São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Fiquei para acalmar os EUA, afirma diplomata

Rubens Barbosa diz que Lula o manteve no cargo para ganhar confiança de Bush

Chefe da Embaixada de Washington de 1999 a 2004 reduz papel da diplomacia americana na aproximação de Lula com governo Bush

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Testemunha privilegiada do processo de aproximação do governo Lula com a Casa Branca, o ex-embaixador Rubens Barbosa vê exageros nos relatos das autoridades americanas divulgados recentemente.
À Folha, ele contou os bastidores da relação bilateral enquanto esteve no comando da Embaixada em Washington, entre 1999 e 2004. "Não houve divergências entre Planalto e Itamaraty. E posso dizer que nossa embaixada trabalhou muito para favorecer os contatos bilaterais", afirmou.
O diplomata lembrou que a eleição do ex-metalúrgico foi cercada de ansiedade e desconfiança, sintetizadas na taxa do risco-país que atingiu os 1.972 pontos na ocasião -hoje está na casa dos 215 pontos.
"Distribuí a Carta aos Brasileiros a várias autoridades de Washington e a empresários. Mas ninguém acreditava no que estava escrito ali", revelou, sobre o documento em que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva lançou as linhas de seu programa de governo.
Barbosa foi um dos raros embaixadores nomeados na gestão FHC que foram mantidos por Lula. "Fazia parte da estratégia para ganhar a confiança do governo Bush. O presidente Lula me manteve na embaixada para não assustar os EUA. Se me trocassem, isso enviaria um sinal negativo", explicou.
Barbosa ressaltou que intermediou muitos dos encontros dos ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci, inclusive eventos relatados pelos telegramas diplomáticos norte-americanos, divulgados nesta semana pelo jornal "Valor Econômico". "Se o Itamaraty abrisse esses arquivos, a sociedade saberia que trabalhamos muito mais para essa aproximação. Eu repetia o que o Palocci dizia. Houve recuperação da credibilidade do governo".
Para ele, a "institucionalização das relações" foi peça fundamental nos contatos bilaterais. "Criamos grupos de trabalho. Em poucos meses de governo, as desconfianças acabaram". Barbosa diz que as atuais relações bilaterais são aquém do potencial, e que, passado o primeiro momento, o governo não fez muito para aprofundá-las. "As iniciativas recentes, como a parceria no etanol, foram tomadas por Washington".
O ex-embaixador rejeitou a versão divulgada pelos americanos de que Lula teria prometido "conter" a retórica antiamericana do presidente venezuelano, Hugo Chávez.


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