São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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ALÉM DA CONVENÇÃO

Colírio para o trabalhismo

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA

A bolsa de couro preto Prada, em repouso em cima da mesa, destoava no ambiente do ginásio da Estação Atlética Ferroviária de Pindamonhangaba. Lotado de políticos robustos, mal arejado por ventiladores de teto que giravam em ritmo lento, o lugar foi decorado com corbeilles de flores do campo amassadas em minutos com o movimento de fotógrafos.
A dona da bolsa Prada era a ex-quase-vice de Ciro Gomes, Sônia Santos, 38. Ela e Patrícia Pillar, 38, eventual-futura-primeira-dama, eram as duas únicas possibilidades de alívio para os olhos de quem não está acostumado a aridez das convenções políticas.
De terno grafite e escarpins de bico fino de crocodilo, a vereadora gaúcha, uma morena estilo Ana Paula Padrão, sentou-se em uma das extremidades da mesa, ao lado do deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho, cujos quilinhos a mais estavam reforçados por um terno creme.
Sônia não discursou. Sorriu bastante, ganhou vários abraços e beijos de correligionários. "Você está ótima", diziam. Mãe de três filhos que ela mostra orgulhosa em uma foto, Sônia não está mais casada, mas mantém no dedo anular esquerdo duas alianças, uma de ouro, outra de diamante. "Política, você sabe, é um feudo masculino. Postura é tudo..."
Patrícia Pillar preferiu apostar na simplicidade. Com um conjunto de calça e blusa pretos e, por cima, uma camisa sintética azul aberta, ela se deixou tocar pelas fãs, distribuiu autógrafos e sorriu mesmo ao ouvir comentários como o de Célia Ribeiro, 47.
"Por duas vezes já fiquei carequinha como você. Pode acreditar, seu cabelo vai crescer. Toca no meu para você ver." Ela tocou.
Na hora da convenção, Patrícia não fez questão de se sentar ao lado do namorado nem mesmo quando Fleury ofereceu o lugar. De pé, na platéia, ela sorria, a cabeça inclinada, uma expressão de admiração mesmo nos momentos mais monótonos do discurso. "Para mim é muito prazeroso estar aqui", disse.
Parecia mesmo. Durante a fala de Leonel Brizola, ela era a imagem da ternura, rindo das metáforas como se estivesse ouvindo anedotas contadas por um tio. Manteve-se atenta mesmo quando Brizola leu a carta-testamento de Getúlio Vargas e, no fim, engrossou e aplaudiu o coro de "Viva Getúlio" puxado pelo gaúcho.
"Tenho uma capacidade de me comunicar muito grande, nunca fui inibido, e sei perceber no auditório onde está o nível em que se encontra o entendimento. Uso muito parábolas", dizia Brizola.
Fim da convenção. Patrícia se adianta em direção à mesa e um pelotão de fotógrafos a acompanha. Ela dá um beijo em Ciro Gomes, estende a mão para o vice Paulo Pereira da Silva, que a beija, e sopra um beijo de palma de mão para Leonel Brizola. Os flashes disparam, em busca da foto da primeira página. Viva Patrícia.



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