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Importância do Estado
volta a ser valorizada
DO COLUNISTA DA FOLHA
O debate de ontem transitou
também por uma questão que parece vencida: as vantagens e desvantagens da privatização.
João Sayad provocou: "O Brasil
tem mais celulares não porque
privatizou [as teles", mas porque
o mundo inteiro tem mais celulares". Luiz Carlos Mendonça de
Barros, que comandou justamente a privatização das teles, reagiu:
"Esse mundo teórico, ideológico,
das estatais não é real. No Brasil,
89% dos telefones eram das classes A e B. Que diabo de estatal é
essa, que concentra renda?".
Para o ex-ministro, "o Estado
não é o diabo, mas também não é
a salvação. É parte do problema e
parte da solução".
Rabello de Castro aproveitou a
divergência sobre o papel do Estado para introduzir o seu tema favorito. Criticou a privatização feita pelo governo FHC, não por ela
em si, mas por ter sido feita de
"forma excludente".
Rabello de Castro defende a tese
da "privatização democrática",
por meio do uso do FGTS (Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço). Os trabalhadores teriam direito a usar os recursos de seu fundo para comprar, por exemplo,
ações da Petrobras ou de qualquer outra estatal.
Pérsio Arida, quando presidente do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), chegou a comprar a tese,
mas saiu do governo antes de introduzi-la de fato. "Continua sendo a única fórmula para este
país", defende Rabello de Castro,
alegando que falta poupança para
os investimentos necessários a
um crescimento de 5% ao ano,
que seria a sua meta, se fosse fazer
um plano de governo (até fez,
aliás, mas arquivado porque o
PFL, que o encomendou, não tem
candidato presidencial).
Sayad cita sua experiência na
Prefeitura de São Paulo para defender uma maior presença do
Estado. "A prefeitura é muito menor que as necessidades da cidade
de São Paulo", diz.
Estatais
Embora crítico de FHC, Sayad
usa argumento que é muito semelhante ao que o presidente tem esgrimido junto ao FMI no que se
refere ao investimento de estatais.
Sayad lembra que, no governo
Sarney, a Telebrás tinha "capacidade técnica, dinheiro e demanda, mas o ministro da Fazenda, na
época Francisco Dornelles, não a
deixava investir porque o investimento era contabilizado como
déficit público pelo FMI".
Fernando Henrique Cardoso
tem trabalhado para derrubar essa conceituação, exatamente para
aumentar a capacidade de investimento das estatais na hora em
que é preciso conter gastos.
Rabello de Castro, coerente com
seu liberalismo, critica o déficit
público, menos por ele em si e
mais pelo que chama de "gastança pública". Vai contra o senso
comum, que diz que o Brasil é um
país que gasta pouco e gasta mal,
especialmente na área social.
"O Brasil gasta muito e de forma
perdulária", afirma, para defender que o corte da gastança "é a
verdadeira renegociação a ser feita", em vez da renegociação da dívida pública, que está no ar em comentários tanto da mídia como
de analistas financeiros.
Sayad, de seu lado, ataca outro
vocábulo (risco-país) que se incorporou às análises tanto econômicas como político-eleitorais.
Para ele, o verdadeiro risco-Brasil é o fato de que "dois terços da
pobreza brasileira está hoje nas
grandes cidades, formadas por
bairros que não têm ruas, jovens
que não têm horizontes".
(CLÓVIS ROSSI)
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