São Paulo, quarta, 11 de junho de 1997.



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JANIO DE FREITAS
O que cabe a cada um

Último tribuno do Senado, senão mesmo do Congresso, e político ainda fiel à velha cepa dos que batalharam pela democracia desde os primeiros arreganhos da ditadura, o senador Pedro Simon promete para hoje mais um acréscimo ao confronto que, pondo contra a sua inteligência as iras do senador Antonio Carlos Magalhães e logo a de Fernando Henrique Cardoso, criou um fato vivo na política mumificada pelo servilismo e vileza da ofensiva reeleitoral.
É ainda a ironia bem-humorada que levará Simon a pedir a Fernando Henrique para não faltar com a obrigação de responder, como ministro de Itamar Franco e por ele escolhido para candidato à Presidência, às acusações de corrupção reiteradas por Antonio Carlos Magalhães ao governo passado.
O novo capítulo, porém, não encerra os anteriores, dada a sua peculiaridade de serem inapagáveis. Não se devem a eles, na verdade, as ferozes agressões pessoais de Antonio Carlos, como pretensa resposta à entrevista de Simon, ao Jô Soares, dando Fernando Henrique como tutelado dos Magalhães, pai e filho, e do PFL.
A ferocidade de Antonio Carlos data ainda da ocasião em que, tendo acusado o governo Itamar de práticas corruptas na Bahia, foi convidado pelo então presidente a transmiti-las em audiência no Planalto. Lá chegando, Antonio Carlos encontrou o gabinete presidencial repleto de jornalistas, à espera de suas prometidas revelações. Que, é claro, evaporaram.
Sem os repórteres, Antonio Carlos estaria em condições de sair da audiência com uma narrativa, para uso dos repórteres, ficcional e vangloriante. A presença dos repórteres é atribuída a Pedro Simon por Antonio Carlos, cujo ódio se explica por este conceito do ridículo feito pelo senador baiano em sua recente agressão ao senador gaúcho: "o ridículo, já foi dito com propriedade, é pior do que a desonra". A honra parece aí muito barata, mas não há como discutir o apreço de cada um pela sua.
Não bastando a motivação pessoal e o seu estilo, ou falta de, o pretenso teor político da resposta de Antonio Carlos também não lhe deixou a margem a mais do que agressões. Nem ele nem qualquer outro tem com que contestar a evidência concreta de que o PFL é o próprio poder, neste governo. E, na mesma medida, de que Antonio Carlos, Inocêncio de Oliveira e Luís Eduardo Magalhães são, a um só tempo, condutores do PFL e orientadores-operadores de todas as ações políticas de Fernando Henrique. Em dois anos e meio de governo, não se registra um só caso em que Fernando Henrique enveredasse por decisão, tática ou ato governamental que o PFL e, em particular, aqueles três pefelistas recusassem.
Foi uma escolha, e não de agora, feita por Fernando Henrique. Por ele e por seus apoiadores explicada, na campanha, como aliança necessária ao êxito eleitoral. No governo, deixou de uma ser aliança e se tornou associação, predominante sobre os demais partidos ditos governistas e sobre o PSDB mesmo. E para o seu objetivo, que é prolongar-se no poder, Fernando Henrique fez uma escolha acertada. Com os outros objetivos, e mesmo juntando a eles o atual, outras escolhas seriam possíveis. Mas, para o pretendido, o PFL é mesmo o partido que sabe criar e operar os arranjos, e nenhum o iguala na ocupação utilitária dos espaços governamentais, por intermédio de cargos e da máquina administrativa.
O que o senador Pedro Simon tem feito é, apenas, reconhecer ao PFL o que é do PFL -e a Fernando Henrique o restante.



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