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País entra no ranking que mede pobreza
da Reportagem Local
O Brasil é o 19º, entre 92 países
em desenvolvimento, com menor
Índice de Pobreza Humana. É a
primeira vez que o país entra no
ranking do IPH na ONU.
Ao contrário do IDH, quanto
mais alto o índice de pobreza, pior
a classificação do país no IPH.
Segundo o relatório de 1999 do
Pnud, 15,8% da população brasileira -ou 26 milhões de pessoas- não tem acesso às condições mínimas de saúde, educação
e serviços básicos.
Esse valor, de 15,8%, é uma média de vários indicadores: em
1997, 11,5% dos brasileiros morriam antes de chegar aos 40 anos,
16% são analfabetos, 24% não
têm acesso a água potável, e 30%
estão privados de esgoto.
Em relação aos outros países em
desenvolvimento, a colocação do
Brasil é melhor do que no ranking
do IDH. Mas isso não impede, por
exemplo, que o país continue com
o título de pior distribuição de
renda do planeta.
Os dados do relatório de 1999
são os mesmos do ano anterior e
referem-se à média de 1980 a 1994.
Ressalvas à parte, o Brasil continua campeão em concentração de
renda: o PIB per capita dos 20%
mais ricos (US$ 18,563,00) é 32 vezes maior do que o dos 20% mais
pobres (US$ 578,00).
Dados mais recentes citados pelo relatório apontam na mesma
direção, como os do relatório de
1998 do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O coeficiente de Gini (que mede
a desigualdade de renda) do Brasil é o pior entre países latino-americanos: 0,59 -só igualado
pelo do Paraguai.
Isso porque os 20% mais pobres
ficam com apenas 2,5% da renda,
enquanto que os 20% mais ricos
detêm 63,4% dela.
"No Brasil, Chile e México a desigualdade de renda piorou nos
anos 80, mas essa tendência parou nos anos 90", diz o Pnud.
Um dos aspectos mais interessantes revelados pelos dados que
estão no relatório de 1999 é que o
crescimento econômico não está
necessariamente ligado à melhoria da qualidade de vida da população.
Entre 1975 e 1997, o PIB per capita brasileiro cresceu mais rapidamente que o Índice de Desenvolvimento Humano do país:
1,1% ao ano, contra 0,7% -segundo dados do relatório.
Em outras palavras, o país enriqueceu, mas não conseguiu transformar essa riqueza em maior expectativa de vida e alfabetização
para a população. Ao menos não
na mesma velocidade.
Essa correlação mudou através
das décadas.
Nos anos 70, a renda nacional
cresceu quatro vezes mais rápido
do que o desenvolvimento humano. Nos 80, a tendência se inverteu, e os ganhos sociais superaram os econômicos.
Até agora, a tendência verificada nos 90 é semelhante à do final
do milagre econômico.
A renda voltou a crescer mais
rápido do que o lado social: o PIB
per capita do país aumentou
1,13% em média por ano, enquanto o IDH subiu à taxa anual de
0,61%.
Dos 92 países em desenvolvimento que estão no ranking do
Índice de Pobreza Humana, o
mais bem-sucedido é Barbados.
Apenas 2,6% da população dessa
pequena ilha caribenha vivem sob
as condições de privação previstas pelo IPH.
Em outras palavras, só 3,2% de
seus 300 mil habitantes morrem
antes de completar 40 anos, apenas 2,4% são analfabetos e não há
ninguém sem água potável e esgoto.
No extremo oposto está Níger,
na África. Nada menos do que
65,5% de seus habitantes vivem
em privação. São 6,4 milhões de
pessoas. O analfabetismo é o mais
alto do mundo: 85,7% da população não sabe ler nem escrever.
Além disso, 83% não têm esgoto, e 52% estão privados de acesso
a água potável. O resultado é que
35,7% nos nigerinos não devem
chegar aos 40 anos de idade.
As diferenças entre países em
desenvolvimento e países desenvolvidos é tão grande que o Pnud
estabeleceu duas formas diferentes de medir a pobreza.
No caso dos países industrializados, o melhor desempenho é da
Suécia. Apenas 7% de seus habitantes, em média, se enquadram
nas condições de privação previstas: só 8,7% dos suecos não devem atingir os 60 anos, e apenas
6,7% têm renda inferior à metade
da renda média da população.
O pior desempenho entre os 17
países ricos é o dos EUA: 16,5% da
população sofre privações.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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