São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Setores da cúpula afirmam que investigação sobre vida de vice de Ciro pode prejudicar imagem da central

Força teme dano com indicação de Paulinho

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Setores da Força Sindical estão preocupados com a indicação de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, como vice de Ciro Gomes (PPS) acabar prejudicando a própria central. Segundo apurou a Folha com lideranças da Força, espera-se uma ampla investigação na vida de Paulinho pela imprensa, inclusive com o surgimento de dossiês preparados por adversários.
Na central, é praticamente unânime o sentimento de solidariedade com Paulinho, que assumiu a presidência da Força Sindical em 1998. Reservadamente, algumas lideranças da entidade dizem que mesmo eventuais denúncias que se provem inconsistentes ou requentadas deverão ser amplificadas em virtude da nova projeção do presidente da Força.
O receio é que o desgaste acabe respingando na central, debilitando-a justamente no momento em que a principal rival, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), declara apoio ao PT de Luiz Inácio Lula da Silva. A Força é a segunda maior central sindical, com cerca de 1.800 sindicatos filiados.
O pior cenário seria aquele no qual Paulinho se visse obrigado a renunciar por causa de acusações -hipótese considerada improvável. Teme-se que a central acabe responsabilizada por um eventual colapso na candidatura de Ciro.
Paulinho e seu mentor político, Luiz Antônio Medeiros, têm sido alvo de acusações. O vice de Ciro, que deverá nos próximos dias passar adiante o comando da Força Sindical, foi acusado em outubro do ano passado pelo ex-assessor da entidade Wagner Cinchetto de criar um esquema de arrecadação paralela de verbas, desviando recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Já Medeiros, que atualmente é presidente do PL em São Paulo, foi acusado de ter recebido, no início dos anos 90, doações de empresários para abrir a Força Sindical, ter mantido conta ilegal em Nova York (EUA) e de ter desviado parte dos recursos em proveito próprio. Também foram apontadas, por auditoria do Tribunal de Contas da União, irregularidades em cursos de qualificação profissional mantidos pela Força e pelo governo. Medeiros e Paulinho negaram as acusações, dizendo que nada foi provado.

Saia justa
A indicação de Paulinho para vice criou uma saia justa em alguns setores da central. Calcula-se que 20% da Executiva da Força tenha simpatia por Lula, mas precisa conciliar esse compromisso com a relação pessoal com Paulinho. O caso óbvio é o de Medeiros, que já prometeu apoio a Lula e agora terá de se submeter a uma ginástica política para não melindrar seu sucessor na Força.
A Folha apurou que o deputado federal, que é presidente do PL em São Paulo, deve tentar se manter equidistante de Lula e Ciro, sem declarar explicitamente voto. Situação similar vive o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Jorge Nazareno. Apesar de integrar a Força, ele é petista de carteirinha: "Mantenho o meu apoio ao Lula, mas gostaria muito de poder votar no Paulinho", diz.
Para o provável sucessor de Paulinho no comando da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o "Juruna", a central é "plural politicamente". "A maioria dos companheiros deve seguir com Ciro, mas estamos certos de que outros apoiarão [José] Serra, [Anthony] Garotinho ou Lula. Não há problema", declara "Juruna", atual secretário-geral da entidade.
O presidente do PDT, Leonel Brizola, defendeu ontem Paulinho das acusações de uso irregular de recursos: "Ele é um homem jovem, pode até ter cometido um erro ou outro. Quem não pisa em uma casca de banana na vida política, que é complexa? A nós não impressiona isso. Ele saberá se defender e nós estaremos aí para ajudá-lo a se defender".
Para Ciro Gomes, as acusações representam "um esforço desonesto dessa gente que, não tendo proposta para o país, quer destruir candidaturas com dossiês".


Colaborou PATRICIA ZORZAN, enviada especial a Pindamonhangaba



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