São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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Sucessor encontrará um "mundo péssimo"

DO COLUNISTA DA FOLHA

O presidente que assumir no lugar de Fernando Henrique Cardoso em 2003 vai encontrar "um mundo que está mal e vai ficar péssimo", na avaliação de Paulo Rabello de Castro, vice-presidente do Instituto Atlântico (RJ).
O economista ainda brincou: "Não é o fim do capitalismo, mas é o fim do hiperendividamento norte-americano".
Não é, obviamente, o melhor dos cenários para um governo que se está instalando, ainda mais que, como é óbvio, não terá "controle algum" sobre a situação, como diz Rabello de Castro.
Ainda assim, ele acha que pode haver uma vantagem para o país: "Vamos poder fazer as coisas à nossa moda".
Por essa razão, entre outras, é que Rabello de Castro rejeita o recurso ao FMI (Fundo Monetário Internacional), recomendado por exemplo pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, como o melhor caminho para efetuar a transição para um novo governo.
"O FMI é um pouco como analgésico, que não nos deixa sentir a dor que talvez devêssemos sentir para saber melhor onde estamos", compara o economista.
João Sayad trouxe ao debate outra dor de cabeça externa, a Argentina, com a tese de que o Brasil precisa "abraçar a Argentina".
Para o secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo, o Brasil "não pode imaginar que a trajetória de crescimento possa ser feita de costas para a Argentina".
Tampouco pode ser feita, sempre segundo Sayad, de costas para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas, que deve englobar os 34 países americanos, excluída apenas Cuba).
"Não podemos correr o risco de ser uma Albânia na América Latina", diz Sayad. É uma alusão ao fato de que esse país, o mais pobre da Europa, era também o mais fechado no tempo dos regimes comunistas no Leste europeu.

Alca
A Alca prevê a abertura dos mercados dos países americanos, o que significa que o Brasil, se ficar de fora, corre o risco de perder fatias de mercado nos seus vizinhos todos, a serem potencialmente invadidos pela produção norte-americana.
"O fato de não concordarmos com a Alca não significa dar-lhe as costas", diz Sayad.
Luiz Carlos Mendonça de Barros já havia deixado o debate quando a questão interna entrou na discussão, porque tinha um almoço agendado. Mas, antes, também tocara nos problemas externos da economia brasileira.
Primeiro, repetiu uma constatação que tem virtual unanimidade entre economistas: "O Brasil não pode ter 4% do PIB como déficit em conta corrente" (é a conta que mede as transações de um país com o exterior, como proporção de seu Produto Interno Bruto, medida da produção de bens e serviços).
Depois, defendeu não só o aumento das exportações, outro virtual consenso, mas também "diminuir o coeficiente de importação, que é uma forma menos agressiva de política industrial".
Nesse ponto, Mendonça de Barros assumiu o que é óbvio (sua torcida pelo candidato tucano à Presidência, José Serra, que, segundo ele, "encarna essa posição pela sua própria natureza").
Mas, ao mesmo tempo, deixou escapar dúvidas sobre o futuro eleitoral de Serra: "Como não está fácil com ele, precisamos trabalhar para convencer o outro lado" (no caso, o lado do PT capaz de incorporar tais teses).
(CLÓVIS ROSSI)



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