As planilhas, fartas em registros de compras de bebidas alcóolicas, trazem anotações que poderiam orientar governistas nos trabalhos da CPI. É identificada também a sigla PR (Presidência da República) na planilha Excel como a empresa de onde foi gerado o arquivo.


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