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Diferença entre MST e MLST é só teórica, diz especialista
Marco Mitidiero diz que invasores da Câmara ainda defendem luta pelo socialismo
Autor de tese sobre o MLST avalia que a depredação
foi mais um "grito" para mostrar que existem do que um ato contra o governo
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Autor de uma tese de mestrado na USP que teve como foco o
MLST (Movimento de Liberação dos Sem-Terra), o geógrafo
Marco Mitidiero, 28, afirma
que a diferença entre o grupo e
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é
apenas "teórica".
Professor do departamento
de geografia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), Mitidiero diz que o MLST ainda
defende, na retórica, "a luta
com unhas e dentes pelo socialismo". Já o MST se modernizou e pretende "transformar a
sociedade". A principal referência teórica dos sem-terra do
momento é o ditador chinês
Mao Tse-Tung, morto em 1976.
Segundo o professor, a invasão de terça-feira, que classifica
como "vandalismo", não foi um
ato contra o governo, mas "um
grito de "existimos!'".
FOLHA - Existe algo que diferencie
o MLST de outros movimentos, como o MST? Por quê?
MARCO MITIDIERO - Não há diferença gritante entre esses movimentos, todos lutam pela a
reforma agrária e, para isso, desenvolveram uma série de estratégias de luta, como manifestações públicas, ocupações
de terra, passeatas, marchas,
barrar estradas, ocupação de
prédios públicos, como forma
de pressionar o governo a desapropriar terras improdutivas
apontadas por eles.
O MLST produz um discurso
mais radical de luta pelo socialismo e pelo comunismo, o que
o MST deixou de fazer, mas vale frisar que a diferença é só no
plano teórico-discursivo, porque as principais ações desses
movimentos são as ocupações
de terra. O MLST, como um
movimento de pequena dimensão, tem a sua organização mais
centralizada, na qual as lideranças possuem fundamental
importância, porque é bem menor. Apesar de dizer que estão
presentes em nove Estados, só
em três eles estão estruturados.
FOLHA - Qual o objetivo prático do
MLST, e como esse grupo planeja
atingi-lo? E qual a base teórica da cúpula da organização?
MITIDIERO - A base teórica do
MLST está nos ideólogos do socialismo-comunismo, principalmente nas teses de Mao
Tse-Tung. Segundo esse pensador, a luta pela transformação
da sociedade começa no campo
[com os camponeses liderando] em direção à cidade.
Mas de forma alguma podemos aliar os acontecimentos de
Brasília como um ato do movimento com a intenção de derrubar o governo.
FOLHA - O senhor passou quatro
meses convivendo intensamente
com esse grupo, o que mais chamou
a sua atenção?
MITIDIERO - O que me chamou
mais a atenção, já que conheço
outros movimentos de luta pela
terra, é a feição similar das famílias que compõe/aglutinam
os movimentos, ou seja, são famílias de desempregados rurais em extrema situação de miséria, os quais encontram
nos respectivos movimentos
organizados a possibilidade de
mudarem seus destinos.
FOLHA - Quais são, na sua opinião,
as motivações dos atos de terça-feira na Câmara?
MITIDIERO - Creio que o ato possui dois sentidos: o primeiro é o
de chamar a atenção da sociedade civil e do governo para a
existência desse movimento.
Em outras palavras, foi um grito de "Existimos!" ou um momento de publicização do MLST. O segundo vai na direção de sacudir a administração
pública num ano eleitoral, no
qual, muito freqüentemente, o
governo pára, isto é, as políticas
públicas de apoio aos assentados não caminham, a liberação
de recursos é extinta e, principalmente, os atos de desapropriações desaparecem da pauta
de ações do governo.
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