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ALÉM DA CONVENÇÃO
Colírio para o trabalhismo
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA
A bolsa de couro preto Prada,
em repouso em cima da mesa,
destoava no ambiente do ginásio
da Estação Atlética Ferroviária de
Pindamonhangaba. Lotado de
políticos robustos, mal arejado
por ventiladores de teto que giravam em ritmo lento, o lugar foi
decorado com corbeilles de flores
do campo amassadas em minutos
com o movimento de fotógrafos.
A dona da bolsa Prada era a ex-quase-vice de Ciro Gomes, Sônia
Santos, 38. Ela e Patrícia Pillar, 38,
eventual-futura-primeira-dama,
eram as duas únicas possibilidades de alívio para os olhos de
quem não está acostumado a aridez das convenções políticas.
De terno grafite e escarpins de
bico fino de crocodilo, a vereadora gaúcha, uma morena estilo Ana
Paula Padrão, sentou-se em uma
das extremidades da mesa, ao lado do deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho, cujos quilinhos a mais estavam reforçados
por um terno creme.
Sônia não discursou. Sorriu
bastante, ganhou vários abraços e
beijos de correligionários. "Você
está ótima", diziam. Mãe de três
filhos que ela mostra orgulhosa
em uma foto, Sônia não está mais
casada, mas mantém no dedo
anular esquerdo duas alianças,
uma de ouro, outra de diamante.
"Política, você sabe, é um feudo
masculino. Postura é tudo..."
Patrícia Pillar preferiu apostar
na simplicidade. Com um conjunto de calça e blusa pretos e, por
cima, uma camisa sintética azul
aberta, ela se deixou tocar pelas
fãs, distribuiu autógrafos e sorriu
mesmo ao ouvir comentários como o de Célia Ribeiro, 47.
"Por duas vezes já fiquei carequinha como você. Pode acreditar, seu cabelo vai crescer. Toca no
meu para você ver." Ela tocou.
Na hora da convenção, Patrícia
não fez questão de se sentar ao lado do namorado nem mesmo
quando Fleury ofereceu o lugar.
De pé, na platéia, ela sorria, a cabeça inclinada, uma expressão de
admiração mesmo nos momentos mais monótonos do discurso.
"Para mim é muito prazeroso estar aqui", disse.
Parecia mesmo. Durante a fala
de Leonel Brizola, ela era a imagem da ternura, rindo das metáforas como se estivesse ouvindo
anedotas contadas por um tio.
Manteve-se atenta mesmo quando Brizola leu a carta-testamento
de Getúlio Vargas e, no fim, engrossou e aplaudiu o coro de "Viva Getúlio" puxado pelo gaúcho.
"Tenho uma capacidade de me
comunicar muito grande, nunca
fui inibido, e sei perceber no auditório onde está o nível em que se
encontra o entendimento. Uso
muito parábolas", dizia Brizola.
Fim da convenção. Patrícia se
adianta em direção à mesa e um
pelotão de fotógrafos a acompanha. Ela dá um beijo em Ciro Gomes, estende a mão para o vice
Paulo Pereira da Silva, que a beija,
e sopra um beijo de palma de mão
para Leonel Brizola. Os flashes
disparam, em busca da foto da
primeira página. Viva Patrícia.
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