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Fiquei para acalmar os EUA, afirma diplomata
Rubens Barbosa diz que Lula o manteve no cargo para ganhar confiança de Bush
Chefe da Embaixada de
Washington de 1999 a 2004
reduz papel da diplomacia
americana na aproximação
de Lula com governo Bush
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Testemunha privilegiada do
processo de aproximação do
governo Lula com a Casa Branca, o ex-embaixador Rubens
Barbosa vê exageros nos relatos
das autoridades americanas divulgados recentemente.
À Folha, ele contou os bastidores da relação bilateral enquanto esteve no comando da
Embaixada em Washington,
entre 1999 e 2004. "Não houve
divergências entre Planalto e
Itamaraty. E posso dizer que
nossa embaixada trabalhou
muito para favorecer os contatos bilaterais", afirmou.
O diplomata lembrou que a
eleição do ex-metalúrgico foi
cercada de ansiedade e desconfiança, sintetizadas na taxa do
risco-país que atingiu os 1.972
pontos na ocasião -hoje está
na casa dos 215 pontos.
"Distribuí a Carta aos Brasileiros a várias autoridades de
Washington e a empresários.
Mas ninguém acreditava no
que estava escrito ali", revelou,
sobre o documento em que o
então candidato Luiz Inácio
Lula da Silva lançou as linhas
de seu programa de governo.
Barbosa foi um dos raros embaixadores nomeados na gestão FHC que foram mantidos
por Lula. "Fazia parte da estratégia para ganhar a confiança
do governo Bush. O presidente
Lula me manteve na embaixada para não assustar os EUA.
Se me trocassem, isso enviaria
um sinal negativo", explicou.
Barbosa ressaltou que intermediou muitos dos encontros
dos ex-ministros José Dirceu e
Antônio Palocci, inclusive
eventos relatados pelos telegramas diplomáticos norte-americanos, divulgados nesta
semana pelo jornal "Valor Econômico". "Se o Itamaraty
abrisse esses arquivos, a sociedade saberia que trabalhamos
muito mais para essa aproximação. Eu repetia o que o Palocci dizia. Houve recuperação
da credibilidade do governo".
Para ele, a "institucionalização das relações" foi peça fundamental nos contatos bilaterais. "Criamos grupos de trabalho. Em poucos meses de governo, as desconfianças acabaram". Barbosa diz que as atuais
relações bilaterais são aquém
do potencial, e que, passado o
primeiro momento, o governo
não fez muito para aprofundá-las. "As iniciativas recentes, como a parceria no etanol, foram
tomadas por Washington".
O ex-embaixador rejeitou a
versão divulgada pelos americanos de que Lula teria prometido "conter" a retórica antiamericana do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
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