São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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Diferença entre MST e MLST é só teórica, diz especialista

Marco Mitidiero diz que invasores da Câmara ainda defendem luta pelo socialismo

Autor de tese sobre o MLST avalia que a depredação foi mais um "grito" para mostrar que existem do que um ato contra o governo

PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Autor de uma tese de mestrado na USP que teve como foco o MLST (Movimento de Liberação dos Sem-Terra), o geógrafo Marco Mitidiero, 28, afirma que a diferença entre o grupo e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é apenas "teórica". Professor do departamento de geografia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), Mitidiero diz que o MLST ainda defende, na retórica, "a luta com unhas e dentes pelo socialismo". Já o MST se modernizou e pretende "transformar a sociedade". A principal referência teórica dos sem-terra do momento é o ditador chinês Mao Tse-Tung, morto em 1976. Segundo o professor, a invasão de terça-feira, que classifica como "vandalismo", não foi um ato contra o governo, mas "um grito de "existimos!'".  

FOLHA - Existe algo que diferencie o MLST de outros movimentos, como o MST? Por quê?
MARCO MITIDIERO
- Não há diferença gritante entre esses movimentos, todos lutam pela a reforma agrária e, para isso, desenvolveram uma série de estratégias de luta, como manifestações públicas, ocupações de terra, passeatas, marchas, barrar estradas, ocupação de prédios públicos, como forma de pressionar o governo a desapropriar terras improdutivas apontadas por eles. O MLST produz um discurso mais radical de luta pelo socialismo e pelo comunismo, o que o MST deixou de fazer, mas vale frisar que a diferença é só no plano teórico-discursivo, porque as principais ações desses movimentos são as ocupações de terra. O MLST, como um movimento de pequena dimensão, tem a sua organização mais centralizada, na qual as lideranças possuem fundamental importância, porque é bem menor. Apesar de dizer que estão presentes em nove Estados, só em três eles estão estruturados.

FOLHA - Qual o objetivo prático do MLST, e como esse grupo planeja atingi-lo? E qual a base teórica da cúpula da organização?
MITIDIERO
- A base teórica do MLST está nos ideólogos do socialismo-comunismo, principalmente nas teses de Mao Tse-Tung. Segundo esse pensador, a luta pela transformação da sociedade começa no campo [com os camponeses liderando] em direção à cidade. Mas de forma alguma podemos aliar os acontecimentos de Brasília como um ato do movimento com a intenção de derrubar o governo.

FOLHA - O senhor passou quatro meses convivendo intensamente com esse grupo, o que mais chamou a sua atenção?
MITIDIERO
- O que me chamou mais a atenção, já que conheço outros movimentos de luta pela terra, é a feição similar das famílias que compõe/aglutinam os movimentos, ou seja, são famílias de desempregados rurais em extrema situação de miséria, os quais encontram nos respectivos movimentos organizados a possibilidade de mudarem seus destinos.

FOLHA - Quais são, na sua opinião, as motivações dos atos de terça-feira na Câmara?
MITIDIERO
- Creio que o ato possui dois sentidos: o primeiro é o de chamar a atenção da sociedade civil e do governo para a existência desse movimento. Em outras palavras, foi um grito de "Existimos!" ou um momento de publicização do MLST. O segundo vai na direção de sacudir a administração pública num ano eleitoral, no qual, muito freqüentemente, o governo pára, isto é, as políticas públicas de apoio aos assentados não caminham, a liberação de recursos é extinta e, principalmente, os atos de desapropriações desaparecem da pauta de ações do governo.


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