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CELSO PINTO
Acordo teria que ser
rápido e enxuto
O que o Banco Central imagina como ideal para um
acordo de transição com o FMI
seria algo rápido, acertado antes do primeiro turno, e enxuto.
Um "miniprograma" com alguns pontos básicos e envolvendo recursos. Os candidatos teriam que dar alguma indicação
de que aceitariam esses pontos
básicos.
Quem acompanha de perto o
FMI e a nova administração
americana vê com ceticismo a
possibilidade desse acerto ser colocado de pé. A visão de fontes
do governo, contudo, é que há
boa receptividade tanto no FMI
quanto no G-7. O mais complicado é a aceitação dos candidatos.
Condição essencial para o sucesso seria conseguir uma negociação rápida, lembra um ministro. Se a negociação demorar
e emperrar em detalhes, o tiro
pode sair pela culatra e complicar ainda mais a percepção de
risco do Brasil. Ou seja, um novo
acordo teria que ter um endosso
político claro e forte do FMI e
dos Estados Unidos.
Não é impossível obter um
acordo rápido. No ano passado,
a equipe negociadora brasileira
levou apenas dez dias, em Washington, para fechar um acordo
envolvendo US$ 15 bilhões. O essencial foi acertado em dois
dias. O resto do tempo foi tomado pelo alinhavo formal e para
contornar a pressão do então
ministro argentino da economia, Domingo Cavallo, contra o
acordo com o Brasil, alegando
que, se ele saísse, a situação de
seu país ficaria ainda mais vulnerável.
O acerto para reduzir em US$
5 bilhões o piso de reservas líquidas, há algumas semanas, foi
ainda mais rápido. Bastou uma
viagem a Washington. A razão
para a rapidez desses dois acertos é a boa reputação acumulada pelo Brasil, depois de cumprir 15 trimestres de metas com
o FMI. Em 1998, ao contrário, o
acordo só saiu depois de uma
longa negociação e de exigências detalhadas.
Este é outro ponto básico para
o sucesso de um acordo de transição. Ele não poderia envolver
anexos com exigências detalhadas de políticas, caso contrário,
poderia ser visto como interferência nos programas dos candidatos. Daí a idéia de um "miniprograma" em torno de poucos pontos básicos, já mencionados, indiretamente, pelo presidente do BC, Armínio Fraga: superávit primário mínimo de
3,75% do PIB, metas inflacionárias, respeito aos contratos e a
perspectiva de dar independência operacional ao BC no próximo ano.
Um acordo de transição com o
FMI seria um fato novo positivo
para o mercado. Alguns analistas duvidam que, por si só, pudesse reverter os exageros pessimistas. Mas, como é algo que
não está nos preços, certamente
teria algum impacto positivo.
Drausio Giacomelli, do JP
Morgan de Nova York, fez um
estudo interessante procurando
medir o que querem dizer os
preços atuais do C-Bond, o título da dívida brasileira mais líquido, e como podem evoluir.
Ele constrói três cenários: um
"básico", em que o candidato do
governo ganha e o prêmio de
risco ("spread") do C-Bond cai
dos atuais 1.500 centésimos de
porcentagem acima do título do
Tesouro americano, para 800
pontos.
No segundo cenário, prevalece
a incerteza, os mercados "testam" o novo governo, que procura dar uma resposta conservadora, sem moratória. O
"spread" chegaria a 1.800 pontos, nível comparável ao do período pós-desvalorização, em
1999. No terceiro cenário, o pior,
o mercado aposta numa moratória e o "spread" subiria a
5.000 pontos, com duas variantes. Na primeira hipótese, o mercado esperaria uma moratória
logo depois das eleições, no final
do ano. Na segunda, lembrando
que na Argentina a agonia foi
lenta e o "spread" levou nove
meses para subir de 1.200 para
5.000 pontos, a aposta seria numa moratória em 12 meses. A
partir desses cenários, ele construiu um modelo para medir o
que os preços hoje do C-Bond
querem dizer, implicitamente,
em termos de probabilidade do
cenário eleitoral.
O JP Morgan tem sua própria
aposta: as chances de o candidato do governo ganhar e o melhor
cenário prevalecer são de 65%.
Só que, no modelo feito por Giacomelli, com esta probabilidade,
e imaginando que o pior cenário seria de um "teste" ("spread"
de 1.800 pontos), o preço "justo"
do C-Bond deveria ser de US$
0,70, e não de US$ 0,60, como está hoje.
Testando o preço atual do C-Bond no segundo cenário, ele
implica numa aposta de que há
mais de 70% de risco de ocorrer
uma moratória em seis meses,
com o "spread" subindo para
5.000 pontos, e só 30% de chances de prevalecer o cenário positivo. Testando o preço atual no
terceiro cenário, ele implica em
imaginar que há dois terços de
chances de ocorrer uma moratória em 12 meses.
Obviamente, cada investidor
tem sua própria aposta no resultado eleitoral e no risco de se
chegar a uma moratória. O que
o modelo de Giacomelli mostra
é que, quem ainda imagina que
o candidato do governo tem
50% a 70% de chances de ganhar, como muita gente no mercado acha, deveria comprar C-Bond: o preço "justo" seria entre
US$ 0,65 e US$ 0,72, e não US$
0,60. Ou seja, pode estar havendo, de fato, um pessimismo exagerado nos preços. Se o melhor
cenário prevalecer, a valorização do papel deve ser bastante
significativa.
Giacomelli fez também uma
análise da dinâmica da dívida
líquida do setor público. Mostrou que, com um superávit primário de 3,6% do PIB, é possível
estabilizá-la em relação ao PIB,
embora o país continue vulnerável a choques externos. A dívida é sensível aos juros de curto
prazo e ao câmbio, mas a variável decisiva é o superávit primário. Se ele cair para 1,5% do PIB,
por exemplo, a trajetória da dívida fica explosiva: em dez anos
sobe para 80% do PIB. Com
4,5% de superávit primário, a
dívida cai para 45% do PIB em
dez anos.
A conclusão final é que os preços continuarão voláteis até a
eleição, mas as chances de se
chegar a uma moratória ainda
sob a atual administração são
muito pequenas.
E-mail:
CelPinto@uol.com.br
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