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Sucessor encontrará
um "mundo péssimo"
DO COLUNISTA DA FOLHA
O presidente que assumir no lugar de Fernando Henrique Cardoso em 2003 vai encontrar "um
mundo que está mal e vai ficar
péssimo", na avaliação de Paulo
Rabello de Castro, vice-presidente do Instituto Atlântico (RJ).
O economista ainda brincou:
"Não é o fim do capitalismo, mas
é o fim do hiperendividamento
norte-americano".
Não é, obviamente, o melhor
dos cenários para um governo
que se está instalando, ainda mais
que, como é óbvio, não terá "controle algum" sobre a situação, como diz Rabello de Castro.
Ainda assim, ele acha que pode
haver uma vantagem para o país:
"Vamos poder fazer as coisas à
nossa moda".
Por essa razão, entre outras, é
que Rabello de Castro rejeita o recurso ao FMI (Fundo Monetário
Internacional), recomendado por
exemplo pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, como o melhor
caminho para efetuar a transição
para um novo governo.
"O FMI é um pouco como analgésico, que não nos deixa sentir a
dor que talvez devêssemos sentir
para saber melhor onde estamos", compara o economista.
João Sayad trouxe ao debate outra dor de cabeça externa, a Argentina, com a tese de que o Brasil
precisa "abraçar a Argentina".
Para o secretário de Finanças da
Prefeitura de São Paulo, o Brasil
"não pode imaginar que a trajetória de crescimento possa ser feita
de costas para a Argentina".
Tampouco pode ser feita, sempre segundo Sayad, de costas para
a Alca (Área de Livre Comércio
das Américas, que deve englobar
os 34 países americanos, excluída
apenas Cuba).
"Não podemos correr o risco de
ser uma Albânia na América Latina", diz Sayad. É uma alusão ao
fato de que esse país, o mais pobre
da Europa, era também o mais fechado no tempo dos regimes comunistas no Leste europeu.
Alca
A Alca prevê a abertura dos
mercados dos países americanos,
o que significa que o Brasil, se ficar de fora, corre o risco de perder
fatias de mercado nos seus vizinhos todos, a serem potencialmente invadidos pela produção
norte-americana.
"O fato de não concordarmos
com a Alca não significa dar-lhe
as costas", diz Sayad.
Luiz Carlos Mendonça de Barros já havia deixado o debate
quando a questão interna entrou
na discussão, porque tinha um almoço agendado. Mas, antes, também tocara nos problemas externos da economia brasileira.
Primeiro, repetiu uma constatação que tem virtual unanimidade
entre economistas: "O Brasil não
pode ter 4% do PIB como déficit
em conta corrente" (é a conta que
mede as transações de um país
com o exterior, como proporção
de seu Produto Interno Bruto,
medida da produção de bens e
serviços).
Depois, defendeu não só o aumento das exportações, outro virtual consenso, mas também "diminuir o coeficiente de importação, que é uma forma menos
agressiva de política industrial".
Nesse ponto, Mendonça de Barros assumiu o que é óbvio (sua
torcida pelo candidato tucano à
Presidência, José Serra, que, segundo ele, "encarna essa posição
pela sua própria natureza").
Mas, ao mesmo tempo, deixou
escapar dúvidas sobre o futuro
eleitoral de Serra: "Como não está
fácil com ele, precisamos trabalhar para convencer o outro lado"
(no caso, o lado do PT capaz de
incorporar tais teses).
(CLÓVIS ROSSI)
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